quarta-feira, 10 de junho de 2015

DIA DOS NAMORADOS

O Dia dos Namorados se aproxima. E quero lembrar que amor não é só de um homem por uma mulher ou de uma mulher por um homem. O amor assume as formas mais variadas e como disse o poeta, qualquer maneira de amar vale a pena.
E como disse Ítalo Calvino na epígrafe que usei em meu livro Exercícios de Amor, que retirei do livro O Dia de Um Escrutinador, Cia das Letras , " O humano chega aonde chega o amor, não tem fronteiras a não ser as que lhe damos."
Se o amor não tem fronteiras, toda forma de amor é lícita, só o desamor é ilícito. E quem ama não machuca, o amor precisa ser generoso para ser amor.
No meu livro de contos, cada um tem o nome de um personagem, homem ou mulher. E abordo com delicadeza muitas maneiras de amar.
O conto que escolhi para transcrever aqui como presente do Dia dos Namorados, e que irei dividir em três pedaços, é bem simples, singelo e fala de recomeço, de esperança, de chuva e de sol.  Fala de um amor que ficou latente, semente adormecida, o amor de um homem por uma mulher...

MARIA

   A chuva era uma cantilena que trazia ecos de um pátio da infância. Vozes perdidas enchiam a memória de cantigas de roda, mas nem por um segundo o metrônomo deixou de partir o tempo durante dias e meses e anos, até desembocar neste preciso instante onde Maria, com uma carta no colo, olha pela janela da sala os cacos de chuva, ao abrigo.
   Quando acordou nessa manhã de abril, ao descer para apanhar o jornal e a correspondência, não havia nenhum aviso no céu, além da chuva, do que estava para acontecer.
   Maria olha pela janela com a carta nas mãos e o que vê é um barco ancorado no cais, e ela, uma jovem menina, pronta para o passeio, enquanto seus pais lhe fazem mil recomendações. Eles a esperariam, na volta, no mesmo lugar.
   A carta traz um selo do Chile. E um nome: Julian. A doçura do nome esquecido em algum desvão da memória, oscila junto com o barco. Era um saveiro azul e branco e os turistas já se acomodavam prontos para a partida. Enquanto o barco se afastava naquela estrada de água clara, seus pais acenavam do cais e a família à sua frente falava espanhol. Um casal, um menino de uns oito anos e um rapaz de dezoito ou vinte.
   Sua rua é calma, as árvores suntuosas derramam verde na calçada.  O prédio é antigo, de três andares, construído na década de 50. Herança dos pais que morreram ano passado num acidente de avião. O bairro guarda certa inocência e a proximidade do mar, às vezes, traz um ar salgado e bom. Mas hoje traz saudades.
   O rapaz sorri para ela do banco em frente e, num átimo, senta-se ao seu lado. Eles conversam, cada qual em sua língua e, cada vez que ele fala, Maria estremece como se um vento desconhecido passasse por sua pele.
   O barco para numa pequena ilha e Julian a ajuda a descer. Sua mãe é doce e quente. Eles mergulham juntos no mar. Caminham até o final da praia abraçados.

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                                  CONTINUA AMANHÃ

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