segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ABIDJAN

Por ter passado dois dias aqui em casa, meu ex cunhado Jesus me trouxe de volta Abidjan onde morava com a minha irmã no começo da década de 80 quando fui visitá-los. Sempre fui louca para ir a África e quando minha irmã foi morar na Costa do Marfim decidi fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para ir. O apelo que sentia era grande demais. Vendi um colar de ouro, presente da minha mãe, peguei emprestado algum dinheiro com a minha tia e lá fui eu via Dakar. Já em Dakar, no aeroporto , o meu susto foi grande demais: as cores, os cheiros, a beleza estonteante de homens e mulheres.
Nosso avião para Abidjan era uma lata enferrujada toda amarrada com arame. Dentro do avião os africanos não paravam quietos, todos se levantavam  e iam visitar alguém lá do outro lado. Mas chegamos são e salvos.   
Ao sair do avião, uma lufada de ar quente foi como um soco e embaçou meus óculos. Era a umidade da floresta. Minha irmã me esperava com o Jesus. Já na saída do aeroporto compramos banana da terra frita em rodelas que se chama aloko, ainda me lembro, assim como me lembro do nome de um frango preparado com um molho incrível e servido com cuscuz: kedjenu. Banana socada no pilão ou o inhame também desmanchado no pilão e cozido era servido com molho de peixe e se chamava futu.
Minha irmã morava perto de um mercado e não há nada mais incrível do que um mercado africano com seus quilômetros de tecidos coloridos no chão . Caminhávamos muito e eu pensava: estou dentro de uma noite africana e a emoção era intensa.
Nesta época Abidjan era calma, não havia guerra, todas as dezenas de etnias com suas linguas conviviam em paz. E havia a lingua do mercado , o djula, que todos falavam. E depois veio a guerra civil, a mais tenebrosa invenção humana .

2 comentários:

  1. UAU!!! E o colar, em vez de ficar no pescoço em dias de festa, ficou no cérebro, no olhar, no coração e nas pontas dos dedos!! O colar virou coroa,óculos,marca-passo e anel!

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