Ferreira Gullar é meu poeta mais do que amado. Sem saber, com o seu Poema Sujo, ele me deu licença para escrever poesia.
Peço então licença poética para dizer o que vou dizer: temos dois poemas que se complementam. O dele está no livro Muitas Vozes. O meu está no livro Poesia Essencial. Quando escrevi meu poema, não conhecia o seu, escrevi muito antes que saísse o livro Muitas Vozes.
INFINITO SILÊNCIO
houve
(há)
um enorme silêncio
anterior ao nascimento das estrelas
antes da luz
a matéria da matéria
de onde tudo vem incessante e onde
tudo se apaga
eternamente
esse silêncio
grita sob nossa vida
e de ponta a ponta
a atravessa
estridente
Ferreira Gullar, in Muitas Vozes
GRITO
a única certeza que me cabe
quando olho minhas mãos
que envelhecem comigo
embora às vezes pareçam
tão separadas do corpo
pássaros que tivessem perdido
todo o resto do bando
a única certeza é de que o grito
que nasce com cada um
o primeiro grito
tem que ser ouvido
com seu timbre ainda impregnado
de infinito e dores ancestrais
e esse grito se espalha
em tudo que se faz
in Poesia Essencial
quarta-feira, 16 de março de 2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário