quarta-feira, 16 de março de 2016

GRITO E SILÊNCIO

Ferreira Gullar é meu poeta mais do que amado. Sem saber, com o seu Poema Sujo, ele me deu licença para escrever poesia.
Peço então licença poética para dizer o que vou dizer: temos dois poemas que se complementam. O dele está no livro Muitas Vozes. O meu está no livro Poesia Essencial. Quando escrevi meu poema, não conhecia o seu, escrevi muito antes que saísse o livro Muitas Vozes.

INFINITO SILÊNCIO

houve
   (há)
um enorme silêncio
anterior ao nascimento das estrelas

   antes da luz

   a matéria da matéria

de onde tudo vem incessante e onde
     tudo se apaga
     eternamente

esse silêncio
     grita sob nossa vida
     e de ponta a ponta
     a atravessa
                      estridente

Ferreira Gullar, in Muitas Vozes


GRITO

a única certeza que me cabe
quando olho minhas mãos
que envelhecem comigo
embora às vezes pareçam
tão separadas do corpo
pássaros que tivessem perdido
todo o resto do bando
a única certeza é de que o grito
que nasce com cada um
o primeiro grito
tem que ser ouvido
com seu timbre ainda impregnado
de infinito e dores ancestrais
e esse grito se espalha
em tudo que se faz

in Poesia Essencial

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