O poeta lê o mundo de um ponto de vista insólito ou
encantado. Ele transvê o mundo”. (Manoel de Barros)
Os andarilhos,
as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia. Dom de ser poesia
é muito bom. (M. de Barros)
Uma
árvore bem
gorjeada, com poucos segundos, passa a fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
(Manoel de
Barros)
O
sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se
dar um gosto incasto aos termos. (M. de Barros)
Minhocas
arejam a terra; poetas, a linguagem e a vida. (Manoel de
Barros)
Os grilos de olhos sujos se criam nos armazéns. (Manoel de
Barros)
Poeta
é um ente que lambe as palavras e depois se alucina. (Manoel de Barros)
A
quinze metros do arco-íris o
sol é cheiroso. (Manoel de Barros)
Há
nas árvores
avulsas uma assimilação maior de horizontes. (Manoel de Barros)
Escurecer
ascende os vagalumes.
(Manoel de
Barros)
Tudo
aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como,
por exemplo, o coração verde dos pássaros serve para a poesia. Tudo aquilo que a
nossa Civilização rejeita, pisa e mija em cima serve para a poesia. (M. de Barros)
Aquele
que não morou nunca em seus próprios abismos nem andou em promiscuidade com
seus fantasmas não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto às
fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema. (M. de Barros)
As
coisas que não levam a nada têm grande importância para a poesia. Pessoas
desimportantes dão para a poesia. O que é bom para o lixo é bom para a poesia.
(M. de Barros)
Poesia é a loucura das palavras. O poeta é mais a palavra com febre, decaida, fodida em
sarjeta. O
poema é antes de tudo um
inutensílio. (M.
de Barros)
O sabiá,
uma pequena coisa infinita do chão. Nas fendas do insignificante ele procura
grãos de sol. Seu canto é o próprio sol tocado na flauta. (M. de Barros)
Poeta,
individuo que enxerga semente germinar e engole céu. Espécie de vazadouro para
contradições. Sabiá com trevas. Sujeito inviável, aberto a desentendimentos
como um rosto. (M.
de Barros)
Trapo-
andarilho-mendigo: pessoa que tendo passado muito trabalho e
fome, deambula com olhar de água-suja no meio das ruínas. Quem as aves preferem
para fazer seus ninhos. Diz-se também de quando um ser humano caminha para o
nada. (M. de
Barros)
E me chegou pelo correio dois livros de uma escritora que na minha santa ignorância eu nunca havia lido, Cristiane Lisbôa. O primeiro que estou já terminando se chama Duas Pessoas são Muitas Coisas e o segundo Papel Manteiga,. A editora é Memória Visual.
O mais incrível é que veio junto um cartão lindíssimo de uma pessoa chamada Vera. Mas não me lembro quem é. Veio assinado sem sobrenome. Vera, se você estiver me lendo, me avise, pois estou encantada com o primeiro livro. É lindo, leve,sua escrita tão interessante e poética. Estou amando! As receitas que estão trançadas com a narrativa são maravilhosas. E quero agradecer.
Levo os dois para a montanha (parto amanhã em dois ônibus e um carro, embora preferisse ir de Pégaso) e mais o livro da Elvira Vigna, Em Palimpsesto de Putas, que também me chegou pelo correio com dedicatória (ganhou o A.P.C.A) e que também já comecei e que é um livro duro, desses que machucam, assim são os romances da Elvira. .Elvira dói. Deixa a gente em carne viva.
Como podem ver, estes presentes já estão no coração. E começa bem o Natal.
Segundo a definição para poeta do Manoel de Barros, eis o que sou: indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu. Vou para a montanha engolir céu e virar árvore, como sempre.
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