De toda a obra do Drummond sou apaixonada pelo BOITEMPO. Leio e releio os poemas e é como se entrasse numa casa que me acolhe, pois sou apaixonada por vestígios do passado, pela memória que já existe em todas as coisas enquanto elas vão acontecendo.
CANTO DE SOMBRA
O canto de sombra e umidade no quintal.
Do muro de pedra escorre o fio d'água,
manso,no verde limoso, eternamente.
Uma gota e outra gota, no silêncio
onde só as formigas trabalham
e dorme um gato e dorme o futuro das coisas
que doerão em mim, desprevenido.
Crescem rasteiras, plantas sem pretensão
de utilidade ou beleza.
Tudo simples. Anônimo.
O sol é um ouro breve. A paz existe
na lata abandonada de conserva
e no mundo.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo III, ed. José Olympio.
Também os livros que lemos quando jovens guardam a memória do tempo em que os lemos.
Releio o livro "História de Pobres Amantes" de Vasco Pratolini e me encontro não só com os personagens que dormiram intactos dentro de mim por todo este tempo, digamos 30 anos, mas me reencontro com a jovem que fui, por alguns momentos sou ela outra vez.
segunda-feira, 19 de março de 2012
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