quinta-feira, 11 de junho de 2015

CONTINUAÇÃO DO CONTO MARIA

   Então Julian a beija, e é a inauguração de seu corpo, um beijo imenso e salgado, seu primeiro beijo.
   Na volta, sentados juntos no barco, ele promete que vai escrever, que vai voltar, que agora ela é a sua namorada. Ele pede aos pais um pedaço de papel e uma caneta e anota seu endereço; ele diz, "eu prometo", num tempo em que as cartas, com suas palavras escritas em papel, era a ponte que unia pessoas distantes.
   Quando o barco atraca e range, Maria desce e apresenta Julian e a família a seus pais. Então todos resolvem almoçar juntos, passar juntos o resto da tarde. Os pais de Julian são alegres, simpáticos, e o menino, o irmão, faz palhaçadas para ser notado. Maria nunca havia imaginado que um momento tão perfeito pudesse existir.
   Da estante de livros seus pais a olham numa moldura de conchas, jovens, belos e enigmáticos. Ela fala para eles em voz alta: depois de tantos anos, Julian escreveu outra vez.
   A volta para casa naquele dia distante foi uma mistura de sensações. Julian era um sonho? O beijo ainda latejava em sua boca.
   Um mês depois recebeu uma carta. Ele prometia não a esquecer. Havia um poema do Pablo Neruda do livro Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Maria entrou num curso de espanhol. E decidiu estudar literatura. De certa maneira, Julian forjou seu caminho.
   Mas, com o passar do tempo, as cartas foram se espaçando e Julian não voltou. Vieram outros beijos, outros encontros, um casamento que se desmanchou. Vieram alegrias e tristezas e nunca mais nenhuma carta. Nunca mais souberam um do outro.
   A chuva apertava. A carta, que ainda não foi aberta, lateja no colo, como um gato ou um filho. Ela abre a carta com cuidado, como um tesouro. A caligrafia, ela lembra, é a mesma, letras miúdas como pequenas mariposas. E ela pode ouvir sua voz, como se a carta fosse gravada

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                                          CONTINUA AMANHÃ

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