sábado, 30 de abril de 2011

ENCONTRO

Desde cedo acendemos o fogão de lenha para o almoço do Clube de Leitura da Casa Amarela. O cardápio era um arroz de sabor indiano com frango e frutas. O primeiro a chegar foi Pepito, meu cunhado, de São pedro da Aldeia. depois o Francisco, nosso querido Chico, Procurador do Município e poeta (Chico foi logo avisando que havia escrito um final para o livro Viva Chama da Tracy Chevalier). Então chegou Ângela, que veio do Rio de táxi, Taís , que se mudou de Saquarema para Niterói, Felipe, Andréa e Cris, de Duque de Caxias e outra Angela, professora da E.M Orgé de Saquarema. com suas duas alunas.
A sala já estava arrumada, e tivemos vários lugares sobrando, pois foram muitas ausências: Evelyn, minha irmã, a tia Alice, o Ângelo e Marta, que não conheço e que viria pela primeira vez.Sentimos saudades da Maria Neuza que um dia veio de Divinópolis com sua nora e todos queriam saber se ela voltará.
Poucos gostaram do livro, acharam morno e não conseguiram se envolver, mas enquanto íamos falando dos personagens, da época, dos opostos no livro, da cura pela arte, enquanto íamos tecendo outra vez a trama, todos se surpreendiam e se davam conta da riqueza do livro. Taís e Pepito falaram que a autora conseguiu fazer com que o leitor usasse os cinco sentidos, pois o tempo todo ouvimos,sentimos, tocamos a cidade de Londres do século XVIII. Li alguns poemas do Blake, dos livros que aparecem no livro, Taís trouxe uma gravura da ponte de Westminter e Chico nos leu o final que escreveu para o livro, um final romântico, engraçado e feliz.Escreveu até um poema intitulado Viva Chama, inspirado no William Blake. Como o final é aberto, muitas possibilidades se apresentam. Felipe nos disse que sente como todos os livros que tem lido dialogam entre si e como se sente enriquecido.
Depois de duas horas discutindo, fomos para a varanda. Éramos catorze pessoas na mesa. O dia estava esplêndido e a comida muito boa. O afeto está crescendo dentro do grupo, há uma espécie de irmandade. No final chegou o taxista da Ângela ( que me trouxe uma colagem muito bonita, entremeando a minha poesia com a de Cora Coralina)e como não havia almoçado, oferecí um almoço para que ele não voltasse com fome.
O próximo encontro será em julho e o livro escolhido: O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Marquez Marquez
Os encontros me deixam muito feliz, é como se todas as árvores brilhassem e anjos voassem em revoada enquanto discutimos.

CASAMENTO REAL E CLUBE DE LEITURA

O casamento real, assistido por dois bilhões de pessoas, foi como um conto de fadas coletivo, todos ouvindo e vendo a mesma história ao mesmo tempo: a moça plebéia, lindíssima, que se casa com o Príncipe.A cidade de Londres inteira era protagonista também, eram todos figurantes de uma festa que se multiplicava pelos bairros. Temos fome de histórias e de contos de fada.
E hoje , no nosso encontro do Clube de Leitura, teremos Londres bem perto, por tudo o que vimos ontem. E o romance Viva Chama se passa em Londres, na época em que viveu William Blake.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

EPOCABREU

Ontem cheguei em Barra de São João e fui tomada por uma grande emoção. A Casa de Casemiro de Abreu é belíssima e dá para a frente do rio. O rio, com sua rua de casas coloniais,é um convite ao passado. A praça , onde fica a casa, é maravilhosa e de repente havia uma banda de jovens tocando e me senti transportada realmente ao tempo de Casemiro.
A abertura do evento Epocabreu foi tão simples e bonita, alunos diziam poemas e um ator, vestido como Casemiro, fez a festa. É uma cidade que já é um poema.
Tivemos um lindo encontro com professores. Tinhamos no grupo duas bailarinas, uma pianista, um ator-contador de histórias e um repentista. Todos se envolveram e passamos uma manhã absolutamente mágica . Destaco o trabalho da Helena, por ser voluntário,professora de redação da Biblioteca, que mais tarde me trouxe seu grupo de alunos. Depois do almoço tivemos um encontro com estudantes de todas as idades e também foi uma delícia.Muitos mostraram seu talento. Iago, menino de no máximo uns 12 anos, compõe e escreve poesia e domina o palco: merece ser descoberto.Sugiro que os organizadores do Epocabreu no próximo ano coloquem o evento dentro das escolas , antes que o evento venha para a praça,para que as escolas possam comparecer em peso, o que não aconteceu, e é uma pena para as escolas. Se durante o ano elas realmente assumirem o evento, terão que participar mais.
Cheguei em casa feliz, plena, com a certeza de que a nossa tribo da sensibilidade anda plantando muitas sementes por aí.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

BARRA DE SÃO JOÃO

Cedinho de manhã. Espero o carro da Prefeitura de Barra de São João que virá me buscar para o evento de hoje. Terei duas horas de atividade poética com as crianças e uma oficina com professores também de duas horas. estou animada. A cidade é linda , com mar e rio e um casario colonial na beira do rio. Há uma Igrejinha bem parecida com a de Saquarema. Na volta conto um pouco do que vai acontecer.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

PRÊMIO

A E.M Hermann Muller ganhou um selo de qualidade que é como um grande prêmio. Transcrevo o e-mail que recebí da Silvane, a diretora:

Querida!
Conquistamos o selo AQUI SE APRENDE PELA EXPERIÊNCIA por estar entre as boas práticas brasileiras do Brincar e do Aprender pela Experiência.
Além do selo fomos contemplados com um brinquedo para o parque.
Voltei de São Paulo com muitas idéias...estou buscando parcerias para a construção de uma "Casinha da leitura" aqui na escola, que será mista com uma Casa da árvore...um SONHO! Assim que tiver o projeto em mãos, envio pra você...
Obrigada pelo carinho.
Amamos você!
Silvane

Registro a maravilhosa experiência da escola para que sirva de inspiração a todos que desejam fazer uma escola viva e diferente, uma escola que em primeiro lugar transforme o ser humano.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

VIVA CHAMA

Releio o livro Viva Chama de Tracy Chevalier para o almoço do Clube de Leitura no sábado. Gosto muito do livro, ele é vivo, teatral, colorido, parece um filme e a cidade de Londres pulsa como se estivesse ao alcance da mão embora a trama se passe nos anos mil e setecentos. Além disso fala do amor entre duas crianças.

Hoje , meu neto Luis, que representa todas as coisas que acontecem, me contou pelo skype que na sua varanda havia uma abelha. Como ainda não fala, teve que ir até a varanda, imitar a abelha voando e mostrar a mão onde a abelha poderia picar, além de fazer o zumbido. E meu filho atrás com o computador, pois ele tem que levar a vovó para onde vai. Para ele sou um brinquedo portátil. E minha nora me conta que Luis está perdidamente apaixonado por uma menina de 3 anos que tem uma moto de brinquedo e um capacete. A rua deles é sem saída e todas as crianças brincam no final da rua que virou uma espécie de pracinha. Há uma brinquedoteca na rua, onde todos levam os brinquedos que estão sobrando e então os brinquedos passam a ser comunitários. É uma linda idéia.

domingo, 24 de abril de 2011

PÁSCOA

Onde se encontram a Páscoa judaica e a Páscoa cristã? Talvez na palavra liberdade, já que a Páscoa judaica festeja a saída dos judeus escravos do Egito rumo à liberdade e a Páscoa cristã festeja a resurreição de Cristo, simbolicamente a libertação da morte. A Última Ceia terá sido o dia em que Jesus festejou a Páscoa judaica com seus discípulos, já que era judeu . Na minha infância festejávamos a Páscoa judaica na casa dos meus avós e para mim era tudo magia. A mesa resplandecia, cada alimento significava um ato da grande epopéia que foi sair do Egito e atravessar o deserto. A família inteira reunida com suas melhores roupas e minha avó , tão linda e miúda, uma pequena rainha. Meio século me separa daquelas festas, mas ainda seus cálices ressoam na memória.
Hoje nossos caseiros Vanda e Samuel, nos convidaram para um almoço de Páscoa em sua bela casa no bairro Jardim. Serão nossos anfitriões.
Feliz Páscoa para todos.

sábado, 23 de abril de 2011

DEVANEIO

Ontem Catalina, diretora dos Círculos de Leitura da Fundação Braudel esteve aqui e mostrei o caderno onde estou escrevendo o Diário da Montanha. Ela leu os poemas e me perguntou: "Onde você aprendeu a fazer poesia? E como faz para entrar em estado de devaneio?"

Aprendí a escrever poesia lendo poesia e ter feito uma oficina na Olac em 1984 com Antonio Carlos Secchin me ajudou muito, os exercícios eram sempre propostas maravilhosas. Mas as imagens que uso brotam do meu lago interno. Meu inconsciente é meu aliado. Quanto ao estado de devaneio, que eu chamo de estado de poesia, é quase o meu estado natural.Enquanto arrumo a casa deixo o pensamento voar, de vez em quando mergulho o olhar no oceano, nas gaivotas, no jardim. Quando cozinho estou em estado de poesia. É um estar aqui de uma maneira tão profunda que o instante é pura magia. Então de vez em quando escrevo um poema.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

Se a memória de Jesus atravessou dois mil anos, que brilhe sua lição de amor, liberdade e voo.
Recebo um lindo poema de Gloria Kirinus para a Sexta-Feira da Paixão:

SEXTA FEIRA SANTA DA PAIXÃO

ACOMODO LENTAMENTE

ESPINHOS

NAS BORDAS DO

MEU PRATO.


DE LONGE,

A SAMARITANA

APROVA ESTE BANQUETE

NUM CÁLICE

DE COMPAIXÃO


DOIS CEDROS

EM CRUZ

ACOMPANHAM MEU SILÊNCIO

E O ROSTO

ESQUIVO

DE CRISTO

PARECE QUE SANGRA

MENOS


Gloria Kirinus

http://www.gloriakirinus.com.br/

quinta-feira, 21 de abril de 2011

É TARDE?

Minha fisioterapeuta Leila, que é alucinada por bichinhos, é a única pessoa que conheço que tem gambás de estimação, me pergunta: _ "Queria fazer veterinária, é minha grande paixão. Você acha que é tarde? Quando me formar já estarei velha!"
O que é ser velho, é a primeira pergunta que temos que nos fazer. Fiz sessenta anos. Sou velha? Não me sinto velha, mas sim , pareço uma valise antiga cheia de selos dos lugares por onde passei. Reinvento a vida todos os dias e estou sempre aberta para viver coisas novas. Minha pele é o pergaminho onde o tempo vai rabiscando a minha história, os meus poemas. O pergaminho fica cada vez mais fino e as histórias cada vez mais densas. Agora voltei a estudar inglês e vou para a Irlanda em setembro fazer um curso de imersão por duas semanas.Depois voltarei a estudar italiano. Quero ter quatro linguas bem afiadas para poder ler no original. Estou velha para aprender novas linguas? Claro que não. Há que aprender coisas novas até o final da vida. Se vivemos a vida como uma grande e surpreendente aventura nunca é tarde para nada.Talvez Leila comece a estudar veterninária.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

ESCOLAS PREMIADAS

Silvane, diretora da Escola Municipal Hermann Muller, tão falada aqui no blog, me envia uma linda matéria do jornal Notícia:
Práticas adotadas em duas escolas de Joinville estão na final de prêmio nacional
Alunos das escolas municipais Hermann Müller e Germano Lenschow participam de experiências inovadoras de aprendizado
Mariana Pereira | mariana.pereira@an.com.br

"Duas escolas de Joinville estão entre 32 instituições finalistas de um prêmio nacional que reconhecerá as “Melhores Práticas do Brincar” e as “Melhores Práticas do Aprendizado pela Experiência” de todo o Brasil.

A entrega do prêmio, que faz parte do Programa Pelo Direito de Ser Criança, promovido pela Omo Unilever, será na quarta-feira, em São Paulo, e a expectativa das representantes joinvilenses é grande. Os alunos das escola municipais Hermann Müller e Germano Lenschow, na região rural de Pirabeiraba, estão confiantes.

Basta conhecer as escolas para saber por que as instituições têm grandes chances de vencer e receber o selo “Aqui se aprende pela experiência”.

Aprendendo com a voz da experiência

Os alunos da Escola Municipal Germano Lenschow sabem que aprender com a experiências dos mais velhos pode ser ainda mais enriquecedor. Um dos projetos desenvolvidos na escola, o Café com Memória, tem promovido encontros das turmas da educação infantil e do ensino fundamental com pessoas que têm mais de 60 anos de vida e histórias para contar.

— Um dos encontros foi com idosos da comunidade rural e outro foi na Estação da Memória, com ex-funcionários da estação ferroviária — , conta a professora Alessandra Helena Nazário Günther.

— Foi bem interessante, porque, para trabalhar essa questão da memória, depois os alunos ajudaram a montar um pequeno museu, em uma das salas da escola, para contar as histórias deles e das famílias deles — , relata.

E mais do que valorizar a experiência dos mais velhos, os professores também procuram, durante as aulas, dar às crianças o direito de viver a infância em sua plenitude, com todas as brincadeiras e fantasias a que as crianças têm direito. Seja na Hora Livre, em que as crianças escolhem do que brincar, ou durante as atividades, professores trabalham os conteúdos sempre de forma lúdica.

Mas nem tudo é brincadeira. Os alunos também demonstram que estão preocupados com questões sérias. Por isso, no ano passado eles desenvolveram uma ação de educação ambiental e distribuíram sacolas de lixo para carros a motoristas que transitam pela Estrada Dona Francisca. A intenção foi conscientizar os motoristas sobre a importância de não jogar lixo na rodovia.

Sala de aula sem paredes ou quadro-negro

Na Escola Hermann Müller, por exemplo, a sala de aula é ao ar livre, o jardim tem um bosque de leitura, cheio de poesia, e até a forma de aprender o alfabeto é diferente. Elas aprendem a ler e escrever cada letra plantando flores, num canteiro com espécies de A a Z, de alamanda a zínia. E o respeito à natureza e ao próximo também é cultivado, dia a dia.

— Cada um tem a sua orquídea e todos os dias a gente vai vendo se descobre um novo broto, um novo botão, uma flor nascendo — , conta Amanda da Silva Almeida, de nove anos, aluna do 5º ano.

— No orquidário, eles acompanham o desenvolvimento de 140 orquídeas, e depois, algumas destas espécies nativas serão devolvidas para a mata atlântica, para recuperar áreas devastadas — , explica a diretora da escola, Silvane Aparecida da Silva.

— Muitas escolas trabalham a questão da educação ambiental por meio das tragédias, falam do aquecimento global, da poluição, do desmatamento da Amazônia, o que pode trazer à criança um sentimento de impotência, e nós preferimos dar a elas a oportunidade de viver uma experiência positiva, que traz esperança — , ressalta.

— Se não for divertido, não é envolvente, tampouco sustentável — , defende.

— É impressionante perceber como não temos casos de agressão na escola, todos se ajudam — , diz a diretora, que atribui o bom comportamento dos alunos a essa convivência harmoniosa com a natureza.

— Alguns estranham quando vão estudar em outra escola — , conta a diretora.

— Mas eles voltam para acompanhar as orquídeas que plantaram florescendo, porque isso acaba criando um vínculo da criança com a escola, e outros já estão levando estas práticas em suas novas escolas — , complementa.

Quem visita a escola, na Estrada Palmeira, fica impressionado. O escritor Leonardo Boff, que visitou a escola, disse que a Hermann Müller é a escola dos sonhos de qualquer criança, e resumiu sua impressão no Twitter: "Visitei uma escola montada sobre a relação com a ecologia. Aqui está o começo da nova Terra."

terça-feira, 19 de abril de 2011

SANTA CATARINA

Santa Catarina entrou na minha vida. Vou para Bento do Sul em junho e recebí uma carta lindíssima do Secretário de Educação de Joinville. Em Santa Catarina encontrei escolas municipais maravilhosas que devem servir de exemplo para todo o Brasil. Há até um concurso de jardins entre as escolas.Ontem pensei que numa sala de aula cada aluno deveria receber um pequeno vaso de planta com seu nome para cuidar, uma violeta por exemplo.Acho que o resultado seria muito bom.
Semana que vem vou fazer uma dinâmica com poesia na Biblioteca de Barra de São João e uma oficina para professores.
E finalmente conto a surpresa para o encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela: como o nosso livro Viva Chama gira em torno do poeta William Blake, chamei meu amigo Rafael Santana, professor de literatura da UFF para nos falar sobre o Simbolismo e o Decadentismo. O Rafael é uma pessoa doce e sabe muito sobre o assunto.Acho que o nosso encontro será muito rico.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

SINTOMAS

Leio hoje no O Globo que o bullying já afeta 84,5% dos estudantes no Rio.O número é apenas um signo. Vamos pensar nos estragos psíquicos, na devastação emocional, na tristeza, depressão, vamos pensar nestas palavras.O bullying é um sintoma da doença chamada "escola", que castra a criatividade e a cachoeira poética que existe em cada criança. Portanto, temos que mudar as escolas, é urgente. Diz a matéria que a maioria dos casos ocorre na rede municipal.O remédio para o bullying é a arte, como já disse ontem. Um grupo envolvido numa atividade criativa tece fortes laços de afeto, cordas vigorosas e não queremos ferir quem amamos.A beleza é curativa, podemos transformar os piores espaços físicos em espaços belos com muito pouca coisa: panos coloridos, fotos, flores,varais de histórias e poesia. A beleza reverbera em cada um e propicia a criação.
Recebo um livro maravilhoso: SYNTHOMAS DE POESIA NA INFÂNCIA, de Glória Kirinus,(ed. Paulinas), grande poeta e Doutora em literatura. Glória nos fala de como a criança é poesia em estado puro e como a escola quer "curá-la" desta doença. Diz Valéria Cristina Pereira da Silva no prefácio:
" O texto Synthomas de Poesia na Infância,enfeixa experiências que colocam a poesia e a arte como caminhos possíveis e verdadeiros para despertar na infância, sobretudo numa infância que ganha tantos rótulos na atualidade (hiperativos, distraídos, impulsivos, rebeldes, etc, etc)o fazer poético."
Entendo o fazer poético num sentido bastante amplo e lúdico. Qualquer maneira de arte vale a pena.

domingo, 17 de abril de 2011

UMA SALA DE AULA

Ontem vi um filme francês que era quase um documentário. Acho que se chamava "Dentro Dos Muros da Escola" ou algo parecido. Era uma escola num subúrbio de Paris e a sala só tinha imigrantes . Vieram da Africa, das Antilhas, até da China. O ambiente era péssimo, super hostil. O professor nervoso. As matérias tão distantes de todos. O resultado era um caos completo, violência, expulsões.
Hoje leio que existe uma lei estadual que determina que tanto as escolas particulares quanto as públicas devem comunicar os casos de bullying à policia ou aos conselhos tutelares. Mas a solução é anterior ao bullying. Numa sala onde o professor consiga criar uma rede de afeto entre os alunos, uma cumplicidade entre todos através da arte e de atividades criativas, não ocorrerá o bullying. Para isso não faltam recursos : teatro, música, pintura, literatura, fotografia, cinema, até meditação.Não é preciso muito para se fazer um jogral, montar uma peça , cantar.
Mas a escola de um modo geral está dissociada da vida. Como no filme francês, onde o professor dá uma aula de metrificação ao invés de despertar a emoção com o poema, o resultado é previsível: um desastre, todos contra todos.
A escola de hoje deveria existir não só para passar conhecimento, mas para forjar um ser humano melhor, pensante, criativo, solidário, compassivo. Então o outro não seria humilhado .

sábado, 16 de abril de 2011

LUNA, MERLIN E OUTROS HABITANTES

Recebo um exemplar como prova do meu livro Luna, Merlin e Outros Habitantes, reedição. O livro ficou maravilhoso, as ilustrações são do Caó. O livro fala de muitos bichinhos que passaram pela minha vida, alguns ainda existem, como a minha gata Luna, uma persa muito rabugenta, anti social e adorável. Agora chegou a Nana, nossa gatinha vira-lata que está com um ano mais ou menos e não está no livro. Ela tem a particularidade de comer roupa. Já comeu cobertores, casacos, cortinas, meias, vestidos. Fui para Campinas com um casaco todo comido atrás e só reparei no outro dia pela manhã quando já saía para São Carlos. Ela entra nos armários, nas gavetas, na cesta de roupa suja. Basta uma distração e záz, a Nana já está comendo alguma roupa.

Beija-flores pendurados
nas flores
são coloridos trapezistas,
fazendo acrobacias
e distribuindo beijos.
No azul do dia
beija-flores
são beijos voadores.

in Luna, Merlin e outros Habitantes, ed. Miguilim.


O livro deverá sair no segundo semestre.

Acabo de fechar várias viagens para quando voltar da Espanha em junho. Estou parecendo uma agente de viagens com roteiros, hotéis, estações de trem,aeroportos, tudo espalhado pela mesa de trabalho. Passo 15 dias na Toscana para Juan rever seus amigos e ele volta para o Brasil e eu vou para Granada ficar 15 dias com meu filho e com meu neto.

Finalmente a Secretaria de Educação quer retomar nossas Rodas de Leitura com alunos e professores e estou radiante, mas agora não tenho data até o final de junho! E finalmente dentro de pouco tempo teremos o nosso almoço do Clube de Leitura. Tenho uma linda surpresa para o encontro. Semana que vem eu conto.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

EM CASA

Cheguei tarde ontem. Hoje cedinho de manhã, ao abrir a porta da varanda, parecia um sonho, tudo o que passou e tudo o que existe. Saquarema é belíssima e o céu e o mar estão completamente azuis.Os encontros com as crianças do Sesi foram maravilhosos e as pessoas me cercaram com seu carinho, seus afagos e aconchegos.Nem sei como agradecer por uma viagem tão linda. No aeroporto de Campinas entrei na livraria para comprar o meu "livro de aeroporto". Vou farejando até encontrar um que me agarre pois tenho que passar aquelas horas da melhor maneira possível. Eu havia terminado na véspera de ler o livro Lituma nos Andes, do Vargas Llosa, um livro antigo que eu não conhecia. O livro me deixou despedaçada, é muito triste. Queria alguma coisa mais leve. E encontrei. O livro se chama Mil dias na Toscana , da Chef de Cozinha e jornalista Marlena de Blasi. Como estou indo para a Toscana dia 4 de maio, o livro veio no momento exato. É belíssimo, não é um relato de viagem, é uma maneira de ver a vida, a busca pelas coisas simples. Estou terminando e amando.Não percam hoje a reportagem no jornal O Globo, África, o berço da linguagem.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

MATÃO

Estou na Fazenda Salto Grande esperando o Seu Benedito que me levará para Matão onde teremos nosso último encontro com os alunos.Aqui era uma fazenda de café, e foi completamente conservada. A casa grande com os móveis, pisos, teto, tudo original, causa um grande impacto. Há um terreiro imenso onde secavam o café . E os jardins e milhões de passarinhos me deixam alucinada. Ontem à tarde, fiquei horas na piscina aquecida dentro da mata. Uma sensação tão magnífica que nem dá para descrever. estava sozinha, era a única hóspede do hotel.
Hoje à noite estarei em Saquarema, já tenho saudades de casa.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

VIAGEM

Estou num hotel fazenda maravilhoso, Fazenda Salto Grande, em Araraquara,no meio da mata, onde só ouço passarinhos. A casa tem 100 anos, os móveis são da época e me causam uma profunda emoção. Quando entro na mata, chego em casa. Mas começo do início:
Domingo fui para Campinas.Cheguei no hotel às 23.30hs e não tinha luz. Esperei até uma hora da manhã para a luz voltar e foi muito cansativo. No outro dia fui para São Carlos , mas eu pensava que a viagem havia começado mal. Mas já no carro, com a Rosana que me buscou, senti que talvez estivesse enganada, ela era encantadora e me contou do seu medo de escuro. Cheguei ao Sesi e fui recebida por Fátima e Tamara.Fátima é uma doce pessoa , uma pedagoga apaixonada e como eu , tem um filho Gustavo. A escola é um sonho, uma verdadeira maravilha, com um espaço físico privilegiado , quadra de esportes, piscina, e horário integral. É uma educação verdadeiramente integrada.E integrada com a arte. Almoçamos numa casa antiga depois da minha apresentação com mais de 100 alunos e parecia uma leiteria da minha infância.Fátima e Tamara disseram que sabiam que eu ia adorar, que era a minha cara. Então fui para Rio Claro.
No dia seguinte, ontem, a apresentação foi no teatro do Sesi e falei e li poesia para 230 alunos. Foi maravilhoso. De lá viemos para Araraquara e quando cheguei no Sesi para conhecer as pessoas, dei de cara com o Álvaro, professor de teatro. Já somos amigos de infância, tamanha a nossa comunhão. Ele me contou que estava montando uma peça sobre o amor. Eu mostrei meu livro Fruta no Ponto. Ele adorou e resolveu costurar o espetáculo com alguns poemas do livro. Fui convidada para assistir ao ensaio à noite. E, claro, aceitei o convite. Para minha surpresa, os alunos receberam alguns poemas e tinham que "falar" o poema com o corpo! Foi lindíssimo, o poema era o corpo e não precisava de palavras. Foi uma experiência nova e maravilhosa. Hoje o Álvaro era o mestre de cerimônias da apresentação e nossa manhã poética também foi no teatro. Foi um encontro mágico com os alunos. Passei os dois poemas animados do site e eles vibraram muito. Álvaro me diz que serei convidada para a estréia do espetáculo do grupo de teatro em outubro e eu já aceitei!!! orgulhosíssima. Como só tenho trabalho amanhã vim para este magnífico hotel fazenda descansar. São vastas emoções.

domingo, 10 de abril de 2011

QUATRO CIDADES

O SESI me convidou para um encontro com leitores em quatro cidades do interior de São Paulo: São Carlos, Rio Claro, Araraquara, Matão. Embarco hoje para Campinas onde dormirei e amanhã de manhã alguém me apanha no hotel. Gosto muito da sensação de rumar para o desconhecido: novas cidades, novas pessoas. Levo a minha poesia, livros para sortear e o desejo de que tudo seja mágico.

sábado, 9 de abril de 2011

ALMOÇO

Hoje temos a casa cheia para o almoço: Messias e Kátia, nossos melhores amigos, irmãos de todas as horas. Quando Messias entrou para a Academia de Medicina leu um poema de minha autoria na sua posse. Kátia cuidou da minha mãe em seu hospital, a Casa de Saúde Grajaú, que é uma casa mesmo, cheia de amor dentro.Eles estiveram comigo nos últimos momentos de vida da minha mãe, com uma presença tão amorosa que nunca poderei agradecer.Messias salvou a vida do Juan em situações graves e dramáticas e cuida de toda a família e agregados. A existência deles ilumina a nossa existência. E o Dr. Sigiliano que me operou chegará com o filho. Ele tem uma fazenda em Muriaé onde produz uma excelente cachaça. Além de médico e fazendeiro, ele é um cirurgião diferente, olha para o seu paciente com um cuidado e tanto amor que a gente também não sabe como agradecer. Agora começaremos os preparativos da paella que é o carro chefe do Juan. Primeiro o caldo do peixe para acentuar o sabor. Farei um pão recheado com tomate seco.
E assim vamos tecendo a nossa tribo de gente que ama e pensa e está sempre disposta a ajudar e ouvir o outro.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

PAZ

Mais do que nunca, depois da tragédia de ontem, precisamos mudar o mundo. Há que construir uma sociedade com os pilares fincados num oceano de paz. Que as pessoas sejam gentis e delicadas umas com as outras, que as crianças numa escola sejam permanentemente sensibilizadas para a compaixão, a arte, a solidariedade, o olhar amoroso para com o outro. Que alunos e professores se abracem, e tenham o ouvido afinado para ouvir as histórias de cada um. Abomino os jogos violentos. Crianças e jovens que passam horas na frente do computador jogando jogos de matar ou vendo filmes violentos, podem desembocar num caminho muito perigoso. Uma cultura de paz, cada um de nós tem que plantar esta semente.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

TRAGÉDIA

Como podemos adivinhar o que o dia nos trará? O dia amanheceu tão lindo, eu e Juan tomamos café às 5hs da manhã,dei comida para os passarinhos, fiz minha bicicleta ergométrica, meditação no jardim, fui ao mercado, comecei a arrumar a casa e Juan voltou da sua caminhada e me pergunta: _ "Você sabe o que aconteceu numa escola do Rio? Me ligaram do jornal."
Então o dia se fez noite. E o luto cobriu a cidade, apertou nossas gargantas.
Estive ano passado numa pequena escola em Realengo, uma escola amorosa, cheia de idéias. Talvez bem perto da tragédia.
E agora, o que fazemos ? Por que um ser humano mata crianças dentro de uma escola? Que sociedade é essa? Que mundo é esse?

UMA FESTA AFRICANA E LEONARDO BOFF

Angela, nossa leitora do blog, me pede que conte mais coisas da minha estadia em Abidjan em 1984. Então conto:
No dia 31 de dezembro ouvimos falar de uma festa (sem brancos) onde haveria um grupo famoso de dança se apresentando.mas nesta ocasião eles dançariam entre amigos e não para um grupo de turistas. Eu e Evelyn fomos cedo. Abidjan tinha lugares incríveis, pareciam aldeias. Era um pátio imenso, vários fogões de lenha improvisados e muitas mulheres cozinhando em enormes panelas. Uma delas tinha um bebê tão pequeno amarrado nas costas que quando o retirou do pano para dar o peito quase cabia na palma da sua mão. Eu ficava impressionada com as mães, com apenas um leve movimento do corpo conseguiam retirar o bebê das costas e depois amarrá-los outra vez sem nenhuma ajuda. As horas se passavam, gente chegava, ajudava, varria o pátio. Algumas mulheres sentadas no chão trançavam os cabelos. Os africanos falavam no mínimo 3 linguas: a sua lingua, francês e djoula, a lingua dos mercados, falada por todas as etnias. Eu amava ouvir o som das linguas africanas. A noite caiu , acenderam algumas luzes e os cheiros das panelas era estonteante, tinhamos fome. Meu cunhado chegou. As panelas transbordavam. Comemos uma comida maravilhosa, junto com umas cem pessoas, desconhecidos alegres e amáveis com as "brancas". Eles pensavam que éramos gêmeas e os gêmeos eram muito valorizados na Costa do Marfim. Para frustração geral o grupo de dança não veio, mas alguns homens tocavam tambores. Depois da meia-noite saímos para a aventura de encontrar um táxi.Mergulhamos na cidade e a pequena aldeia dentro de Abidjan com suas imensas panelas fumegantes dorme na minha memória.

E Angela me manda uma linda história sobre os griots:

Os Griots

Depois de um bom jantar, com a lua brilhando, as pessoas de uma aldeia na África antiga podem ouvir o som de um tambor, chocalho, e uma voz que gritava: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Esses foram os sons do griot, o contador de histórias.

Quando eles ouviram o chamado, as crianças sabiam que estavam indo para ouvir uma história maravilhosa, com música e dança e música! Hoje a história seria sobre Anansi, a aranha. Todo mundo adorava Anansi. Anansi podia tecer as teias mais bonitas. Ele foi quem ensinou o povo de Gana como tecer o pano de lama bonito. Anansi teve uma boa esposa, filhos fortes, e muitos amigos. Ele entrou em muita confusão, e usou sua inteligência e poder do humor de escapar.

Houve outras histórias que o povo gostava de ouvir mais e mais. Algumas histórias eram sobre a história da tribo. Algumas eram grandes guerras e batalhas. Algumas eram sobre a vida cotidiana. Não havia linguagem escrita na África antiga. Os narradores acompanhavam a história do povo.

Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.



Leonardo Boff foi conhecer a escola Hermann Muller , onde estive em Joinville. Transcrevo a matéria:

Um sonho VERDE

Escritor Leonardo Boff visita escola em Joinville para conhecer a educação integrada ao meio ambiente que obteve reconhecimento do jornal espanhol “El País”Foi em uma escola com menos de cem alunos no interior de Joinville que Leonardo Boff se deparou com um mundo perfeito, pelo menos no que se refere aos seus livros e sua experiência como teólogo e filósofo. No prédio de poucas salas, onde está a Escola Municipal Hermann Müller, no Rio Bonito, em Pirabeiraba, o escritor se rendeu à delicadeza dos jardins e o interesse prematuro pelo meio ambiente. É a escola dos sonhos, admirou-se.

A visita foi um pedido da diretora da escola, Silvani Aparecida da Silva Almeida. Entre um compromisso e outro da apertada agenda de atividades em Joinville, Boff arrumou alguns minutos na manhã de ontem para conhecer de perto o trabalho educacional que chegou a ser destaque no jornal espanhol “El País”, em janeiro deste ano. Mesmo dispondo de um curto espaço de tempo – o escritor tinha programado um bate-papo com os leitores na Feira do Livro –, a visita acompanhada por alunos de 4ª e 5ª séries e pelo secretário de educação, Marquinhos Fernandes, deixou o defensor da ecologia emocionado.

Recepcionado por música e versos, Boff tomou um café com produtos regionais e frutas organizado pela direção da escola. “É bom ver que eles estão crescendo com uma nova mente e coração, com espírito e amor à natureza. Estes pequenos terão de ser corajosos no futuro por ter uma forma diferente de pensar”, enfatizou.

Boff não só passou seus ensinamentos, deixando um exemplar do livro “Responder Florindo” para o acervo da escola, como também levou bons exemplos para suas próximas publicações. “A escola precisa ser assim, sem paredes, com total interação com as plantas e os animais, e não se voltar apenas para o intelectualismo”, disse.

O projeto de ensino que visa a instigar a contemplação, admiração e respeito das crianças pela natureza foi implantado no Hermann Müller há oito anos. Segundo a diretora, cerca de 70 alunos do ensino fundamental e educação infantil têm aulas integradas ao meio ambiente. “Eles aprendem a plantar e respeitar os bichinhos. Temos um orquidário que as próprias crianças cuidam para depois devolver as plantas desenvolvidas à mata”, afirma.

Além do orquidário, Boff conheceu o Bosque da Leitura e o Jardim Encantado, mas foi nas letras que ele viu o segredo que leva os alunos a terem interesse nato pelo assunto. “Aqui a poesia é uma ferramenta para trabalharmos com a ecologia”, contou Silvani.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CONTO AFRICANO

Recebí ontem, nos comentários do blog, este belíssimo conto africano da leitora Angela.Lembro que os griots são os reservatórios de histórias, homens que são bibliotecas itinerantes, que conhecem sua linhagem até os mais remotos tempos. Eu e minha irmã Evelyn, na Costa do Marfim, em Abidjan, caminhávamos quando, na frente da prefeitura, vimos um aglomerado de gente e era um casamento. Ficamos de longe olhando. Chegou a noiva , os tambores tocavam e um griot começou a contar a linhagem dos noivos. Ficamos radiantes em ser testemunhas de uma cena tão bela. Abidjan era calma, todas as noites passeávamos muito por suas ruas impregnadas de perfumes maravilhosos, o cheiro denso da floresta e entrávamos dentro do mercado de rua onde muitas pessoas moravam em suas própias barracas.Pequenos lampiões iluminavam a feira.E eu pensava: estou dentro de uma noite africana, e era muita emoção.

"Diz um conto Africano, que no inicio dos tempos não havia nenhuma história. O mundo era muito triste. Assim o primeiro contador de história, teve que sair pelo mundo para colher às histórias que iria contar. Para acompanhá-lo levou um pássaro em seu ombro, um pássaro-escrivão.
Este homem junto com seu pássaro escutaram o vento, as pedras, o mar, as árvores, os animais e os homens. Enquanto o homem ouvia as histórias o pássaro ia anotando tudo com um pedaço de carvão com goma arábica. Mas o homem temia que estas histórias se perdessem. Então o pássaro pediu que ele colocasse as histórias escritas em uma cabaça com água e deixasse por uma noite. No dia seguinte o pássaro mandou que o homem tomasse aquela água cheia de histórias, e este homem então contou história nos cantos do mundo, e os que ouviram, contaram em outros cantos, e assim segundo o conto Africano nasceram às histórias, que acordam, revelam, alimentam e instigam a nossa imaginação."

terça-feira, 5 de abril de 2011

COSTA DO MARFIM E MONTEIRO LOBATO

Assisto estarrecida a Costa do Marfim envolta numa carnificina terrível . Estive em Abidjan em 1984 e era uma cidade linda, complexa. Estávamos num café europeu e ao virar a esquina caíamos numa África profunda e colorida, com seus mercados exóticos que eram como cidades. As pessoas eram amáveis, ainda mais quando sabiam que éramos brasileiras. Os africanos me contavam que havia um equilíbrio precário , uma certa tensão entre as etnias, mas todos conviviam. Pude transitar no mundo africano, pois meu cunhado era negro, fui a lugares onde brancos nem pisavam.Fiquei muito apaixonada pela África, me senti em casa. Eram todos tão generosos comigo, os africanos são anfitriões impecáveis. Chegávamos numa casa e logo era servido um banquete com o melhor que tinham para oferecer. Fomos ao interior e nos hospedamos num bairro onde nunca havia entrado nenhum branco, então me esquecí completamente que era branca. Porque também sou africana, já que fui criada por uma babá negra, Eunice, que me recebeu em seus braços e ficou comigo até se aposentar. Era na sua cama que eu dormia quando tinha medo. Minha mãe trabalhava muito e foi Eunice quem nos criou, educou, forjou. Ela nos ensinava a fazer a nossa cama, a botar a mesa e me deixava ajudar na cozinha. Nos contava histórias de assombração. Sua avó havia sido escrava. Quase todos os fins de semana íamos para a casa de sua mãe no subúrbio e era como uma aldeia africana. Eu amava. Naquela época era rural toda aquela zona e sua mãe tinha um chiqueiro, galinheiro, bananeiras. Brincava com as crianças e voltava feliz, nunca me lembrava que era branca. Porisso me aconchegava facilmente nos braços de Tia Nastácia, me sentia acolhida em seu afeto, ela era como a minha Eunice. Passei a infância dentro do Sítio do Pica-Pau Amarelo e talvez aí tenha nascido meu amor pela natureza e pela literatura. Agora volta toda a discussão em torno do racismo do Monteiro Lobato. Acho um absurdo. Tenho pavor de tudo o que é politicamente correto. Tia Nastácia é uma figura linda, sempre amorosa, acolhedora, amiga, maternal. Talvez Monteiro Lobato tenha repetido alguns clichês do seu tempo, como fez Debret nos comentários em seus desenhos e pinturas. Como fez a Bíblia com as mulheres e como milhares de livros que refletem o pensamento do período em que foram escritos.
Que a Costa do Marfim reencontre a paz, é muito triste uma guerra entre irmãos. E que Tia Nastácia continue fritando seus bolinhos e acolhendo seus leitores por muitas gerações.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

POESIA: UM OFÍCIO

A ed.Objetiva me enviou pelo correio, como antigamente, a última prova do meu livro Roseana Murray , poemas para ler na escola. Passei algumas horas debruçada sobre os poemas como sobre uma ponte e lá embaixo um rio turvo. Não gosto de revisar meus poemas, eles me provocam uma sensação estranha, quase de náusea. Saber que é minha última chance de interferir antes que saiam publicados, é aterrador. Eu havia concebido o livro de uma maneira e a organizadora, Hebe Coimbra, fez outra arrumação.Como eu já tinha um determinado livro na cabeça, é difícil conviver com o novo livro. Mas tento me lembrar de que o leitor não sabe nada disso, ele só conhecerá o livro em sua versão final. É uma antologia e eu havia separado os poemas por livro. Agora estão todos misturados.O Juan me diz que o livro está lindo e na editora todos gostaram. Então suspiro e aguardo.E uma alegria imensa me invade.Que maravilha poder publicar. É um grande privilégio publicar e ter leitores.E quando o livro chegar em Saquarema pronto e eu tocar em seu corpo,alguma coisa mágica acontecerá, estaremos ligados para sempre. Um livro é quase um filho.
Estou atenta, pronta para recomeçar: há que apanhar a poesia em pleno voo. Tenho um caderno com o Diário da Montanha e quando voltar a Visconde Mauá continuarei a escrever a mão os poemas que a montanha amorosamente irá me oferecer.

domingo, 3 de abril de 2011

ESCOLA PÚBLICA OU PARTICULAR?

Depois que contei minha visita ao Casulo em Rio das Ostras, a leitora do blog Maria Neuza me pergunta se a escola é pública ou particular. Infelizmente é particular e felizmente a escola existe. Infelizmente porque as escolas públicas deveriam ter uma educação integrada com a arte e o pensamento e não é o que vemos. Agora imaginemos o Brasil inteiro com escolas assim, guardando as proporções. Mudaríamos o país. Esta é a revolução possível. Teríamos milhões de artistas, cientistas, arquitetos, engenheiros, urbanistas, astrônomos, etc, etc. O brasileiro é muito criativo. A vanguarda vive aqui.

Infelizmente a Secretaria de Educação de Saquarema não encontra mais tempo para os nossos encontros literários com alunos ou professores ou apenas professores. O Projeto "Uma Onda de Leitura" existe, mas não participo mais, mesmo doando gratuitamente meu trabalho. Sinto uma tristeza imensa, como quando a mãe olha do portão o filho indo embora. Felizmente ainda tenho o Clube de Leitura . Para o nosso próximo encontro tenho uma surpresa guardada no bolso, contarei um pouco antes. Bem diz o ditado que santo de casa não faz milagre, me levam para tão longe e ainda por cima pagando e eu aqui querendo doar o meu trabalho para a cidade que tanto amo... e não precisam mais de mim.

Leio sobre uma experiência maravilhosa: A Think Global School, com sede em Estocolmo, criou uma escola itinerante. Quinze adolescentes irão estudar em doze países nos próximos quatro anos. A idealizadora é Joann Mcpike, uma neozelandesa que pensou em dar aos jovens a oportunidade de conhecer o mundo e suas experiências. Cada trimestre será cursado em um país, durante todo o ensino médio.

sábado, 2 de abril de 2011

CASULO: A VISITA

Se você procurar a palavra "casulo" no dicionário Houaiss encontrará:
1- invólucro sedoso ou filamentoso construído pela larva de alguns insetos
2- invólucro de certas sementes como as do algodão.

Por ser invólucro, também penso em casa, em lugar protegido. E claro, todos sabemos que do casulo sairá uma linda borboleta depois de um tempo de gestação.Também pensamos em metamorfose.
Pois bem, a escola Casulo, que me recebeu em Rio das Ostras, é uma escola diferente. Seus alunos dizem que ela parece um clube.Tem aula de tudo: teatro, dança, música, (tem até uma orquestra!)história da arte, natação. Tudo é feito com alegria e a diretora Rose até parece uma sereia, ondulando por todos os espaços. As crianças aprendem criando, fazendo arte e a biblioteca se transformou num espaço multimídia para mostrar o espetáculo que criaram com meus poemas: mistura de tecnologia com o milenar teatro de sombras.Há um lindo auditório , acolhedor, para que as crianças e jovens encenem suas peças e mostrem seus trabalhos. Há um laboratório de ciências que é também uma cozinha experimental.Todas as disciplinas dialogam entre si e os professores são amáveis e se comunicam. O resultado disso tudo é um aluno que pensa, que questiona, um aluno gentil e educado. Na hora do recreio o clima é descontraído, ninguém se atroplela e não vi em nenhum momento nenhum tipo de agressão entre os alunos. Assisti a vários recreios. A escola tem 900 alunos e flui.
Infelizmente uma escola como a Casulo que deveria ser a regra, é rara. Pensar a educação como matéria viva, pulsante, em transformação, faz toda a diferença. E Rose, a diretora, está o tempo todo trazendo seminários e oficinas para os professores.
Evelyn, minha irmã, deu uma oficina de cerãmica para os alunos. Fizeram máscaras e azulejos e estavam felizes demais.
Fui recebida com muito carinho por Zilma , que me fez o convite, por todos os professores e por Rose e Roberto, os diretores. Meus poemas estavam espalhados pela escola em quadros imensos e impactantes. E apesar de estar junto com os pequenos da quarta série, dois alunos do ensino médio me entrevistaram, depois do espetáculo das crianças: são poetas e estavam muito interessados.É a demonstração de que na escola tudo circula.
Que mais e mais escolas possam se banhar na experiência da Casulo para que em breve tenhamos seres humanos melhores.