domingo, 30 de agosto de 2009

LUIS



MISTURA

Hoje, dia 30 de agosto, meu filho me ligou de Granada: "Mãe, nasceu teu neto. Estou com ele no colo. É lindo, é uma mistura de todos."

Luis, meu neto, tem o nome do meu pai. Patrícia, sua mãe, é sobrinha do meu marido Juan Arias. Uma vez, em 2003, Patrícia veio a Saquarema nos visitar. Guga, meu filho, que vivia em São Paulo, por coincidência, veio nos visitar. Guga chegou uma hora antes do que a Patrícia. Quando ela entrou , eles se olharam e se apaixonaram na hora. Eu vi. Em 24 horas Guga já falava espanhol. 30 dias depois estava na Espanha. Seis meses depois se casaram aqui em Saquarema. Patrícia perdeu sua mãe quando tinha dois anos. Estou indo para a Espanha dia 15 para cuidar do Luis junto com eles, serei então, além de avó, um pouco a mãe da minha nora.
Guga me disse que o Luis anula o tempo, já que mistura a minha família e a do Juan , num encontro completamente improvável. Lá atrás, em algum lugar do passado, na Andaluzia pobre , em plena guerra civil, nascia a mãe da Patrícia, irmã do Juan. Lá atrás, numa família de imigrantes , judeus poloneses, eu nascia. Depois vieram os filhos, Patrícia e Gustavo. Eu e Juan nos casamos tardiamente e não pudemos ter filhos, mas o Luis tem meus genes e os genes do Juan. E agora o Luis amarra tudo com as vigorosas cordas do amor.

TROTE CULTURAL

Ontem, meu amigo Prof. Latuf me telefonou felícissimo. Seus alunos do curso de Produção Cultural da UFFF estavam na primeira página do Jornal do Brasil. O trote cultural é uma idéia maravilhosa e substitui os trotes violentos e humilhantes. O projeto hoje tem a adesão de 47 cursos em Niterói. Os alunos do meu amigo Latuf levaram alimentos para os índios da tribo Tupy em Camboinhas.
Um ser humano não tem o direito de humilhar outro ser humano sob nenhum pretexto. E o que se tem visto ao longo dos anos são atos violentos, às vezes com morte , como um calouro afogado numa piscina e recentemente calouros de direito teriam cometido violência sexual contra calouras.
Entrar para uma universidade requer um rito de iniciação. Mas amor é a chave da convivência e o ato de levar alimentos para os índios é um ato de amor. Alimentar o outro é o primeiro ato de amor, o que inaugura a vida.
Latuf tem razão em estar orgulhoso dos seus alunos. Estou orgulhosa também.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SAUDADE

Hoje Maya, minha filha de estimação, vai embora. Kira, minha netinha de estimação, vai embora. A casa ficará envolta em silêncio. Um silêncio duro, a falta. Ficaram 24 dias em Saquarema e voltam para Barcelona. Kira, de quase 4 anos, ontem me disse: "vovó, te quiero hasta la luna, hasta las estrellas!!!".
Juan fará uma paella de despedida, desejo da Maya. Gisela, nossa amiga motorista de táxi, que irá levá-las ao aeroporto, virá almoçar aqui.

Hoje acordei esquisita. Embrulhada, meio tonta. Já era saudade.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

PALAVRAS



Traduzo o que diz Juan Luis Cebrián no livro que terminei de ler EL PIANISTA EN EL BURDEL :
" Se a lingua constitui parte fundamental da própria identidade é graças, precisamente, ao seu caráter de aglutinador social, de meio ou sistema de diálogo. Mas também afirma a própria soberania do indivíduo (ou dos grupos). Como as pessoas pensam, acreditam, temem e amam em seu próprio idioma, Wittgenstein ousou pensar que os limites da existência são os da palavra."

Então lembro que o filósofo espanhol Fernando Savater disse que as pessoas se envaidecem ao comprar um carro novo quando deveriam ficar orgulhosas ao aprender uma nova palavra, já que são as palavras que expandem a nossa existência. Don Milani, um pedagogo italiano dizia que a diferença entre uma criança pobre e uma rica é que a criança rica possui quinhentas palavras a mais do que a pobre com as quais um dia dominará o então adulto pobre.

Possuir palavras para poder sonhar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

HORÁRIO INTEGRAL

Leio hoje uma notícia maravilhosa: "Rio começa a ter ensino público integral" . Serão apenas 150 escolas em áreas de risco. Mas é um começo. Muitas crianças ficam sozinhas em casa quando não estão na escola. Muitas crianças ficam na rua. Imagino essas crianças na biblioteca ou fazendo aulas de dança, de música, teatro ou aprendendo uma lingua de maneira lúdica e eficaz. Nunca entendi por que as escolas não conseguem que os alunos saiam falando fluentemente uma lingua. Com a aptidão que as crianças possuem para aprender novas linguas!!!
Julia é filha de uma amiga. Minha amiga trabalha o dia inteiro. Julia não tinha com quem ficar. Com 11 anos almoçava sozinha e passava a tarde inteira sozinha em casa. Falei com a diretora da escola e pedi que Julia ficasse na escola. A diretora atendeu meu pedido. A vida de Julia não é mais solitária e triste. Sua mãe agora trabalha sem a angústia que sentia. Gostaria que meu pedido se estendesse a todas as escolas. Diz Merval Pereira que para cada ano de escolaridade acrescentado , o salário aumenta cerca de dez por cento, principalmente no ensino básico. Não existe melhor investimento do que a educação. Gente é o melhor investimento.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

KIRA E OS 50 MOTIVOS PARA AMAR O NOSSO TEMPO

Dia 22, sábado, noite fria, mas finalmente sem chuva nem sudoeste, recebemos umas cem pessoas aqui em nossa casa para o lançamento do meu livro Kira, ed. Abacatte e 50 Motivos para Amar o Nosso Tempo, ed. Fontanar/Objetiva, do Juan Arias. Numa sincronicidade incrível, o suplemento Prosa e Verso do jornal O Globo publicou uma resenha do livro do Juan. Kira, nossa netinha, a personagem, estava radiante. Sabia que a festa era para ela. Latuf, nosso grande amigo , fez uma performance maravilhosa com os nossos nomes. Fiquei emocionadíssima, era como se eu e Juan naquele momento estivessemos misturados, como uma só estrela. Juan fez um monte de tortillas, durante todo o dia a casa ardia de felicidade, a cozinha febril. Às 19hs em ponto a varanda já estava arrumada, a mesa linda, com todos os pães que fizemos, os queijos, os vinhos. Vieram os amigos e os amigos dos amigos e os amigos dos amigos dos amigos... numa corrente maravilhosa. Então tivemos dois lindos lançamentos em agosto, o do Latuf, com seu belo livro Águas de Saquarema na Casa de Cultura e o nosso, aqui em casa. Um sudoeste de poesia passou por Saquarema.

sábado, 22 de agosto de 2009

LANÇAMENTO NA VARANDA

Ontem passei o dia fazendo pães para o lançamento hoje dos nossos livros, meu e do Juan, Kira , ed. Abacatte e 50 Motivos para amar o nosso tempo, ed. Objetiva. Fiz 12 pães. O sudoeste soprava sem parar acelerando meu coração. A casa quase levanta voo quando o vento vem do mar. Abrimos a casa para os amigos e a comunidade e estamos esperando uma cem pessoas. A idéia é que a festa aconteça na varanda, a casa é pequena para abrigar tanta gente. Choveu a noite inteira. Ouvia a chuva no fundo do meu sono. Levantei às 4:30hs, chovia torrencialmente, tomei café e subi para o estudio para escrever. Hoje pela manhã faremos as tortillas. A idéia é essa: fazermos tudo com as nossas próprias mãos. Agora espero o milagre. O vento pouco a pouco se acalmará, a chuva cessará, e poderemos fazer o lançamento na varanda.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FLORES



Flores passeiam
no azul do dia,
fabricam coloridos
silêncios,
como se fossem lenços
de seda e ar.

Jardins, ed. Manati


Kira, minha netinha de estimação, estava em silêncio. Eu perguntei: "Kira, você não quer falar com a vovó?" e ela muda. Então lhe disse: "Kira, me dá uma palavra de presente? Uma só." Ela pensou, pensou e me respondeu: "Flores!"

Ontem revi Cabaret, com a Liza Minelli. Como se pode fazer um filme tão perfeito? O filme é de 1972 e eu o vi no cinema assim que chegou ao Brasil. Nunca o havia revisto. O filme é totalmente eterno, nada envelheceu. As melhores cenas ficaram gravadas em mim como se tivesse visto o filme ontem. Foi uma grande felicidade.

Hoje chove. As flores agradecem. Está lindo o dia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NO MUNDO DA LUA



Vou inventar uma rua
onde se pinte e borde
se faça e aconteça
se cante e dance
se plantem corações
uma rua onde todos vivam
no mundo da lua

No mundo da lua, ed. Miguilim/Ibeppe

Transformar o ambiente em que vivemos, a rua, o bairro, a cidade, é tarefa das mais prazerosas. Na minha casa construimos um bosque onde plantamos corações. O vento sopra todo o tempo e balança as redes na varanda , convida os amigos. A casa está sempre perfumada, com cheiro de alecrim, pois todos os dias fazemos pão. Aqui fabricamos poesia diariamente e fazemos alquimia com as pessoas. Viver a vida ludicamente , como as crianças. Ontem fui ao mercado com minha neta Kira, ela levava uma bolsinha pendurada no carro da boneca e de repente parou, abriu a bolsa e tirou uma flor lá de dentro, toda murcha e amassada, me ofereceu a flor, toma vovó, para você! olha que flor linda. Fizemos um jardim na praia e logo o vizinho nos imitou e o vizinho do vizinho. Nosso bairro se chama Gravatá, que em tupi designa uma espécie de bromélia. Saboreio o nome , uma bromélia floresce em minha boca. Na esquina da nossa casa há um mercado, um bar, uma farmácia (a farmácia da Moisés, onde se pode comprar fiado e botar na conta), um ponto de ônibus. O bar coloca as cadeiras na calçada para que as pessoas se sentem para esperar o ônibus. Um gesto simples que aproxima as pessoas. Enquanto se espera, se conversa. Há uma academia de ginástica e uma lan house. Gatos e cachorros convivem amorosamente. A rua que desce na esquina do mercado leva o olhar até a lagoa. Bicicletas passam e nos acalmam. Aprendo com o zen budismo: cada momento é único e iluminado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

NOVA CIVILIZAÇÃO




Estou terminando de ler um livro muito interessante : "El pianista en el burdel" de Juan Luis Cebrián, o fundador do jornal El País. Fala sobre os primórdios do jornalismo e vai caminhando até desembocar em nossa nova civilização, nosso novo mundo virtual. E fiquei muito emocionada quando ele diz que nossas memórias, das pessoas da minha geração (tenho 58 anos) estão ancoradas no mundo analógico. Por isso temos tantas dificuldades em nos mover no universo digital. Claro que faço tudo o que posso para entender. Mas pensar que os jornais em papel tendem ao desaparecimento, os livros dentro de muito pouco tempo serão lidos em outros suportes, que o cheiro maravilhoso do papel, o toque , o tato, tudo isso muito em breve ficará para trás, é difícil de aceitar. E a realidade virtual é uma realidade, o que prova que as realidades são múltiplas e as fronteiras entre elas tão finas...Se penso que foi apenas em 1998 que passei a usar a internet, a me comunicar por correio eletrônico! É muito pouco tempo para um salto tão grande. Tenho um site, um blog, recebo notícias de muitos lugares do mundo. A rede cria redes de solidariedade e nunca se leu e escreveu tanto. Mas tento, com todas as forças, preservar um pouco do meu mundo antigo. Não deixo que a internet me devore. Prefiro ler livros do que ler na tela do computador. Prefiro ler um livro de ensaio como o do Juan Luis Cebrián do que apenas me alimentar com textos da internet. E ainda prefiro ter amigos de verdade com cor, voz e cheiro do que uma rede com quinhentos amigos virtuais.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FESTIVAL DE OUTONO



SONHO

As idéias para Saquarema estão surgindo. Pensamos num Festival de Outono . Por ser a estação do ano mais bela, a mais propícia para a poesia, com pouca chuva e temperatura amena. Queremos trazer um Ciclo de Palestras de Poesia, Dança e Música. Precisaríamos de uma reforma no teatro Mário Lago ou então de uma grande tenda , como em Paraty. Levaremos o projeto para a Prefeita em nome de um grupo de artistas, jornalistas e escritores Pensamos em utilizar a escadaria da maravilhosa Igreja que temos em Saquarema, de uma beleza ímpar. Em noites escuras a Igreja parece um castelo de conto de fadas. Quem sabe conseguimos o Festival já para 2010? São os sonhos que movem o mundo...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

IDÉIAS PARA SAQUAREMA




UM GRANDE FESTIVAL DE POESIA ?

A Prefeita de Saquarema, Franciane Mello, nos disse no lançamento do livro Águas de Saquarema do Prof. Latuf, que estava aberta para receber idéias culturais para Saquarema. Latuf, meu grande amigo, anda empolgadíssimo. Já soubemos que em alguns países fazem grandes festivais de poesia que lotam estádios! e Latuf quer algo assim para nossa cidade. Contamos com o apoio do Francisco, procurador-poeta . Saquarema é linda e, no entanto, é um deserto em termos culturais. Não temos nada além dos Festivais de Surf e às vezes alguns concertos de rock. No entanto poderíamos ter concertos ao ar livre com orquestras na escadaria da belíssima igreja, concursos de corais, festivais de dança, de cinema, Saquarema é tão bela toda envolta em águas, que parece um cenário à espera. Quem sabe, agora que Latuf vai se aposentar e terá um pouco mais de tempo livre ele consiga sensibilizar os canais competentes? Ganhariam todos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

INESPERADO



MARINA SILVA


O inesperado abre suas asas. Marina Silva, brasileira, mulher, negra, profundamente conhecedora da nossa realidade, apaixonada pelas árvores, pela Amazonia, pelo meio ambiente, pela vida, quem sabe será candidata a Presidente da República. Marina tem as mãos limpas e não mente. É verdadeira no que faz e não se deixa intimidar. Juan Arias, meu marido, foi entrevistá-la em seu apartamento em Brasília quando ainda era Ministra. Um apartamento pequeno e simples. Não possui mansões, não tem tesouros escondidos. Talvez Marina seja para o Brasil o que Obama foi para os Estados Unidos. Talvez Marina venha para ajudar a drenar os pântanos, o lodo, a vergonha que cobre nosso país. Por favor Marina, estamos todos tão cansados deste teatro de horrores, venha com o teu coração aberto virar o Brasil do lado do avesso. Quando eu trabalhava para o Proler viajei muito pelo interior do Brasil. É um povo tão lindo, tão limpo, este é o Brasil que todos merecemos. Marina pode nos devolver o verdadeiro Brasil.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

UM HOMEM DIFERENTE



EN BUSCA DEL HIJO

Por esta casa sencilla,
de paredes blancas
y agua siempre fresca
en la jarra,
pasan caravanas
de mujeres, locos,
leprosos, videntes,
artistas, pescadores,
enfermos, sabios,
payasos, profetas,
en busca del hijo
que escribe poemas
en el viento...

Maria, esa gran desconocida, ed. Maeva (Juan Arias , poemas de Roseana Murray)

Como judia passei uma vida inteira sem nenhum conhecimento mais profundo sobre Jesus. Jesus é uma figura bastante problemática para os judeus, já que fomos acusados, durante séculos, de matá-lo e a Igreja nunca se lembra de dizer aos seus fiéis que Jesus era judeu, sua mãe era judia, seu pai era judeu. Depois que me casei com Juan Arias, jornalista, escritor e teólogo, ex padre, comecei a conhecer Jesus, sua figura impressionante e iconoclasta e todo o horror que foi perpretado em seu nome é inadmissível. Toda a sua vida foi um manifesto a favor da liberdade e a Igreja que não foi fundada por ele até hoje não admite os diferentes. Juan publicou sábado um artigo no El País , "Por que la Iglesia teme a los diferentes? " onde levanta todas estas questões. Já que Jesus abrigava em suas andanças todos os marginais do seu tempo , por que a Igreja continua a detestar os que não pensam como ela? Porque a Igreja condena os que caminham fora das normas estabelecidas? Que Igreja é esta que faz e prega o oposto do que foi a vida deste profeta louco ?
Aprendi a conhecer Jesus lendo os livros do Juan . Escrevi para seu livro " Maria, esa gran desconocida um poema para abrir cada capítulo" e o que posso dizer é que nenhuma Igreja leva sua vida a sério. Já me dizia um teólogo em Madrid que suas idéias eram de tal maneira revolucionárias que tiveram que criar uma Igreja para combatê-las. Mas o que mais gosto dos seus ensinamentos é quando diz que " chegará o dia em que não necessitaremos de templos senão que adoraremos em espírito e em verdade". Nós somos o templo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ÁGUAS DE SAQUAREMA

LANÇAMENTO

Medi(t)ação

Como quem olha a onda do mar
-surpresa que entedia -
vou reparando a espuma dos dias.

Latuf Isaías Mucci

Dia 8, sábado de lua-cheia, a antiga Prefeitura de Saquarema, casa lindíssima, recebeu um mar de gente para o lançamento do livro de poesia Águas de Saquarema do Professor/Mestre/Doutor em literatura, arte e vida, Latuf Isaías Mucci. Latuf estava vestido com um túnica oriental até os pés e era o verdadeiro anfitrião antigo, como o beduíno em seu oásis: para cada um tinha um sorriso e uma palavra especial. Seu livro é lindo, mistura todas as águas de Saquarema, é uma celebração, sua poesia é bela e cheia de humor. O livro é uma grande ode à cidade que escolheu para viver.
Conheci Latuf e imediamente a literatura nos uniu e ficamos tão amigos que não consigo imaginar como passamos uma vida inteira sem nos conhecer. Latuf tem o coração aberto como uma caixa mágica de onde vão saindo as coisas mais inesperadas. Com seus olhos de poeta vai lendo o céu e a terra e nos deslumbrando com o que nos aponta, o que não havíamos visto antes dele. Latuf é um dervixe de alegria e seu livro é assim: alegre e denso.

sábado, 8 de agosto de 2009

AMIGOS


RIVKA E JACOB

Rivka é uma iraniana que viveu muitos anos em Israel. Jacob é polonês, judeu, homem cultíssimo e bem humorado. Ela é ceramista e ele foi dono de uma gráfica. Falam muitas linguas e são a favor da paz entre palestinos e israelenses. Rivka acompanha todos os movimentos que unem palestinos e israelenses . Rivka tem uns 70 anos e Jacob já vai fazer 90. São apaixonados. Enquanto ela trabalha em seu atelier de cerâmica em Teresópolis, ele pensa na vida. Estão aqui em Saquarema pois Jacob adora viajar e mudar de ares. Ela me conta dos livros que está lendo, me fala de Sandor Marai, escritor que adoro, Jacob também lê muito. É maravilhoso estar com eles, são uma lição de amor, alegria e vida. Jacob adora ver o mar, os surfistas e me diz: "eu também fazia surf " . Rivka diz que não é verdade, mas não importa, a memória também inventa. E ao ver aqueles homens no meio das ondas o desejo de Jacob de também estar ali, no meio do mar, faz com que ele se lembre do que nunca aconteceu! Gostaria de me lembrar que um dia fui bailarina, pianista, cantora, pintora... tudo o que adoraria ter feito e não fiz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NA FAZENDA




FELICIDADES

Pequenas felicidades
passeiam por nossos dias
como joaninhas na palma
da mão,
como um desenho de orquídea
trazido pelo vento.
Para não desperdiçá-las
há que estar sempre atento,
caminhar vagarosamente
pelos contornos da tarde,
encher os bolsos com a areia
dourada do tempo.

Rios da Alegria, ed. Moderna


Levamos Kira, nossa netinha, para passar dois dias numa fazenda em Rio Bonito. Foi maravilhoso tocar a sua felicidade feita de bois, cavalos, galinhas, coelhos, cabras, avestruzes, charrete, piscina, cachoeira... A dimensão do humano para mim é a natureza. Por um tempo nos reencontramos com o que fomos no passado, em outras eras, quando tudo era tão mais simples. O campo me faz bem. Fico totalmente em casa com os cheiros de mato, bosta de vaca, lenha, o vento no final da tarde.
Kira brincou com as crianças e é lindo ver como criança não tem fronteira: ela fala em espanhol , eles falam em português e todos se entendem perfeitamente. Sonho o dia em que o mundo também não terá fronteiras. Todos poderão estar em qualquer lugar, onde a felicidade estiver, sem passaportes, carimbos, pedidos de estadia. Talvez as crianças devessem governar o mundo.
Penso que os artistas são os adultos que nunca se esqueceram da criança que foram um dia.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

CHEGADA



MAYA E KIRA

Ontem fui buscar Maya, minha filha de estimação, filha do Juan, e Kira , minha netinha. Vieram diretamente de Barcelona até Saquarema. Depois de um ano, Kira, que fala fluentemente espanhol, inglês e catalão, se lembrava de tudo: do jardim, da casa inteira, das gatas, do Samuel e da Vanda, nossos caseiros. Kira já está uma mocinha, fará quatro anos em setembro. Faremos um grande lançamento aqui em casa do livro Kira, que escrevi para ela e sairá pelo novo selo Abacate, da editora Lê e do livro do Juan "50 motivos para amar o nosso tempo", ed. Objetiva. Ao mesmo tempo estaremos comemorando a vinda das duas, a vida. Depois irei para Granada, Espanha, receber Luís, meu netinho. É tempo de netos. Estou muito feliz.