quinta-feira, 5 de abril de 2012

ACASO

Tudo na minha vida aconteceu por puro acaso. Na década de 70 conhecemos Visconde de Mauá e decidimos acampar com as crianças um final de semana. Gostamos e voltamos algumas vezes. Ficávamos sempre no Vale do Maringá. Mas um dia decidimos mudar e entramos no Vale do Pavão para ver se havia um camping. Aí ficamos. Caminhamos um dia até o final do vale e comentamos com o homem que guardava o camping como estávamos impactados. Ele nos perguntou: _ Por que não compram uma terra?
Não tinhamos nenhuma possibilidade de comprar uma terra , mas ele insistiu em nos mostrar um lugar. Fomos ver a terra. Onde a estrada acabava subimos por uma trilha de vacas. E chegamos ao lugar mais esplêndido que eu jamais havia visto. Então voltamos ao camping, fizemos as malas e descemos a serra em busca de um empréstimo. Nunca havíamos pensado que seria possível ter um sítio. Aí criei meus filhos e encontrei minha essência, minha vida secreta, aí comecei a escrever poesia.

Um dia, não sei como, um pequeno livro do Lorca, com rosas na capa, veio parar nas minhas mãos. Às vezes acho que os livros buscam seus leitores. Até hoje eu o tenho comigo. Eu não lia espanhol, mas li e reli seus poemas umas trezentas vezes, até que eles se misturaram com a minha saliva e pude entender tudo. Amo o Divan del Tamarit.
Transcrevo duas estrofes:

"Poesia es lo imposible
hecho posible. Arpa
que tiene en vez de cuerdas
corazones y llamas.

Poesia es la vida
que cruzamos con ansia,
esperando al que lleva
sin rumbo nuestra barca."

Federico Garcia Lorca, in Divan del Tamarit

2 comentários:

  1. Roseana: amo Lorca e o leio em espanhol,apesar de não compreender tudo...fico feliz que vc tenha encontrado seu lugar secreto e lá seus poemas desabrocham....beijos tietes.

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  2. E você irá conhecer Mauá e a minha casinha do bosque!

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