quinta-feira, 14 de março de 2013

A CHUVA

Faz muito calor. Hoje às cinco horas da manhã fazia 28 graus sem vento na varanda. Chamo a chuva e o vento. Chamo a chuva com um belíssimo poema do Borges em homenagem ao Papa Francisco que é um leitor de Borges:

LA LLUVIA

Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque cae la lluvia minuciosa.
Cae y cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.

Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló uma flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.

Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto

Pátio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto.

Jorge Luis Borges , in Obra Poética,Emecé Editores

Quantas maravilhas me traz o poema. A chuva que é meu desejo ardente neste momento. Um certo pátio que já não existe mais. Imediatamente penso na casa da minha avó, numa vila, no fundo da vila, como num pátio, havia um banco para onde eu levava as minhas bonecas. Minha avó está viva e prepara a manhã com orações e cebolas. Minha avó era profundamente religiosa e sua existência me trazia uma segurança imensa e muita paz. Meu pai também volta, o poema traz sua voz e seu riso contagiante. Eu o vejo, e tudo nele me emociona, seus sapatos, seu jeito de ver o mundo, suas mãos.

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