domingo, 15 de agosto de 2010

GULLAR

Ferreira Gullar, nosso grande, imenso poeta, publica um novo livro em setembro, e essa é uma excelente notícia. Gullar publica pouco, seu último livro, Muitas Vozes, já tem 11 anos. Gullar é o poeta vivo que mais amo, foi fundamental para que eu ousasse escrever poesia. Seu livro PoemaSujo me deixou completamente abalada quando o li, em 1976, quando saiu. Foi o meu passaporte para a poesia.
A Revista Saraiva traz dois poemas inéditos do livro novo, Em Alguma Parte Alguma, que saírá pela José Olympio:

ACIDENTE NA SALA

movo a perna esquerda
de mau jeito
e a cabeça do fêmur
atrita
no osso da bacia
sofro um tranco

e me ouço perguntar:
aconteceu comigo
ou com meu osso?

e outra pergunta:
eu sou meu osso?
ou sou somente a mente
que a ele não se junta?
e outra:
se osso não pergunta,
quem pergunta?
alguém que não é osso
(nem carne)
em mim habita?
alguém que nunca ouço
a não ser quando
em meu corpo
um osso com outro osso atrita?


O DUPLO

Foi-se formando
a meu lado
um outro
que é mais Gullar do que eu

que se apossou do que vi
do que fiz
do que era meu

e pelo país
flutua
livre da morte
e do morto

pelas ruas da cidade
vejo-o passar
com meu rosto

mas sem o peso
do corpo
que sou eu
culpado e pouco

2 comentários:

  1. Amo esse poeta-maior.Aguardo seu novo livro nas livrarias.Beijos tietes!

    ResponderExcluir
  2. isso de se idolatrar um poeta numa época, outro noutra época e assim por diante são coisas de época, efêmeras porque encerradas num contexto social no espaço-tempo.

    ResponderExcluir