Lembro de todas as ruas onde morei e da sensação que cada uma me despertava, a atmosfera que me envolvia ao entrar em minhas ruas.
Meu primeiro endereço foi na Rua Araxá, no Grajaú, na Zona Norte do Rio. A rua era linda, só de casas e prédios pequenos. O nosso edifício tinha miosótis na frente e as flores azuis me acompanharam por toda a vida.
A Rua Barão do Bom Retiro, para onde nos mudamos quando eu tinha uns 5 anos era feia, suja, com um movimento incessante. Mas na frente da nossa casa, do outro lado da rua, morava a minha avó e isso transformava a rua.
A Rua Caruaru para onde fomos quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, era uma rua calma. Nossa casa, morávamos num sobrado, está intacta na minha memória, com cada azulejo, cada recanto. Na frente da nossa casa havia um orfanato e eu tinha muita pena daquelas crianças sem pais.
Então me mudei para Juiz de Fora, depois do meu casamento e tantas ruas fazem parte da minha vida.
RUAS
Por que ruas tão largas?
Por que ruas tão retas?
Meu passo torto
foi regulado pelos becos tortos
de onde venho.
Não sei andar na vastidão simétrica
implacável.
Cidade grande é isso?
Cidades são passagens sinuosas
de esconde-esconde
em que as casas aparecem-desaparecem
quando bem entendem
e todo mundo acha normal.
Aqui tudo é exposto
evidente
cintilante.Aqui
obrigam-me a nascer de novo, desarmado.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
BOITEMPO III
domingo, 30 de outubro de 2011
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