domingo, 18 de dezembro de 2016

E TUDO VOA

E tudo voa ao meu redor. Borges disse numa entrevista e escrevi dentro de mim: Para o escritor a vida é a sua matéria prima, então nada pode ser descartado. Nem alegrias nem tristezas, nem momentos sublimes, nem momentos da mais profunda dor.
E eu voo junto, já que a Terra não está parada. Tudo sempre em movimento.
Apanho em pleno voo uma palavra, uma imagem, uma sensação, uma lembrança, um sentimento e faço o poema. Que às vezes se comporta como um gato:  vem quando não chamo e quando chamo não vem.
Em algumas épocas duras da minha vida escrevi muito e isso me ajudou. Em outras a poesia me desabitava e tudo ficava muito pior.
O poema é um jeito de respirar? É o meu diafragma, existe dentro de mim mesmo quando não é escrito?
Li e me apaixonei quando tinha 23 anos pelo poeta Jules Supervieille, porque ele retira todas as coisas do chão. Mesmo a sua rua em Paris, Boulevard Lanne, vai parar no céu. E pelos quadros do Chagall pelo mesmo motivo. Então entendi que a minha poesia sempre quer fugir pro céu, sempre quer voar.
Às vezes levo meu leitor junto, e como na música do Coltrane, A Love Supreme, essa é a felicidade suprema, quando alguém voa junto comigo.

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