quinta-feira, 5 de agosto de 2010

RUA SÃO SEBASTIÃO

No final da rua onde estou hospedada, na Urca, há uma escadaria . Ontem subimos e a escada termina na Rua São Sebastião. Lindíssima, congelada no tempo. Diz minha sobrinha Julia que é a primeira rua do Rio, a mais antiga. Conversávamos eu e minha irmã, sobre intervenções urbanas, o que um artista pode fazer no espaço público para que as pessoas parem para olhar. EntãoEvelyn escreveu um texto e me entregou:

"Sempre gostei da palavra tropeço. Curioso que ela própria, a palavra, traz em si a idéia de tropeçar, assim sinto a sua sonoridade.
Tropeçar com os olhos, isso é o que acontece quando no meio do caminho tem algo que não estava ali antes e que nos faz parar, pensar, desarrumar nosso hábito de não perceber o entorno que nos toca.
As interferências urbanas, o que de repente acorda nosso olhar, nosso corpo, o que desfaz a nossa conhecida percepção das ruas, do bairro, da cidade, acorda também sensações e memórias, acorda os múltiplos sentidos.
“Havia uma pedra no meio do caminho”... quanto esforço temos que fazer para vê-la?
Assim, a escultura, a instalação, as cores inusitadas, o que nos tira da cegueira habitual, o que move o quebra-cabeça e faz com que tenhamos que recolocar as peças no lugar, ou buscar um outro lugar...essa interferência é o despertador urbano que nos acorda e nos dá o nosso espaço , como um presente que temos que desembrulhar cuidadosamente, para não quebrar."

Depois tomamos um pingado no Bar Urca e comprei um livro no jornaleiro quase em frente. "O assassinato e outras histórias" de Anton Tchekhov, com tradução de Rubens Figueiredo. O livro é primoroso, com capa dura, belíssima, marcador de pano, texto complementar muito bom. Custou 14,00. Apenas. Os contos são longos e maravilhososos. Leio em estado de graça. Saí da Hungria do Sándor Marai para a Rússia. Trenós e cavalos me conduzem para os desvãos da alma humana.

4 comentários:

  1. Nossa Roseana: irmã de peixe, "peixinho" é. Essa sua irmã Evelyn escreve bem legal, não é? Ela deu um colorido nos tropeços e nas pedras para nos dizer o quanto cegos somos. Provavelmente estiveram ali, uma vida inteira, mas andamos sempre tão apressados que deixamos de observar coisas tão simples e de grande beleza que estão a nossa volta.
    Será que não fazemos assim, também com as pessoas?
    Beijinhos,
    Angela

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  2. Angela, a Evelyn vai amaro teu comentário!!!

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  3. Ao ler o que a Evelyn escreveu, ainda mais depois de conhecê-la pessoalmente,imagino que "Tropeçar com os olhos" seja o que acontece quando se passa em frente a escola onde o muro é feito de cerâmicas, Colégio Estadual Campos Sales, em Teresópolis, com traços de cada um que ali vive e convive, muitas vidas, histórias... e a Evelyn transformou em mural, em arte e para sempre...
    Lindo texto!
    Beijos, meninas!!!
    Lourdes

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