sábado, 26 de junho de 2010

ESPELHO

Ontem uma leitora do blog, muito carinhosa, me pediu para fazer um poema para sua amiga que iria fazer 60 anos. Também faço 60 anos em dezembro e penso no mundo onde cresci, inimaginável hoje:

1 - Quando era criança na minha casa não tinha telefone. Havia uma extensão do telefone da loja do meu pai que era ao lado, mas nós crianças nunca usávamos. Celular não era nem ficção científica.

2- Quando era bem pequena não tínhamos televisão, só quando fiz 10 anos vi televisão pela primeira vez. Em preto e branco.

3 - Andava pelo bairro sozinha, com 7 anos, para lá e para cá, sem perigo nenhum, no Rio de Janeiro. Visitava minhas amigas em outras ruas, meus avós. Não existia computador, vídeo-games, etc. Brincávamos de teatro.

4 - A casa ficava aberta o dia inteiro. Vivíamos numa cidade grande como se estivéssemos numa cidadezinha do interior.

5 - Acompanhávamos as novelas pelo rádio. Tinhamos , nós crianças, muito tempo livre. Passávamos as férias em Paquetá, a baía tinha águas transparentes.

A comunicação em tempo real torna o mundo tão pequeno, qualquer lugar, qualquer pessoa ao alcance da mão. Tudo mudou. O tempo mudou. Mas nós mudamos? O que nos difere como seres humanos dos homens dos outros tempos?

ESPELHO

espelho, espelho meu:
diga a verdade,
quem sou eu?

Se às vezes me estilhaço,
se às vezes viro mil,
se quero mudar o mundo,
se quero mudar o rosto,
se tenho sempre na boca
um gosto de água e de céu,
se às vezes sou tão só
quando me viro do avesso,
se às vezes anoiteço
em plena luz do sol
ou então amanheço
com vontade de voar,

espelho, espelho meu:
diga a verdade,
quem sou eu?

in Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003

9 comentários:

  1. Bm dia, Roseana!
    Ai que saudades!
    Brincar de roda na rua, ouvir histórias que a "vó" contava na sala iluminada pela luz da lamparina...
    Tantas lembranças que me fizeram quem eu sou.
    Engraçado quando a gente pára e pensa que vivenciamos as duas fases: uma, de simplicidade, sem tecnologia; agora somos blogueiras :D.
    Beijão,
    Cida.

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  2. Voltei...
    Adorei o poema e desculpe pelo "Bm"; leia-se "Bom".

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  3. Querida Roseana, querendo ler novamente "classificados poéticos", naveguuei e encontrei seu blog. Gostaria de lhe dizer que me sinto como no poema, sem saber onde por as mãos. Perdi minha filha de 16 anos, para o câncer no ano passado e ela adorava seus poemas, enfim adorava poesias e as declamava maravilhosamente. Quando leio os poemas que ela gostava me emociono muito, choro, pois
    "Perdi maleta cheia de nuvens
    e de flores
    maleta onde eu carregava
    todos os meus amores embrulhados
    em neblina".
    Um beijo no coração

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  4. Lindo demais o poema ... Como tudo que vc escreve né Roseana ;)

    Será que você não teria um poema pra falar sobre a saudade ?

    um domingo cheio de saudades... de morar do outro lado do oceano ...

    Beijos saudosos, Iara

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  5. Zuleika, não posso dimensionar o tamanho da tua dor, mas a tua filha agora vive outra vez dentro de você, como quando foi gestada. Fiquei muito emocionada com a tua mensagem.

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  6. Iara, tenho tantos poemas sobre saudade. Vou postar um no blog.

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  7. Cida, a tecnologia traz coisas maravilhosas. posso ver meu neto todos os dias e ele mora tão longe...

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  8. Roseana: farei 61 anos em agosto,se Deus quiser.Na minha infãncia ,no interior de Minas,brinquei na rua de pique-esconde e finca.De teatro e circo !Telefone e televisão,só dos vizinhos mais abonados.Passava minhas férias nadando numa lagoa maravilhosa!!!Mas como você,reconheço que hoje a tecnologia está a nosso serviço e não o contrário.Beijos humanos!

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  9. Há a tecnologia para o bem. O que seria de mim agora sem a medicina nuclear?

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