sexta-feira, 30 de outubro de 2015

FLORES RARAS

Ontem revi o filme Flores Raras que ainda é mais belo que o livro, a história de amor entre Lota e Elizabeth Bishop. Os momentos em que a poeta está criando são de uma intensidade, como os versos vão se formando dentro dela, o seu processo de criação, é muito emocionante.
Que poeta maravilhosa.
Um de seus poemas mais belos e conhecidos, foi lido num dos encontros do nosso Clube de Leitura pela Professora Zete, que veio do sertão da Bahia para nos conhecer:
 

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.


Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito

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