terça-feira, 25 de março de 2014

ONDE VOCÊ ESTAVA?

É hora de revisitar a História. Começam a abrir a tampa de uma caixa escura e maldita. Onde eu estava no dia do golpe? Eu tinha 13 anos e estava na casa de uma amiga que amava, a Norma, e não entendia nada. Nós duas adorávamos brincar de teatro e estávamos montando uma peça. Voltei para casa, eu acho que logo depois das primeiras notícias, mas lá o ambiente era nervoso. Livros e revistas no quarto dos meus irmão faziam uma pilha imensa e iriam alimentar uma fogueira na casa da nossa maravilhosa babá-que ficou-com-a-gente-para-sempre, na favela onde morava, em nosso bairro, o Grajaú. Quando já tinha 16 anos fui a algumas passeatas, mas tive medo de me envolver, ir a reuniões, mesmo nas passeatas tinha muito medo quando jogavam os cavalos em cima da gente , quando tínhamos que correr como loucos. Muitos amigos eram presos. Eu tinha uma amiga mais velha que amava. Fui visitá-la , ela havia tido um bebê. Ela estava em casa com seu recém-nascido e na véspera seu marido havia sido preso.Nunca mais a vi. Casei no final de 68  e me mudei para Juiz de Fora. Logo engravidei e minha vida passou a girar em torno da gravidez. Claro que eu sabia de muita coisa que se passava, mas acompanhava de longe, como se fosse em outro planeta. O casamento e o nascimento do meu filho me salvaram de qualquer atitude que me comprometesse. O máximo que fiz foi receber por dois anos duas chilenas fugidas da repressão no Chile em 74. Elas ficaram em minha casa por um ano. Eram mãe, filha e neta, mas na verdade a mãe, uma grande escultora foi embora antes para Paris.Quando voltei para o Rio, depois de uns anos morando em Juiz de Fora e Belo Horizonte, procurei meu melhor amigo do tempo em que estudei no Lafayette e ele no Aplicação ao lado.Era meu companheiro de passeatas. Consegui encontrá-lo. Mas ele não era mais ele. Havia sido tão torturado que depois só se drogava. Foi uma das maiores perdas da minha vida. E escapei de irmos juntos porque me casei.

Que bom que tudo isso é passado.Não devemos flertar com nenhum tipo de autoritarismo. São aventuras que ofendem a dignidade humana.

2 comentários:

  1. E vejo pessoas discutindo e dizendo que querem que tudo isso volte, como compreender.

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  2. não é possível voltarmos a uma ditadura. Beijos!

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