domingo, 12 de fevereiro de 2012

O AMOR POSSÍVEL

Tenho meus rituais para receber os amigos do Clube de Leitura. Ontem acordei às cinco horas da manhã e fiz dois pães, um com queijo parmeggiano na massa e o outro de milho com pimenta calabresa. Deixei todo o almoço pré preparado para entrar no forno. E já as 10hs chegaram os primeiros convidados, Hélio e Fernando, Francisco. Depois Messias que veio do Rio e o trio de Duque de Caxias, Felipe, Andrea e Cris. Vieram os convidados do Paraná, de Maringá, Maristela , Wagner e a filha Adah. Chegaram Pepito de São Pedro da Aldeia e Angela do Rio. Chegou Maria Clara. Parecia que já estávamos todos e começamos lendo o próprio Saramago explicando o seu jeito de escrever, como isso aconteceu, como ele disse não a tudo o que já estava aí, no belo livro O Amor Possível do Juan Arias que a Manati publicou aqui no Brasil. Então Felipe, que é contador de histórias contou o começo das Mil e Uma Noites e começamos a entrar no O Cerco de Lisboa. Fernando nos disse que a estrutura do livro lembrava As Mil e Uma Noites, histórias dentro da história. Messias falou do desconforto que uma escrita tão anti convencional nos causa, o desconforto do novo, de algo que não existia. Falamos das tradições orais, Maria Clara lembrou que Walter Benjamin disse que a literatura escrita exclui todo um universo e o próprio Saramago diz que ele o que quis foi recuperar esta oralidade. Então chegaram Flora e Héctor trazendo um bolo de frutas.
Flora e seu marido compraram o livro e não conseguiram ler. Andrea disse que teve muitas dificuldades para entrar no livro, mas de repente pensou, "mas é assim que meus alunos escrevem, sem pontuação! então faço de conta que estou lendo meus alunos, já que eu os entendo!" Hélio ficou maravilhado com a reconstrução histórica, os passeios do personagem por uma Lisboa real e outra adivinhada , a que existiu na época dos árabes. Todos nos maravilhamos com o contraste entre a luz e o almuaden cego. Juan contou da nossa estadia em Lanzarote e como era emocionante a relação do Saramago e Pilar, já que todos acharam que a história de amor entre o revisor e Maria Sara era um espelho da relação dos dois. Wagner nos falou do filme da vida deles e amou o livro. Messias lembrou o desejo de totalidade do autor, querendo dar conta de tudo, de todos os pensamentos, falamos de como o tempo fica anulado, existem todos os tempos e Ouroana e Mogueime oitocentos anos antes espelham e interferem no amor de Raimundo e Maria Sara. Maria Clara acaba de voltar de Lisboa e nos falou da história de Portugal , da força que tem Santo Antonio em Portugal,do Messianismo, do sebastianismo. Ela perdeu seu passaporte mas com a ajuda de Santo Antonio ele foi recuperado, numa história tão bela que daria um conto. Juan nos diz que Saramago dizia que só o não constrói e as guerras coneçam sempre com um sim. Começamos uma discussão sobre o sim e o não, infindável. Disse Messias que sem o não seria impossível existir qualquer sociedade já que prevaleceria o impulso do prazer. Todos falaram que o livro começa a fluir melhor a partir da história de amor, quando Maria Sara irrompe na vida do Raimundo. Todos falaram da genialidade do autor , de como é difícil rasgar o que já existe e começar algo realmente novo. Maria Clara lembrou que as vanguardas precisam sempre dizer não ao que estava antes. E mesmo quem não gostou do livro acho que com a discussão acabou gostando. E falamos também da sensação que se tem com o livro de que todos os tempos continuam existindo, sempre.
Pepito leu maravilhosamente um poema dos 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, que era o outro livro do nosso encontro. Como está apaixonado, fez uma leitura inesquecível. Juan , a meu pedido leu um dos poemas para mim, eu mesma me dediquei o poema! E Hector, que é argentino leu um terceiro poema, já que achei melhor que ouvíssemos os poemas em espanhol. Mas Fernando trouxe um dos poemas dos Versos do Capitão e nos contou que foi a sua primeira revelação poética e nos leu o lindo poema.Falamos de como o melhor do Neruda está em seus poemas de amor. Hélio nos contou da sua visita a Isla Negra e nos mostrou fotos de um belo livro.
Angela fabricou caixinhas mágicas para todos e em cada uma colocou uma bonequinha ou bonequinho na tampa e um texto que tivesse alguma relação com a pessoa lá dentro. Um gesto de tamanha delicadeza vi poucas vezes em minha vida.
Éramos dezoito pessoas na mesa . Foi maravilhoso o nosso encontro.

5 comentários:

  1. Foi maravilhoso, sim, foi mágico, Angela!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Foi sim, Roseana, ele foi maravilhoso e mágico.
    Esta é a sua grande missão: oferecer um lugar bonito, aconchegante, que alimenta o corpo e a nossa alma.
    Sempre fico impactada pela presença do pão e do vinho em sua mesa. Eles sempre me levam a um passado distante, e com certeza a um passado muito bom.
    É um vento distante...
    Bem, não se encontra muito por aí, um lugar em que se possa discutir um livro, de falar de amor, de poesia, de romance e de muito mais coisas com tanta dedicação.
    Parabéns prá você! É uma belíssima missão.
    Vou aproveitar a sua frase escrita para mim para lhe dizer que esse gesto de tamanha delicadeza vi também poucas vezes em minha vida.
    Mas a nossa missão do restante do grupo é garantir que este espaço não se perca, lendo sempre,afinal de contas não é muito dispendioso comprar um livro e,sobretudo comparecendo com amor aos encontros.
    Em tempo: as caixinhas é um mérito ao que acontece sempre nos encontros.
    Bendito o dia em que conheci esse Clube.
    Obrigada!
    Angela

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  4. Angela, obrigada pela tua maravilhosa presença sempre, pela tua delicadeza sempre!

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