sexta-feira, 4 de março de 2016

DESCOBERTAS

Vamos então falar de poesia, hoje, muito necessária, com todos os ânimos e humores exaltados. Que cada um prove a sua inocência nesse oceano de lama. Basta isso. Provar a inocência.

Todos sabemos, que tudo já foi escrito, não há nada de novo. O que muda é o olhar do poeta, seu jeito de respirar, de ver o mundo, de se emocionar com o mundo.
Para mim um poema vale quando me dá um choque, essa é a minha medida, um curto circuito de emoção. Experiências formais nunca me emocionaram.Quanto mais inesperada é uma imagem, maior a emoção. A poesia é um grande mistério, pois é música sem ser música.
Um dos poetas que me acompanham desde os 20 anos é Neruda, que descobri através de uma chilena que hospedei, pois chegou ao Brasil fugida do golpe no Chile. Ela me apresentou os 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada em espanhol, língua que falo e amo .(Segundo meu neto espanhol eu falo mal, ele detesta o meu acento!)
De Neruda só não gosto dos poemas políticos, daqueles que estão servindo a uma ideologia. Os de amor são insuperáveis.

ARTES POÉTICAS (II)

No he descubierto nada yo,
ya todo estaba descubierto
cuando pasé por este mundo.
Si regreso por estos lados
les pido a los descobridores
que me guarden alguna cosa,
un volcán que no tenga nombre,
un madrigal desconocido,
la raíz de um rio secreto.

Fui siempre tan aventurero
que nunca tuve una aventura
y las cosas que descubrí
estaban dentro de mí mismo,
de tal modo que defraudé
a Juan, a Pedro y a María,
porque por más que me esforcé
no pude salir de mi casa.

Contemplé con envidia intensa
la inseminación incesante,
el ciclo de los sateloides,
la añadidura de esqueletos,
y en la pintura vi pasar
tantas maneras fascinantes
que apenas me puse a la moda
ya aquella moda no existía.

( Isla Negra, 1969) Fin de Mundo.

Maneira linda de Neruda dizer que está tudo dentro da gente e que às vezes modismos frívolos são passageiros e nada como a raíz de um rio secreto.


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