quinta-feira, 7 de junho de 2018

ENTREVISTAS

Jun Arias me conta: entrevistou os mais maravilhosos personagens do Século XX na Itália.
Não levava gravador, anotava tudo.
Se tivesse gravado, hoje poderíamos ouvir as vozes de Fellini, Calvino, Pasolini e tantos outros
Mas se lembra de cada detalhe das conversas e posso visualizar o que me conta.
Acompanhei Juan em algumas entrevistas aqui no Brasil : Milton Nascimento e João Ubaldo. Também me lembro de tudo, como se fosse um filme.
Juan fez uma coleção de livros de entrevistas também e pude estar presente em dois, o do Saramago e do Paulo Coelho. Quando fez o do Fernando Savater ainda não o conhecia.
Eram entrevistas longas, que duravam cinco dias e a convivência com o autor se tornava estreita e íntima.
Juan é um grande entrevistador.
Quando chegamos à casa do Saramago, ele já tinha nas mãos um esboço do que seria feito e toda a sua biografia que Juan havia recolhido de outras entrevistas e aqui e ali, na internet.
Pilar nos recebeu e nos sentamos os quatro à mesa para um café. Com os papéis na mão Saramago disse: - Quantas besteiras ao meu respeito! Juan respondeu: - Tudo isso se diz. Agora você vai poder corrigir tudo o que quiser.
E assim foi.
Quando Juan fez a primeira pergunta a Fellini: "Como nascem os seus títulos?" Ele respondeu: "Mas que pergunta idiota"
Juan disse que a pergunta podia ser idiota, mas a resposta certamente seria maravilhosa. E foi, ele me diz.
Não me canso de ouvir enquanto caminhamos pelas ruas de dentro do bairro, aqui em Saquarema, tantos anos depois, num dia cinzento de junho, no Século XXI.

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