terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FIM

Já que no dia 21 de dezembro o mundo vai acabar, convém sorver toda a beleza possível com sofreguidão, acreditar com muita força que todos os problemas insolúveis do planeta serão resolvidos a tempo, que não haverá mais fome, que a poesia, como a flor que brota entre as frestas do cimento , estará ao alcance de todos, basta parar e soprar as suas pétalas . Já que no dia 21 de dezembro o mundo vai acabar, convém dizer eu te amo a todas as pessoas que amamos e trocar corações com os amigos. Convém avivar a nossa chama .
E para o fim do mundo o poema FIM de Murilo Mendes:

Eu existo para assistir ao fim do mundo.
Não há outro espetáculo que me invoque.
Será uma festa prodigiosa, a única festa.
Ó meus amigos e comunicantes,
tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.

Eu preciso assistir ao fim do mundo
para saber o que Deus quer comigo e com todos
a para saciar minha sede de teatro.
Preciso assistir ao julgamento universal,
ouvir os coros imensos,
as lamentações e as queixas de todos,
desde Adão até o último homem.

Eu existo para assistir ao fim do mundo,
eu existo para a visão beatífica.

Murilo Mendes, in Os Melhores Poemas e Canções Contra o Tédio, ed. Objetiva

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