Aldo José Brasil de Lima me pediu um texto inédito para o seu blog, o Blog do Aldo.
Coo o texto já foi publicado, já posso colocar no meu próprio blog.
ESPELHO
Busco no espelho, como no conto do Guimarães Rosa, a minha alma.
Quem sou verdadeiramente, retirando a pele e os ossos?
Tenho 64 anos e um corpo que atravessou vendavais e sobreviveu. Um corpo marcado pela vida com todas as suas idas e vindas.
O espelho me mostra a superfície: uma bela senhora de olhos acesos.
Mas por dentro é outra coisa. Tantas idades coexistem dentro de mim!
Sou uma adolescente, sentada no chão, de pernas cruzadas, querendo
adivinhar o tempo. Felizmente, descobri o dom da poesia e do olhar, o
meu dom.
E já não preciso adivinhar o tempo, porque hoje sei que o tempo não
passa, somos nós que passamos e vamos vivendo o que nos vai
acontecendo, as surpresas. Então posso conversar com a adolescente
inquieta e apaziguá-la.
Mas se o espelho pudesse mostrar a minha alma, mostraria a criança
que fui, a jovem, a velha, todas juntas, bem amarradas, como um feixe de
girassóis.
Hoje, nós, humanos, vivemos muito. Podemos até nos aposentar do
trabalho obrigatório, mas não da vida, das paixões, dos sonhos, que é o
que nos move. Não podemos aposentar os milagres, eles continuam
existindo até o último segundo.
Descobrir os nossos dons é uma tarefa obrigatória para que nossa
usina interna de alegria possa funcionar. Então não importa se temos
vinte, trinta, sessenta, oitenta anos, a vida será sempre uma aventura.
Roseana Murray, 16 de abril, Saquarema
sábado, 18 de abril de 2015
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