Meu corpo está no outono. Farei 63 anos em dezembro. Sinto que minha alma cresce enquanto meu corpo diminui. Alguns sentimentos pertenciam mais ao corpo: raiva, por exemplo. Tenho menos raiva . O perdão vem mais fácil, não tenho que lutar com ele , talvez já raramente me ofenda. Isso me faz bem, me deixa respirar. Sei que diante da tela em branco, diante de uma folha em branco, sempre conseguirei escrever alguma coisa. Já não duvido tanto de mim. Meu corpo está no outono e o outono é belo em sua melancolia, em suas folhas que o vento espalha, talvez este desfolhamento seja a minha poesia voando por aí.
ESPELHO DO CORPO DO OUTONO
Você já viu a mulher
como carrega o corpo do outono?
Primeiro ela mistura o rosto e a calçada
depois tece um vestido com os fios
da chuva
as pessoas
na cinza da rua
são brasa apagada.
ADONIS, in Poemas,Cia das Letras
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
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Conheci sua poesia Bailarina, em um livro didático. Coloquei como introdução do meu poema dedicado a minha sobrinha neta. Achei lindo na época (2012). Também escrevo, mas não com a sua fluidez. Porque descobri somente agora depois dos 60. Hoje compartilhei a sua visão dos 60, lindíssimo. Um abraço.
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