quinta-feira, 7 de maio de 2015

AZUL

Alguns poemas ficam morando dentro da gente desde a primeira leitura. Foi o que aconteceu com o poema do Carlos Pena Filho. Agora ganhei uma antologia bem simples mas com poemas maravilhosos usada pela Catalina Pagès em seus Círculos de Leitura e para minha grande alegria reencontro o azul:

SONETO DO DESMANTELO AZUL

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

     Carlos Pena Filho

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