domingo, 27 de outubro de 2013

UM ASSUNTO AQUI E OUTRO ALI

Começo o domingo com o sol nascendo atrás da Igreja, atrás do morro, a praia imensa e vazia, apenas um pescador. Beleza em estado absoluto.

O ser humano não consegue viver sem um bode expiatório? Sempre a culpa é do outro? Agora é a vez dos ciganos, a segunda vez em que são um alvo tão atacado. Hitler já os odiava e matava e agora a situação deles é terrível na França. Odiados porque misteriosos, Lorca os amou e cantou nos poemas mais maravilhosos e evoco sua música para protegê-los

A GUITARRA

Começa o pranto
da guitarra.
Quebram-se os copos
da madrugada.
Começa o canto
da guitarra.
É inútil calá-la.
É impossível calá-la.
Chora monótona
como chora a água,
como chora o vento
sobre a nevada.
É impossível
calá-la.
Chora por coisas
distantes.
Areia do Sul quente
que pede camélias brancas.
Chora flecha sem alvo,
a tarde sem manhã,
e o primeiro pássaro morto
sobre o ramo.
Oh! guitarra!
Coração malferido
por cinco espadas.

Federico García Lorca, Poema do Cante Jondo, in Obra Poética Completa, tradução de william Angel de Melo, ed. UNB 

Meu filho Guga Murray está hoje em Salvador com uma oficina de música para professores do Ensino Fundamental e um Livro-Concerto. Guga, quando morava em Granada tinha amigos ciganos e quando traduzi o espetáculo Pequeno Poema Infinito, para o José Mauro Brant, Guga tirou a dúvida de algumas palavras com seus amigos ciganos. Gostei mito de fazer uma tradução artesanal, apenas com dicionário de papel, a consultoria do Juan e dos amigos do Guga de Granada. Os textos eram lindíssimos e eu quase sufocava de emoção. Não há nada mais belo do que um poema do Lorca.

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