Maria Clara me empresta dois livros de Ana Miranda: Prece a Uma Aldeia Perdida , livro de poesia, um cântico maravilhoso, em dois fôlegos, um masculino e outro feminino, com reverberações de outros escritores, outros poetas, o que cria uma cumplicidade incrível com o leitor. Ana fala do tempo que escorre e tudo o que existiu continua existindo para sempre. Aqui e ali reconhecemos um verso do João Cabral, uma frase do Guimarães Rosa.
O outro livro é Clarice, que estou lendo , um livro de ficção sobre Clarice Lispector, uma incursão ao seu interior. A estrutura me lembra As Cidades Invisíveis, do Ítalo Calvino e também a escrita. É como se ela, a autora, passeasse pelas coisas com o olhar da Clarice.
A CIDADE DENTRO DE CLARICE
" Dentro de Clarice não há uma cidade, mas um campo silencioso, iluminado pelos raios de luar. A cidade está fora dela, em torno. Só pode ser lembrada como um sonho, ou como a impressão de alguma coisa que já aconteceu e vai acontecer novamente. Uma cidade feita de vidro, luzes, água, areia.
Um campo é mais amplo do que uma cidade. Num campo, um espírito pode vagar com mais liberdade, pois espíritos voam e com muita rapidez. A cidade está em torno de Clarice como as grades estão em torno de um prisioneiro. Os prédios altos de cimento são as barras de ferro que não a deixam partir para sempre, rumo ao infinito."
Conhecí Clarice Lispector quando eu tinha 23 anos. Eu não estava preparada para o mistério que era Clarice. Fui levada até sua casa por Olga Borelli que foi sua secretária. Clarice gostou de mim e me perguntou: " Você escreve?" Respondí que não, eu não escrevia. Então ela me disse: " Mas vai escrever. "
Atendendo ao pedido de Iara, uma leitora do blog, reproduzo um poema que fala de saudade. Outra leitora, Ângela, tem um carinho especial pelo poema.
FOTOGRAFIA AMARELADA
O tempo pinta de amarelo
a fotografia:
de amarelo os olhares,
os sorrisos, as roupas,
as mãos, os sapatos.
Não é um amarelo qualquer:
é uma espécie de outono,
é um amarelo saudade.
in Todas as Cores dentro do Branco
domingo, 27 de junho de 2010
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Obrigada !
ResponderExcluirMais uma leitora com carinho especial pelo poema.
Beijos gratos, Iara
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirViu? Os seus leitores, também têm muito bom gosto.
ResponderExcluirPensei numa coisa: tan, tan, tan, nós seus leitores podemos começar,a compartilhar os seus poemas que são os nossos preferidos.
Então vamos ver se você se lembra desse?
Sabe aquele ditado que diz: ... Essa é de comer rezando?
Pois bem, esse aqui é um dos que eu mais gosto.
Ele é de parar cinco minutos, chorar, reverenciar e SONHAR rezando:
Uvas e sinos
abre as janelas
as portas
e deixa que entre o horizonte em jorro
um pedaço de céu
peixes e pássaros
e lágrimas e sonhos
e palavras com seus dentes
seu mel e veneno
ferrão de pura prata
deixa que o tempo entre
como guirlanda
que entrem as vozes dos poetas
desde a distante noite
onde as bússolas marcavam o caminho
deixa que algum mistério
ponha uvas e sinos
em cima da mesa
Esse,Roseana, me lembra dias de sol morno, noites bem limpinhas cheias de estrelas,flores cintilantes,ventos que cantam, mas sobretudo as tradições judaicas... não sei bem por quê.
Obrigada, por tanta beleza.
Angela
Voc~es me deixam encabulada com tanto carinho. OBRIGADA!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirRoseana: essa Iara aí de cima,que te pediu um poema sobre saudade, é a minha norinha,morando na França.Beijos apresentadores.
ResponderExcluirAdoro Ítalo Calvino,adoro" as cidades invisíveis".Comprei esse livro: Clarice e estava guardando-o,com medo de abri-lo: Clarice me assombra.Agora vou degustá-lo.Beijos corajosos!
ResponderExcluirRoseana querida, posso colocar seu poema Fotografia Amarelada no meu blog? É lindo, e eu que sinto tanta saudade....
ResponderExcluirum beijo no coração
Zileica, claro que pode...é um orgulho para mim!
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