Para lidar com a imensidão do tempo, fracionamos o tempo. E inventamos rituais. Dezembro, o último mês do ano é sempre um espelho das nossas realizações e do que gostaríamos de mudar. Tempo de arrumar gavetas, jogar papéis na lata do lixo, fazer promessas que raramente cumprimos. Dezembro seria um portal para uma outra dimensão: o futuro. Mas o futuro não existe, ele é agora, enquanto escrevo, já que para dar um passo, um dos meus pés está no ar e quando eu o coloco no chão ele já transformou o futuro em presente.
Quando eu era criança meu pai tinha uma loja no Grajaú. Vendia um pouco de tudo e no Natal vendia brinquedos que ele expunha na calçada. Eu enchia os olhos com aqueles brinquedos, mas como judeus não tínhamos Natal. Jesus sempre foi uma figura problemática para os judeus, pois apesar de Jesus ter sido judeu, um povo inteiro foi culpado por sua morte quando todos sabem que os romanos mataram Jesus. Mas acho que os judeus deveriam reivindicar sua figura histórica de contestador. Jesus foi um homem que não aceitou o papel de vítima e nem a figura de um Deus cruel e vingativo. Jesus trouxe a idéia revolucionária de amor e quando ele diz que ao inimigo se tem que dar a outra face, ao contrário do olho por olho e dente por dente, ele quebra um ciclo interminável de vingança. Se o Natal existe para lembrar o nascimento de Jesus, o Natal deveria ser uma festa simples. Que cada um preparasse com amor os presentes que deseja oferecer. Mas o Natal virou uma festa de grande consumo e Jesus era um homem simples. Quando vejo as pessoas enlouquecidas comprando freneticamente, penso que não há nada que justifique isso. Para as pessoas que a gente ama nada melhor do que oferecer amor todos os dias. Então todos os dias seriam Natal.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
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