sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NA HORA DO ALMOÇO

Ontem, na hora do almoço, Juan e Samuel, nosso caseiro conversavam sobre as profundas mudanças do nosso tempo. Juan contava para o Samuel que num futuro próximo as portas já não terão fechaduras e serão abertas com a voz do próprio dono. Samuel escutava. De repente disse: "_ Mas isso é muito complicado! E se eu estiver rouco e a porta não reconhecer a minha voz? Vou ter que dormir na calçada?" E foi a vez do Samuel contar que lá em Minas um pequeno fazendeiro, quando pela primeira vez chegou a luz elétrica,soprava a lâmpada como se fosse uma vela para apagá-la.
Nunca as coisas mudaram com tamanha velocidade, em tempo nenhum. Mas os homens decidem as fronteiras matando como na Antiguidade. Como judia torço por um Estado Palestino, o único caminho para a paz.

Recebo uma carta linda de um amigo antiquíssimo, Arnoldo de Souza, que vive em Governador Valadares. Em 1984 fizemos juntos uma oficina na OLAC, no Leblon, primeiro com a Rita Moutinho e depois com o Antonio Carlos Sechin. Estas oficinas de poesia foram fundamentais para a minha poesia, de certa maneira forjaram e iluminaram o meu caminho. Arnoldo foi um grande amigo: acreditava nos meus versos, eu, tão jovem e insegura. Não esquecí a sua voz, o seu incentivo. Tenho memória de elefante e sua carta sobre meu livro Poemas para ler na Escola me deixou muito emocionada:

Querida Roseana. Desculpe a demora em lhe responder, mas além de outras múltiplas tarefas e viagens, esta se deu pelo fato de ter lido e relido o seu livro, suavemente, literalmente me deliciando, pois dessa vez você se superou, com uma poesia que não é sòmente para ler em casa e sim em cada lugar onde se possa ir, viajar, viver enfim e comemorar a maravilha do cotidiano. Em você a poesia perpassa todos os reinos e hierarquias. Ela é mineral, pois densa e seca as vezes , como as pedras, com relevos inéditos em sua geografia. É etérica pois esbanja vitalidade , numa torrrente , avalanche , numa verdadeira enchente , desaguando versos em grande velocidade. É anímica ou astral, pois traz consigo um poço de desejos e tormentas revelado as vezes de forma sutil , outras de forma explícita , mas sempre com ritmo e harmonia singulares e de incrível riqueza. E , por fim , emana profunda da consciência, da verdadeira intimidade do Eu, trazida em parceira com o sentim ento do mundo e de suas cercanias.
Como disse, dessa vez você se superou , com uma poesia , eu diria, quântica, alternando ondas e partículas na incerteza dos caminhos da energia, num oceano cósmico de possibilidades e dimensões invisíveis, apenas sentidas por quem a lê.
Sim , Poesia pra se ler, pra se ter sempre imanente no fundo oculto de nós mesmos, para que a possamos reler sempre que a vida parecer eclipsarse.

Arnoldo de Souza

Um comentário:

  1. Querida Roseany,
    Quando leio trechos do seu blog sinto como se a conhecesse pessoalmente. Sua sensibilidade ao escrever ultrapassa o tempo e a distância. Então, quando sugiro seus textos para as professoras, não deixo de comentar, que em seu blog, há uma certa intimidade vista em poucos autores como a Clarice Lispecto e o Jorge Luiza Borges. Afinal, é uma grande oportunidade ler palavras tão meigas. Meu abraço e um grande domingo, querida Escritora.
    Antonise

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