sexta-feira, 18 de março de 2011

OBJETOS

Derramamos nosso afeto sobre os objetos, ou melhor, mergulhamos os objetos em nosso mar de afeto. Os objetos adquirem vida. E penso nos que perderam tudo , no Japão, no outro lado da noite, porque de uma maneira estranha, nossos objetos acabam nos constituindo, fazendo parte da nossa identidade. Muitos ficaram apenas com o nome e uma dor sem nome.

Na minha estante da sala, pequena Torre de Babel, guardo os objetos mais disparatados, que fui arrastando ao longo da vida, de casa em casa. Muitos são antigos. Tenho um abridor de garrafas feito em cobre que ganhei na África, na Costa do Marfim, com uma cara de homem, em 1984. Ao lado um licoreiro da minha infância, uma mulher linda, que me fascinava quando criança, dizia minha mãe que ela veio da Polônia. Quando, sentada em minha cadeira de balanço , em devaneio, olho o homem africano, estou de novo em Bouaké, numa manhã africana e recebo das mãos do dono da casa, o pai da minha amiga Françoise, meu presente. Minha irmã Evelyn está comigo. Foi uma linda cerimônia: eu oferecí meus presentes e ele me deu o abridor. Eu fiz um discurso e ele fez um discurso. Quando olho a minha mulher de cristal, uma pequena casa no Grajaú se desdobra, ao lado da loja do meu pai, nos fundos. Os objetos nos ajudam a guardar a nossa história.

2 comentários:

  1. Roseana: minha coleção de objetos é muito exdrúxula...mas não dou,não vendo....cada um nos transporta no tempo e vivemos tudo novamente....agora,minha grande dor foi ter perdido,na mudança,minha fadinha inglesa,sentada, lendo um livro..pequeninha..pequeninha..às vezes penso que devo voltar lá e trazer uma irmã... beijos colecionadores de alegrias e dores.

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  2. Os objetos que a gente perde também fazem parte do nosso acervo (invisível)
    beijos , Maria Neuza.

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