Em 2001 fomos a Praga. Fiquei totalmente apaixonada pela cidade, gostaria de ter passado um ano aí. Foram apenas 5 dias gravados em minha pele para sempre. Alugamos um apartamento em Malá Strana, no bairro antigo do Castelo, de frente para a Ponte Carlos. O tempo era magnífico. A dona do apartamento se chamava Zdena e morava no mesmo prédio. Fui até a sua casa ver a sua biblioteca, de onde tirou um exemplar de um livro do Jorge Amado. Ela me contou que debaixo do prédio havia um túnel secreto que levava diretamente ao castelo. O prédio era antiquíssimo. Ficamos amigas. Conseguí uma tradutora e mandei traduzir para ela meu livro "Tantos Medos e Outras Coragens". Roger Mello levou o livro traduzido pessoalmente. Depois nos perdemos na avalanche da vida, ela mudou de e-mail, eu também, por anos guardei seu cartão. Quando escreví o "Território de Sonhos" usei seu nome para uma personagem.
Comprei em Praga um pequeno livro de Kafka que não conhecia: "Cuadernos en Octavo". Não o encontrei em português, comprei em espanhol. Fiquei muito impactada com o livro e a partir de um pequeno trecho:
" Todo hombre lleva dentro una habitación. Se puede comprobar este hecho incluso acústicamente. Cuando alguién anda a paso ligero y se escucha con atención de noche talvez, cuando todo está en silencio, se oye por ejemplo el tintineo de un espejo mal afianzado en la pared."
decidí inventar um exercício. Escolher como epígrafe alguns trechos de livros que amava especialmente e escrever um conto a partir da epígrafe que seria o trecho escolhido. Assim nasceu o livro Território de Sonhos. Para o belíssimo parágrafo do Kafka inventei uma adolescente em seu quarto, filha de imigrantes e a chegada de uma parente distante, de sua idade, vinda do país de origem dos seus pais, de algum campo de refugiados. Em todos os contos há um personagem leitor.
Para mim a vida é um território de sonhos.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
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