Hoje é o aniversário do meu filho Guga, que vive em Granada. Gostaria de aninhá-lo hoje, mas ele está longe. E o dia em que nasceu, hoje,pela lembrança, está perto. Morávamos numa chácara belissima, na Tijuca, no Rio. André, meu filho mais velho, me pedia exaustivamente um irmão. Foi ele quem escolheu o nome Gustavo. Assim como André é um nome aberto e amarelo, Gustavo é um nome lunar, prateado. O André, tão pequeno , adivinhou o irmão. Guga sempre foi felino, silencioso, filósofo, pensador, solitário.Nós dois podemos dividir o silêncio por horas a fio, então Guga diz alguma frase impactante e maravilhosa, para a gente saborear como uma fruta rara. Guga me deu muitos presentes inestimáveis, mas o maior , claro, foi o que fez com a Patrícia: meu neto Luis . Quem sabe o próximo aniversário do Guga já seja no Brasil, pois ele quer voltar. E eu, depois de sete anos , gostaria mesmo de ter meu filho morando aqui perto.
Ontem foi o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Recebemos muitas pessoas maravilhosas pela primeira vez: Loló, médica do Nesa, a unidade de Adolescentes do Hospital Pedro Ernesto, Mariana, médica do Nesa também e Messias, nosso maior amigo, culto e interessante como Diderot. E recebemos minha leitora Mariana, que veio de ônibus de São Paulo só para me conhecer, pois, diz ela que é apaixonada pela minha poesia desde os 7 anos!e quis festejar aqui o seu aniversário. Angela voltou, veio do Rio, Felipe, Andreia e Cris, da Secretaria de Educação de Duque de Caxias, Francisco, Pepito, Hélio, grande advogado, mas sobretudo grande paisagista e amante das árvores, Fernando,Maria Clara, eu e Juan. Este o nosso grupo que se reuniu ontem para discutir o livro Dois irmãos do Miltom Hatoum e o Poema Sujo do Ferreira Gullar.
Juan abriu a conversa lendo um trecho do seu livro a Bíblia e seus Segredos. O trecho que fala de Caim e Abel. A partir daí mergulhamos na casa incestuosa e fechada, que apodrece aos poucos como a floresta , falamos do narrador tão misterioso, que parecia a sombra da sombra, já que um irmão é a sombra do outro. Mergulhamos nos cheiros, na escrita caudalosa, na personalidade das mulheres, na urdidura perfeita do romance.Falei do que disse Vera Tietzman, que um irmão é fogo, o outro é gelo. E o grupo se dividiu ; metade aceitava o Caçula como pai do narrador, a outra metade achava que a questão estava em aberto, era mistério.Messias falou sobre o que é o segredo para a psicanálise: tão terrível que não pode ser nomeado. Andréia acusou o Francisco de querer sempre um final bem claro! E Felipe, para nossa surpresa, amou o livro, já que quase nunca gosta dos livros indicados. Pepito, só descobrí depois , trouxe um poema sobre os dois irmãos, mas manteve o poema em segredo, que pena.
Mariana, minha leitora, perguntou se escolhí o Poema Sujo junto com os Dois Irmãos pela questão do exílio. Eu não havia pensado nisso, mas claro que a questão do exílio e muitas outras coisas unem os dois livros.Foi maravilhoso o que a discussão do poema nos trouxe: a força avassaladora da poesia. Hélio ia ler o trecho do poema escrito sobre a partitura do Villa Lobos, mas lembrei de como Maria Clara tem uma linda voz e ela cantou este pedaço do poema. Mariana leu um poema que fez sobre a minha poesia quando tinha 14 anos.Samuel, nosso caseiro que a tudo assistia, ficou tão inspirado, que ali mesmo, fez uma trova para a Vanda, sua mulher.
O almoço, comidinha bem brasileira, arroz, feijão mulatinho, abóbora, batatas assadas no forno, farofa de couve, foi um sucesso absoluto.
E o próximo encontro será no dia 3 de dezembro com o livro Equador, de Miguel Souza Tavares e O Menino que Carregava Água na Peneira, do Manoel de Barros .
Mariana é dançarina e no final da tarde, Manuela trouxe um CD de música árabe e Mariana dançou maravilhosamente bem para nós três tendo o mar sobre a melodia.
domingo, 2 de outubro de 2011
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Roseana: parabéns pro seu filho Gustavo,tão parecido com o meu Gustavo.Que bom que ele pensa em voltar pro Brasil. Meu filho caçula e minha norinha também pensam em retornar daqui a dois anos(aiaiaiai...suspira meu coração de mãe,que deu lhes asas mas gosta de tê-los no ninho ....).
ResponderExcluirA cada novo relato de um encontro do clube de leitura percebo como foi rico e sempre promissor: o próximo será maravilhoso também.Beijos admiradores e amigos.
Sempre tenho a esperança de que você venha ao próximo!
ResponderExcluirBem eu nunca deixei de estar aí. Somente faltei apenas a um encontro, pois fiquei impossibilitada de andar devido a uma crise de hérnia de disco. Segundo o médico seria uma temeridade eu viajar por um período longo.
ResponderExcluirMas mesmo sem estar presente eu senti, aqui na minha casa, a energia de todos. O inconsciente é assim mesmo.
Quanto à ontem, caramba foi tudo muito bom. A comida maravilhosa (como sempre) a presença daqueles médicos com suas opiniões muito esclarecedoras, a presença da Mariana sua leitora desde os sete anos e, sobretudo a leitura do Juan fez o dia de ontem um dia MUITO ESPECIAL.
Ah! Roseana, eu sei que você não gosta que a gente fale assim, mas nós precisamos sempre lhe agradecer por este espaço que você criou tão generosamente.
Mande um grande abraço para o seu filho.
Com muito carinho,
Angela
Angela, é uma felicidade ter vocês aqui. Eu é que agradeço.
ResponderExcluirRoseana, saboreei o relato do encontro como se aí estivesse. Curioso como a memória nos impregna de cheiros, imagens, sons e emoções. Que riqueza de encontro! Espero, sim, poder estar entre esses corações amigos em dezembro.
ResponderExcluirAbraços carinhosos!
Ângelo