terça-feira, 31 de agosto de 2010

RECADO PARA OS AMIGOS DO LATUF

Acabo de falar com a Maria, irmã do Latuf, em Belo Horizonte. A situação do Latuf melhorou muito. está bem menos sedado, com os olhos abertos, sem febre. Esta semana terminam de retirar a sedação. Ainda está fazendo transfusões de sangue pois as plaquetas precisam subir mais. Em breve poderá respirar sozinho. Os médicos dizem que o pior já passou e que é tudo passo a passo, dia por dia. Continuamos na torcida. A vida vai conduzir o Latuf de volta aos livros e aos amigos.

ANJOS

Sou apaixonada pela beleza dos anjos, míticas criaturas, mistura do divino e humano. Acho maravilhosa a idéia de que todos temos um anjo protetor ao nosso lado, nossa sombra benigna. Ficar órfão de um anjo é uma experiência muito dura. Mas os anjos , nos diz Rilke, também são terríveis por excesso de beleza. Ouçam:
" Quem, se eu gritasse, entre as legiões dos anjos me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo anjo é terrível."

Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno

Quem alguma vez já não se sentiu aniquilado por um excesso de beleza, por um momento de beleza, quando parece que todos os nossos sentidos são poucos? Quem alguma vez já não se sentiu tão só que nem mesmo um anjo ousaria se aproximar? Mas os anjos andam entre nós, e nos ajudam a carregar nosso fardo humano. São os amigos, os que nos abrem as mãos e nos deixam navegar em suas linhas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MALAS PRONTAS

Acabo de arrumar a mala. Vou passar 30 dias fora e consigo arrumar tudo numa pequena mala de aeromoça. Levo dentro do avião pois tenho pavor de perder a bagagem. Fico orgulhosa : sou uma mulher bastante portátil. Levo um vestido lindo para Kira, nossa neta e também uma colcha de retalhos. Para o Luis, meu netinho, um livro de pano e para Maya, minha enteada um monte de colares de semente. Os presentes levamos numa mala separada. Nossa viagem começa em Santiago de Compostela e depois de 24 pequenas cidades terminamos em San Sebastián no País Basco. De todas as cidades perdidas que vamos conhecer só Santiago e San Sebastián são grandes cidades, das outras não sei nada. Adoro surpresas. Durantes os primeiros 15 dias não sei se terei acesso a algum computador, talvez não. Ficarei incomunicável. No dia 15 de setembro irei para Granada e então poderei responder a todos. Estou feliz, com um pé na estrada.

Para que o dia
seja todo de estrelas
e magia,
estranhas flores
ao pé da estrada.

in Jardins

domingo, 29 de agosto de 2010

SINFONIA

Hoje os pássaros estão inspirados. Fazem uma sinfonia. Talvez saibam que é domingo. Há um ar de verão.

Ontem recebemos o médico que me operou, Dr.Sigiliano passou o dia aqui em casa e nos contou coisas surpreendentes: que tem uma fazenda, que fabrica uma cachaça artesanal que se chama Água da Mata e teve que fazer um curso de dois anos sobre cachaças com monografia e tudo. Quando não está operando está na fazenda. No final da tarde fomos até a bela Igreja de Saquarema para ver o sol cair no mar. É uma vista impressionante.

A vocação da casa é receber amigos.

OS RELÓGIOS

um amigo pode salvar o mundo
a rota perdida de um sonho
com seus gestos bailarinos
mãos de unguento e unicórnio

um amigo pode atravessar a pele
a dura estrada da pele
dura como um carvalho
e tocar de leve na alma
como se toca uma planta rara
como se toca o inesperado
no meio do vale

um amigo pode parar os relógios
na hora do medo

in poesia essencial

As últimas notícias do nosso grande amigo Latuf são boas, animadoras: ele continua sem febre e esta semana os médicos começarão a tirá-lo do coma induzido. O telefone do Hospital Vera Cruz em B.H onde ele está internado : 31 32901255, leito 1017.

Acabo de ver passar uma baleia. Emociona.

sábado, 28 de agosto de 2010

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte delira

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte se espanta

Uma parte de mim
é permante;
outra parte
se sabe de repente

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

Hoje o sábado nos traz o caderno Prosa e Verso inteiro sobre Ferreira Gullar. É um grande presente. Não percam.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

GIRASSOL

EU FIZ UM POEMA

Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gogh
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio de sol atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
Agora
não sei que chuva o escorreu
suas palavras estão apagadas
alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade morta.
O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...

Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?

Mario Quintana
in Esconderijos do Tempo

O que faz a magia de um poema? O que faz com que brilhe como um girassol e não seja apenas um punhado de letras mortas? Cada poema tem o seu mistério e terá que soprar na alma do leitor para que se transforme em música.

Falei com Flávia agora, sobrinha do nosso querido Latuf e as notícias são promissoras: ele está completamente sem febre, a infecção pulmonar já cedeu completamente. Dentro de poucos dias terão que retirá-lo do coma induzido pois há um limite para este procedimento. O problema é que quando diminuem a sedação ele fica extremamente agitado. Quando estiver acordado e consciente poderá respirar outra vez. A família está muito positiva e seu amigo Dr.Luis, que mora em B.H disse estar otimista também. Temos que conversar com Latuf em pensamento e pedir que se acalme para que possa voltar ao nosso convívio.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DIREÇÕES

Paro um minuto,
sou meu próprio cata-vento:
farejo a direção exata
para que me perca
em trilhas azuis e abstratas.
Busco tudo o que seja inútil;
uma canção inacabada,
um poema escrito à mão,
uma garrafa e sua mensagem
numa lingua ainda não decifrada.
Não quero acertos, quero erros,
um relâmpago e seu segredo.

O poema está no meu último livro Carteira de Identidade, ed. Lê. Antes de publicá-lo a editora tinha muitas dúvidas sobre o livro. Achava muito "adulto". Sugerí que ela desse o original para alguns jovens e ouvisse suas opiniões. Eles adoraram. E o livro, com ilustrações da Elvira Vigna, está andando bem. Já vendeu para dois projetos 4.500 exemplares. É muito difícil classificar poesia por faixa etária. A poesia quando é boa percorre todas as faixas, já vi livros que eu pensava que só seriam lidos por jovens , serem indicados para crianças bem pequenas. E vice-versa . A poesia, ainda bem, é um mistério.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Café da manhã com Mandela

Hoje acordei com a mão na massa: fiz dois pães recheados com queijo . Calculei o tempo para que estivessem quentinhos na hora do Café. Deu tudo certo. Os pães ficaram lindíssimos e muito saborosos. Não sobrou nada! Chocolate quente e bolos completavam a mesa.
A varanda estava repleta. Trinta pessoas entre alunos e professores.
Falamos da ausência do nosso escriba Professor Latuf e fizemos um jogral com seu poema Evocação do livro Águas de Saquarema. No final do poema gritamos seu nome bem alto para que ele retorne logo ao nosso convívio.
Depois comentamos a performance das escolas de Saquarema na avaliação do IDEB. Saquarema melhorou muito. E então discutimos o futuro do livro impresso. Se vai acabar ou não. Lemos uma crônica maravilhosa da Miriam Leitão onde ela nos dá a resposta: o livro não vai acabar nunca, pois o seu formato, se papel ou digital, não importa. O que importa é a sua chama.
Lemos um capítulo do livro Os Caminhos de Mandela de Richard Stengel. Mas antes da leitura falamos sobre Mandela e o apartheid, a sua luta, a África do Sul. Relembramos todos os grandes heróis da humanidade, os que pregavam a paz, Martin Luther King, Gandhi, Desmond Tutu...Falamos da violência da sociedade humana, do poder dos donos das armas.
O capítulo do livro se chama Encontre a sua Horta. Richard Stengel nos conta que Mandela conseguiu em sua prisão na Ilha Robben uma autorização para fazer uma horta. E a horta trouxe ganhos impressionantes para todos. Para Mandela era um refúgio, uma meditação, a sua ilha particular de quietude e paz. Para os prisioneiros era um acréscimo de vitaminas na alimentação diária e para os carcereiros uma maneira de mudar o ponto de vista.
O texto emocionou a todos e muitas histórias percorreram a varanda. Falamos de ubuntu, o maravilhoso conceito africano de “irmandade” onde eu só existo porque o outro existe. Falamos de “bullying” nas escolas e a crueldade que é um ser humano humilhar outro ser humano.
Nossas gatas Nana e Luna estiveram presentes o tempo todo. Juan, que escreveu em seu livro 50 Motivos para Amar o Nosso Tempo, ed. Fontanar, um capítulo sobre o Ubuntu, ao meu lado, sempre. Juan é meu grande incentivador. Ele adora os Cafés Literários.
Reunidos em volta da mesa , a felicidade jorrava e enchia a varanda e os corações. Já marcamos o próximo encontro: dia 1 de dezembro.

CAFÉ DA MANHÃ LITERÁRIO

Hoje é dia de Café da Manhã Literário. Espero 30 pessoas entre alunos e professores. A mesa já está posta: bolos, pães recheados, chocolate quente. O dia está magnífico. Vamos ler todos juntos um poema do Latuf para que ele nos escute de longe, uma crônica da Miriam Leitão e um capítulo do livro sobre o Mandela. Para mim os Cafés Literários na varanda com as crianças sentadas sobre os tapetes coloridos, alunos e professores misturados saboreando um texto, é o maior presente que existe. Fazer pensar deveria ser a primeira preocupação da escola. Somos manipulados em tempo integral e nossa única defesa é saber pensar.

Recebí a capa do livro de contos Vento Distante que sairá em setembro. Amei. É uma grande felicidade estar com um livro novo quase nas mãos. É como estar no limiar de uma floresta.

Minuto de publicidade: o Ateliê de Cerâmica Evelyn Kligerman está aceitando encomendas para o natal: ekligerman@yahoo.com Suas peças utilitárias são lindíssimas: pratos, xícaras, vasos, bules, bandejas, em suas mãos se transformam em objetos de arte.

Acabo de falar com a Maria, irmã do Latuf . O estado dele é estável, sem febre e já cogitam em diminuir a respiração por aparelhos. Está sem febre, porém voltaram a sedá-lo, porque ficou muito agitado.
Hoje, durante o Café Literário, falamos seu poema em voz alta e gritamos seu nome. Contei para Maria e ela chorou. Hoje à tarde ela vai contar para ele.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

UM MUNDO SEM ARMAS

O Irã apresentou ao mundo seus últimos brinquedinhos mortais, como a avião com o sugestivo nome de Embaixador da Morte. Traficantes fortemente, fartamente armados invadem um hotel 5 estrelas em Sâo Conrado no Rio de Janeiro. O Paquistão afunda numa tragédia de proporções bíblicas, milhões de pessoas desabrigadas e desesperadas, mas o país, parece, possui armas atômicas. Não seria tão mais simples se todas as armas fossem banidas do planeta Terra? Com o que os Estados Unidos gastaram na guerra do Iraque daria para mudar o mundo, salvar a África. Então os homens, esses bichos violentos e estranhos seriam obrigados a dialogar, brigar apenas com palavras, que também matam, mas apenas simbolicamente. Nada mudou desde a Idade da Pedra. Para conquistar, possuir, aniquilamos o outro, nosso semelhante, com armas mais sofisticadas,claro, do que um arco e flecha ou um pedaço de pau. Que se fechassem todas as fábricas de armas do mundo .

Acabo de ligar para o Hospital Vera Cruz onde está internado nosso amigo Latuf: o estado dele continua grave, mas está sem febre.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O RIO

Ser como o rio que deflui
silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
como os rios as nuvens são água
refleti-las também sem mágoa
nas profundidades tranquilas.

Manuel Bandeira

Manuel Bandeira quando eu era muito jovem foi uma das minhas maiores paixões. Aprendí com ele que poesia se faz com as coisas miúdas da vida, com palavras simples, memória e musicalidade. Manuel Bandeira estabelece uma relação tão íntima com o leitor que é como se os seus poemas fossem o nosso pão imprescindível. Volta e meia tenho que ler Bandeira. Ele me ajuda a respirar. A fluir como o rio.

domingo, 22 de agosto de 2010

LINGUAGEM

Há dias em que penso
ser minha linguagem,
talvez, a do vento.

Takuboku Ishikawa
(1885-1912)

Às vezes me sinto perdida entre dois mundos: o meu, que se esvai, e esse novo mundo, o da velocidade, do tempo acelerado, da imagem ocupando todos os espaços, da hiper informação. Por dentro sou lenta e a minha linguagem é a do vento. Tento não deixar escapar o melhor de um mundo que era o meu enquanto habitante de uma nova civilização. E o que era melhor? me pergunto. Talvez o tempo como dimensão.

sábado, 21 de agosto de 2010

LATUF ABRE OS OLHOS

Para os amigos do Latuf:

liguei hoje para o hospital para saber notícias do Latuf ,mas me disseram que hoje não havia boletim médico. Telefonei para sua irmã, Maria e ela me disse que pela primeira vez Latuf abriu os olhos. Ela leu para ele várias cartas e mensagens. Diminuiram sua sedação e ela me disse que o médico está com muita esperança de que o corpo comece a responder. Ainda está com pneumonia, mas trocaram o antibiótico. Dr.Messias, meu médico e amigo ligou para o hospital e conversou com os médicos e me disse: - é grave mas nem tudo está perdido. Continuemos nossa vigília poética.

EVOCAçÃO

Mar da noite, mar da noite,
para quem cantas, encantas
teu canto sonoro e profundo
do fundo das ondas cantantes?

Bem-aventurado e feliz o ouvido
que acolhe a canção do mar
e recolhe as pérolas da noite,
derramadas dos altos astros
para os abismos musicais
do mar solteiro e seresteiro.

Latuf Isaías Mucci

SÍLABA A SÍLABA

Tenho alguns livros quase saindo, reedições, livros novos. E não tenho nenhuma vontade de escrever. Talvez seja porque meu grande amigo oscila entre a vida e não vida, tenho um imenso desejo de me recolher, entrar na concha, ficar muito quieta.
Mas arrumo as malas para uma longa viagem , a vida , esse mar incessante. A vida, sílaba a sílaba, como no poema do Eugênio Andrade :

SÍLABA A SÍLABA

Eis sílaba a sílaba de uma cor perversa
o tempo quase nu para levar à boca
Como se fora minha a respiração do trevo
alcanço a linha de água

Habito onde o ar dói

as próprias mãos acesas

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ESCOLA PINTOR LASAR SEGALL

Estou sem internet desde quarta-feira, escrevo num cyber café, cercada de meninos jogando: não deveriam estar na escola? Ontem fui a Realengo, um convite da E.M Lasar Segall. A escola é simples, mas o afeto percorre a escola. As crianças chegam e vão direto comer, o refeitório é limpo, a comida cheira especialmente bem, e no centro da mesa uma gamela cheia de bananas. As crianças comem risoto de frango e as merendeiras são belas e calorosas, com seus sorrisos abertos. A delicada professora Sonia ( acho que é coordenadora) me leva para sua sala onde está servido um belo café com frutas , biscoitos, bolos... as crianças me olham do refeitório e começam a dizer meu nome, alegres e excitadas. Depois vamos todos para o pátio coberto. As crianças sentadas no chão esperam a sua vez de me mostrar seus números de poesia. Primeiro cantam todos juntos e depois cada classe se apresenta. No final sorteio 25 livros e os olhinhos brilhando são emocionantes.
A escola preparou um almoço magnífico para mim e as professoras. As sobremesas , feitas em casa pelas professoras eram um pecado divino. Depois chegaram os meninos e meninas da tarde e a roda da poesia girou outra vez. Sorteei outros 20 livros e deixei 5 para a Sala de Leitura. Saí feliz , imersa em carinho e com um buquê de rosas maior do que eu. As professoras, tão dedicadas, são fadas disfarçadas!!! Obrigada Sonia, pela acolhida!!!


Maria Clara me traz um livro lindo: Contos Contidos de Maria Lúcia Simões. Ouçam:

DISFARCES

Gostava de máscaras. Tinha-as todas, dos mais variados tipos e expressões. Chegava a usar várias em um só dia, trocando-as de acordo com o ambiente e a necessidade da hora.
Uma vez, olhando-se com seu próprio rosto não se reconheceu, pois o espelho não refletia imagem alguma. As máscaras substituídas frequentemente deixaram tantas marcas diferentes que terminaram por apagar-lhe os traços.

As notícias do nosso amado Latuf não são boas, pois ele continua no mesmo estado, sem reagir positivamente. Mas enquanto há vida, há esperança. E continuamos diariamente com sua alegria, generosidade, espontaneidade no coração.



terça-feira, 17 de agosto de 2010

TERRA MUSICAL

Acho que foi em 2001 que meu filho Guga me telefonou de algum lugar da Bretanha, na França, onde estava reunido com um grupo de músicos franceses e brasileiros montando um espetáculo e me pediu: _ mãe, faz um poema pro nosso convite, o título tem que ser Terra Musical, é o nome do espetáculo. Fiz o poema, metade em francês, metade em português, como ele me pediu. Depois traduzí o poema todo para o português e ele foi a semente do livro Rios da Alegria. Agora, tantos anos depois, o Guga me propõe uma troca: ao invés de irmos ao Marrocos ele queria me levar até a cidadezinha de Pont L´Abbé, na Bretanha, para me apresentar aos seus amigos músicos. Ele me conta que na época seus amigos ficaram muito impactados com o poema. E sempre quiseram me conhecer.Aceito a troca. E eu que nunca sonhei em conhecer uma cidadezinha perdida na Bretanha... Guga me diz: é uma viagem sentimental. E ele também quer apresentar seu filho Luis aos amigos franceses. Adoro as viagens assim, onde somos levados pelos ventos do amor e da amizade.

TERRA MUSICAL

Para onde vai a Terra
dentro do céu,
imenso barco carregando
nossas tristezas e alegrias,
pequenas felicidades azuis,
nosso coração, nosso hálito,
nossas esperanças?

Da Terra escapam os suspiros
e os gritos de todos os que nascem,
e tudo isso se junta à música silenciosa
do cosmos,
e vamos todos, mãos e pés entrelaçados.

Para onde vamos embarcados
com nossas vidas transitórias?
Embarcados na Terra Musical,
esse pássaro imenso
ondulando pelo céu,
atravessando as estradas
do silêncio,
até que um dia se encontre,
pequena estrela perdida,
a partitura da paz.

Os alunos do Prof Latuf me pedem notícias. As últimas notícias do Latuf não são boas. Ele continua na C.T.I em estado grave, no Hospital Vera Cruz em belo Horizonte. O telefone da CTI é : 31 32901255. Ele está no leito 1017 e todos os dias às 10hs sai um boletim médico.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

UM PEDAÇO DE MURO

Um muro de 600 metros de comprimento que há oito anos separa o bairro judeu de Guiló em jerusalém do vilarejo cristão palestino de Beit Jalla na Cisjordânia, nos arredores de Belém começa a ser destruído. Um pequeno passo para a paz. A queda do muro significa abertura, circulação de pessoas e de idéias, enfim, troca. Um pequeno passo para a futura destruição da barreira de 700km composta por cercas eletrificadas e placas de concreto que também separa Israel da Cisjordânia. Pequenos e simbólicos gestos podem mudar o mundo. Para apagar o ódio muitos muros ainda precisam ser destruídos.

Hoje fui bem cedo de manhã fazer exame de sangue em Maricá. Fazia um frio de montanha e a paisagem era tão bela , as fazendas ainda dormindo. Beleza alimenta.

Dentro de pouco tempo estarei longe de Saquarema abraçando pessoas que amo tanto: minha neta Kira, meu neto Luis, Maya, minha enteada, Guga e Patrícia, meu filho e minha nora, os sobrinhos de Granada, os amigos de Madrid, que bom que o mundo ficou pequeno.

Dia 25 será o nosso café da Manhã Literário. Virão 30 pessoas entre alunos e professores. Pela primeira vez não estará Latuf, meu amigo e escriba. Latuf continua na U.T.I em estado grave. Sua ausência é do tamanho do universo.

domingo, 15 de agosto de 2010

GULLAR

Ferreira Gullar, nosso grande, imenso poeta, publica um novo livro em setembro, e essa é uma excelente notícia. Gullar publica pouco, seu último livro, Muitas Vozes, já tem 11 anos. Gullar é o poeta vivo que mais amo, foi fundamental para que eu ousasse escrever poesia. Seu livro PoemaSujo me deixou completamente abalada quando o li, em 1976, quando saiu. Foi o meu passaporte para a poesia.
A Revista Saraiva traz dois poemas inéditos do livro novo, Em Alguma Parte Alguma, que saírá pela José Olympio:

ACIDENTE NA SALA

movo a perna esquerda
de mau jeito
e a cabeça do fêmur
atrita
no osso da bacia
sofro um tranco

e me ouço perguntar:
aconteceu comigo
ou com meu osso?

e outra pergunta:
eu sou meu osso?
ou sou somente a mente
que a ele não se junta?
e outra:
se osso não pergunta,
quem pergunta?
alguém que não é osso
(nem carne)
em mim habita?
alguém que nunca ouço
a não ser quando
em meu corpo
um osso com outro osso atrita?


O DUPLO

Foi-se formando
a meu lado
um outro
que é mais Gullar do que eu

que se apossou do que vi
do que fiz
do que era meu

e pelo país
flutua
livre da morte
e do morto

pelas ruas da cidade
vejo-o passar
com meu rosto

mas sem o peso
do corpo
que sou eu
culpado e pouco

sábado, 14 de agosto de 2010

AGORA É TUDO PRO LUIS!

Conhecí Caó Cruz Alves em 1996, em Ipitanga, praia perto de Salvador. Ele era amigo da Verbena, grande amiga e dona da casa onde eu estava hospedada. Caó tinha um jipe caindo aos pedaços que ligava com um palito de sorvete e era cartunista. Escreví um texto para o jipe e Caó ilustrou: foi o começo de uma parceria e grande amizade. Hoje entra no ar , no meu site, (www.roseanamurray.com) um desenho animado do Caó para um poema que fiz quando o Luis, meu neto, nasceu. Queria que fosse meu presente de aniversário pro Luis, pois ele fará um ano dia 30 de agosto. Caó trabalhou durante meses e hoje a animação caiu na rede. Estou radiante, pois o Luis, lá em Granada, na Espanha , já viu o desenho duas vezes e chorou quando o Guga desligou, queria mais! A música é do Guga e ficou perfeita. Caó me conta por telefone que chorou também quando viu tudo pronto, de emoção. Obrigada, Caó, por um trabalho tão belo! Espero que meus leitores se emocionem junto com a gente.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

LATUF MELHORA

Acabo de falar com a irmã do nosso querido Latuf e a situação melhorou muito. Está sem febre e já retiraram todos os aparelhos. Fizeram uma traqueostomia. Amanhã irão diminuir a sedação e ele já poderá interagir com as pessoas. estas são as últimas notícias.

PORTA-RETRATO

Ganhei da Inés, minha amiga espanhola, um porta-retrato maravilhoso. Todo feito de conchinhas brancas. Faz muito tempo eu guardava no fundo da gaveta uma foto antiquíssima dos meus pais. Eles estão jovens e lindos: olham para o futuro com olhos sonhadores. Não sei se já estavam casados. Possuem imensa vida pela frente, onde farão filhos, terão lojas, farão novos amigos, muitas viagens, terão alegrias, netos, decepções, doenças,e finalmente um antes e outro depois, irão embora , me deixando órfã. O porta-retrato foi feito de encomenda para a foto. Sento na cadeira de balanço e olho para a estante onde o coloquei. Me debruço em seus olhos, em seus anseios. Desde que se foram, nunca se foram.

Latuf, meu grande amigo, oscila. Uma hora melhora, outra hora piora. Ontem, me diz Flávia, sua sobrinha, teve febre. Hoje li um conto do Guimarães Rosa e penso: Latuf está na terceira margem do rio, mas sei que irá voltar.

BRILHO

Realmente
tem mais realce
o céu de Saquarema:
sol de aquarela,
lua luzidia
e mil trêmulas estrelas estranhas.

Latuf Isaías Mucci

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

DIA AZUL

Hoje em Saquarema o dia está azul , apesar das tragédias do mundo, dilúvio no Paquistão, mulheres à beira do apedrejamento, incêndios na Rússia, etc. O dia está imensamente azul e meu grande amigo Latuf aos poucos sai da crise.

SAQUAREMA
(Lembrando Eugênio de Andrade)

Este azul sobre a vila, o mar,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
veraneando ou com o tempo todo para perder,
este azul onde começa a luz de Saquarema,
rosa e lilás sobre a lagoa, esta luz de água,
nada mais quero de mar em mar.

Latuf Isaías Mucci

Uma amiga procura apartamento no Rio de Janeiro. Eu a acompanhei na visita a um belo apartamento no Humaitá. Ainda habitado, era muito estranho entrar numa casa mobiliada , com roupas e livros e cheiros de quem não conhecemos. A dona da casa tinha uma bela biblioteca e isso tornava o lugar aconchegante, acolhedor . Antes de ir embora perguntei se era professora de literatura e ela me disse: _Não, eu sou química.
Então lembrei que um dos escritores que amo era químico: Primo Levi e escreveu um belíssimo livro, A Tabela Periódica. E escreveu A Trégua, romance espetacular, cinematográfico, sobre a odisséia que foi a volta dos prisioneiros de Campos de Concentração para casa. Nenhuma matéria , nenhuma profissão é incompatível com a literatura.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ÁGUAS DE SAQUAREMA II

Continuo a minha corrente poética para trazer nosso amado Latuf, professor em todas as artes do mar e do ar, poeta e melhor amigo de tanta gente, de volta à vida.

INTERIOR

É isto mesmo o que eu quero _
esta mesmice,
mas com o mar como pano de fundo.
Que me perdoe o poeta,
mas esta não é uma vida besta.
Maior festa não há
que o mar diário.
Cenário mais solene não há
que o solo ondulante.
Melhor solidão não há
que a noite marítima.
Monotonia mais musical não há
que o marulhar.

Mesmo dia
Mesma noite
Mesmo horizonte
Um só mar.

Latuf Isaías Mucci

As notícias são melhores. Latuf começa a reagir. Embora ainda inconsciente, a infecção pulmonar começa a ceder.
Que o mar de Saquarema o traga de volta.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ÁGUAS DE SAQUAREMA

Em 2009 , Latuf publicou o livro Águas de Saquarema pela editora Tupy. Escreví na contracapa:
Latuf ancora seus poemas como barcos feitos de luz, no mar de Saquarema. Mar imenso e selvagem. Os ventos do cotidiano, com suas estrelas e sonhos e flores atravessam sua poesia: os poemas oscilam, belos e oblíquos e nunca se desnudam por inteiro. Há sempre algo que escapa a um primeiro olhar, como o mar que esconde suas cidades submersas e sereias.

VENDO O VENTO

As flores fazem
vênias ao vento:
Senhor dos ares.

As árvores acenam
braços ao vento:
Senhor das marés.

Os olhos cismam
reflexões ao vento:
Senhor dos sonhos.

Latuf Isaías Mucci

No dia do lançamento do livro, na Casa de Cultura Valmir Ayala, Latuf recebia seus convidados numa vestimenta dourada e oriental. Estava magnífico, explodia de felicidade: este livro era um dos seus sonhos. Cercado de amigos e alunos, Latuf voava ou andava sobre as águas.

Recebo notícias de Latuf: seu quadro continua grave mas estável. Continuemos soprando bênçãos para que seu barco atravesse a tempestade e chegue são e salvo, ancore no cais da vida.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LEMBRANÇAS

Hoje não conseguí ainda ter notícias do Latuf. Suponho que seu quadro não tenha piorado, eu teria sido avisada.
Latuf entrou na minha vida de mansinho, não me lembro em que ano e quando vi já estava completamente instalado em meu coração, sua presença já era imprescindível para mim e cada texto que eu lia, cada poema que escrevia, pensava nele. Nos cafés da manhã das Rodas de Leitura ele sempre chegava primeiro com um entusiasmo juvenil. Sempre vinha com alguma roupa maravilhosa, pois as roupas do Latuf são um capítulo à parte. Era o escriba das Rodas e suas crônicas interessantíssimas estão em meu site. Uma vez por semana almoçávamos juntos aqui na varanda e eu fazia seu prato, pois como ele sempre dizia, eu era a sua idiche mami. No mínimo uma vez por semana vinha lanchar. Sempre que podia eu fazia um bolo para ele ou comprava na padaria, pois ele ama bolo com café com leite. A sua cumplicidade literária comigo é total, embora ele saiba um milhão de vezes mais do que eu. Latuf é como um pássaro coloridíssimo. Via a vida com assombro, entusiasmo, tudo para ele era sempre novo. Latuf, queremos que escolha a vida.

domingo, 8 de agosto de 2010

ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO LATUF

Recebo as últimas notícias do Latuf e não são boas: hoje à tarde ele piorou, está com pneumonia e seu estado é grave. Estou muito triste e apreensiva.

CLUBE DE LEITURA DA CASA AMARELA

Ontem a reunião do Clube de Leitura da Casa Amarela foi iluminada. Além dos professores de Saquarema, tivemos a presença de Maria Neuza e sua nora Iara que vieram de tão longe, de Divinópolis para participar e Felipe e sua turma de Duque de Caxias. Eles trouxeram de presente uma muda de Dama da Noite com direito a uma história incrível. Aliás, ontem não faltaram histórias incríveis. O livro Quase Memória do Carlos Heitor Cony provocou em todos uma avalanche de emoções. Cony puxou o fio da memória de cada um, todos desembrulhamos nossos embrulhos. Foi interessantíssimo discutirmos juntos . Foram duas horas e meia de conversa até que fomos para a varanda almoçar.
De manhã bem cedo fiz um pão com queijo parmesão e eu e Vanda preparamos um arroz de bacalhau que estava divino. O segredo do arroz: um caldo de peixe.Vanda fez tabuli e as sobremesas, pudim de goiabada com queijo e um creme de chocolate. A alegria era intensa e os professores de Saquarema trocaram muitas figurinhas com o pessoal de Duque de Caxias. Iara, que mora na França, (estava de visita em Divinópolis), em Lyon e é bailarina e cantora, nos cantou uma canção belíssima e seu único acompanhamento musical era o mar. Felipe conhecia a canção e outras histórias se desenrolaram. Parecia um tapete mágico. Depois fomos para o jardim fazer fotos para o futuro.
Para o próximo encontro dia 6 de novembro a senha é o livro A Distância Entre Nós da indiana Thrity Umrigar.

Hoje vou passar o dia em Búzios com amigos muito queridos que vieram da Espanha. Só terei notícias do Latuf quando voltar mas meu coração sente que ele está bem.

sábado, 7 de agosto de 2010

NOTÍCIAS DO LATUF

A última notícia que recebí do Latuf é que está melhor, já saiu do período mais crítico. Recebeu duas transfusões de sangue e fez diálise. Agora sabemos que irá viver.

Amanhã conto tudo da nossa reunião do Clube de Leitura da Casa Amarela. Foi um encontro maravilhoso.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

LATUF

Latuf, meu grande amigo, amigo de todas as horas, de cumplicidades de literatura e vida, amigo do cotidiano e de voos imensos, está hospitalizado, em coma induzido por insuficiência renal. Está em Belo Horizonte com a família. Nós, os que o amamos queríamos que ele ouvisse nossas preces. Latuf tem uma legião de alunos e admiradores. Tem uma legião de anjos. Estamos ao seu lado soprando vida. Recebo de Salta, Argentina uma mensagem linda que escreveu Geruza:

Latuf, nosso amado:
Estamos em Salta, toda a tribo de Português, a brasileirada e o pessoal da Faculdade de Humanidades também, em Jujuy com o pessoal do professorado, no Rio com Hernán, na Amazônia também com o seu querido Joel, em Saquá com Roseana e Juan, em Macaé com o Luis, mais a sua linda Claudinha e a galera bonita e bronzeada da UFF, estamos todos, todos estamos torcendo por vc.
Dos mais chiquititos ao maior dos seus filósofos, todos os corações, todas as brincadeiras, todas as crenças, todo mundo confluíndo, falando por telefone e por e-mail, perguntando e à espera da sua alegria e do seu fino olhar sobre a vida, estamos todos em uníssono querendo que vc esteja bem, tranquilão, recebendo bênçãos e tratamento junto a esta família maravilhosa que vc tem e que está mimando você.
Cuide-se muito, meu rei. Seja comportado e sereno.
E já temos uma lista de gente boa para te cuidar em todo o continente.


Amanhã é o nosso almoço do Clube de Leitura. Faltará Latuf na cabeceira da mesa. Ele diz que sou sua mãe judia, ele, libanês. Por todos os que te amamos, não desista, Latuf.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

RUA SÃO SEBASTIÃO

No final da rua onde estou hospedada, na Urca, há uma escadaria . Ontem subimos e a escada termina na Rua São Sebastião. Lindíssima, congelada no tempo. Diz minha sobrinha Julia que é a primeira rua do Rio, a mais antiga. Conversávamos eu e minha irmã, sobre intervenções urbanas, o que um artista pode fazer no espaço público para que as pessoas parem para olhar. EntãoEvelyn escreveu um texto e me entregou:

"Sempre gostei da palavra tropeço. Curioso que ela própria, a palavra, traz em si a idéia de tropeçar, assim sinto a sua sonoridade.
Tropeçar com os olhos, isso é o que acontece quando no meio do caminho tem algo que não estava ali antes e que nos faz parar, pensar, desarrumar nosso hábito de não perceber o entorno que nos toca.
As interferências urbanas, o que de repente acorda nosso olhar, nosso corpo, o que desfaz a nossa conhecida percepção das ruas, do bairro, da cidade, acorda também sensações e memórias, acorda os múltiplos sentidos.
“Havia uma pedra no meio do caminho”... quanto esforço temos que fazer para vê-la?
Assim, a escultura, a instalação, as cores inusitadas, o que nos tira da cegueira habitual, o que move o quebra-cabeça e faz com que tenhamos que recolocar as peças no lugar, ou buscar um outro lugar...essa interferência é o despertador urbano que nos acorda e nos dá o nosso espaço , como um presente que temos que desembrulhar cuidadosamente, para não quebrar."

Depois tomamos um pingado no Bar Urca e comprei um livro no jornaleiro quase em frente. "O assassinato e outras histórias" de Anton Tchekhov, com tradução de Rubens Figueiredo. O livro é primoroso, com capa dura, belíssima, marcador de pano, texto complementar muito bom. Custou 14,00. Apenas. Os contos são longos e maravilhososos. Leio em estado de graça. Saí da Hungria do Sándor Marai para a Rússia. Trenós e cavalos me conduzem para os desvãos da alma humana.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SAKINEH MOHAMMADI ASHTIANI

Ua mulher, viúva, recebe uma sentença de morte por apedrejamento , não por matar, mas por fazer amor. Em pleno século XXI voltamos aos tempos bíblicos, onde Jesus salvou uma adúltera de receber a mesma morte, com uma frase apenas: " Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Mais de dos mil anos já se passaram e além disso Sakineh não é adúltera, ela é viúva. No Irã do tirano AHMADINEJAD, fazer sexo fora do casamento é crime e apoiado em leis ditas divinas a crueldade é servida em fartas porções. Onde foram criadas estas leis tão terríveis? Quem pode ter esse poder macabro? O Brasil ofereceu asilo a Sakineh, mas ela não deveria ter que abandonar o seu país para se salvar, ela não teria que ser condenada já que não cometeu nenhum crime.O Irã não aceitou a oferta do Brasil . O Brasil deveria gritar com o resto do mundo contra a tirania, os abusos de poder. O que fará o Brasil? Vai asilar todos os condenados do Irã? Que interesses econômicos aproximem o Brasil de tiranias cruéis é um absurdo. Talvez o Irã revogue a pena por apedrejameto e ela seja "apenas" enforcada. Mas quem sabe o mundo grite mais alto e Sakineh escape da morte e um dia as mulheres iranianas possam fazer amor livremente sem que tenham que morrer por causa disso.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O PEQUENO NICOLAU

Hoje assistimos, eu e Evelyn, minha irmã, a um filme maravihoso, imperdível: O Pequeno Nicolau. São situações da infância, o elenco de meninos é talentosíssimo e as histórias de vida são hilárias. O filme me levou de volta ao tempo em que meus meninos tinham sete, oito anos...época mágica. As crianças nessa idade precisam entender o mundo dos adultos, mundo muito complicado e suas interpretações são delciosas.

No Shopping da Gávea, numa loja de roupas, na vitrine, havia um poema do Ferreira Gullar, um poster imenso. Que beleza, tão inusitado o poema na vitrine, impactante. O poema se chama Olhar.

Chove. Conto cada pingo de chuva: é o tempo que escorre da ampulheta e que me levará de volta para casa.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MANDELA

Leio o livro OS CAMINHOS DE MANDELA de Richard Stengel e recomendo. Mandela é surpreendente e o livro nos mostra o grande homem e também a construção do mito.

De malas prontas para o Rio, a minha última semana de radioterapia. Hoje vou almoçar com meu filho André e minha nora Dani. Desde maio que não os vejo e eles estão vindo de Mauá para passar algumas horas comigo. Quem tem um restaurante e uma escola de cozinha não descansa nunca e eu só poderei ir a Visconde de Mauá em novembro ou dezembro. Estou ansiosa com o encontro.

Ontem saiu no jornal El País; 60% dos espanhóis são a favor das touradas. Ou seja, nós, os que não gostamos de sangue e violência parece que somos mesmo uma minoria.

E para terminar um poema do livro Bestiário de Marco Lucchesi onde ele diz que o poeta é uma fera cercada de palavras:

BOI

tive um boi
na minha infância
boi trazido
pelo vento

seu mugido
era intangível

e os olhos
lassos
cheios de piedade

boitempo

de uma infância

que não passa

domingo, 1 de agosto de 2010

QUASE MEMÓRIA

Termino de ler pela terceira vez o livro Quase Memória do Carlos Heitor Cony, livro que indiquei para a reunião do Clube de Leitura da Casa Amarela, sábado que vem.
Faltam poucas páginas. O livro é uma obra-prima e quanto mais o leio, mas me surpreende a sua amarração perfeita, como o embrulho que o filho recebe e que vai desatar o fluxo da memória, dando e desfazendo nós.

José Augusto Messias e sua mulher, Kátia, passam o final de semana em nossa casa. Nunca conhecí ninguém como o Messias, meu médico-amigo-irmão. Nos conhecemos desde 1970. A sua cultura é gigantesca em todas as áreas. Parece um ser de outro tempo. Nada nele é superficial. Sentimos por ele um oceano de amor e agradecimento. Kátia dirige um hospital como se dirige um jardim. Cuida de cada paciente, de cada funcionário, para cada um tem uma palavra especial. Kátia é a pessoa mais generosa que já conhecí, é mãe de todos que estão ao seu redor. Esteve ao meu lado nos últimos momentos da minha mãe, foi o meu anjo. Para o almoço vou preparar para eles uma muqueca de peixe. O dia está esplêndido. Amigos enchem a casa de sinos.