domingo, 27 de maio de 2012

ENCONTRO DO CLUBE DE LEITURA DA CASA AMARELA

TEAR:

Com fios de pensamento
se tece o mundo
se costuram pedaços
rasgados de vida,
nesse tear estranho
que só o homem possui:
tear de sonhos.

in Residência no Ar, ed. Paulus, Roseana Murray, aquarelas Evelyn Kligerman

Nós, crianças, rogamos-Lhe,
nosso Deus, criador do mundo:
conceda-nos uma vida delicada e pura
e cultive em nós a bondade.

Epígrafe do livro O Sobrevivente, Memórias de um brasileiro que escapou de Auschwitz, Ed.Record

Ontem o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela para discutir o livro A TRÉGUA do Primo Levi foi diferente de tudo o que eu havia imaginado. Praticamente não pudemos discutir o livro, mal conseguimos nos aproximar dele, pois Angela, uma das leitoras do Clube trouxe como testemunha o Sr.Aleksander Henryk Laks com seu livro O Sobrevivente. A realidade explodiu a ficção.  Aleksander foi prisioneiro de Auschwitz, escapou, veio para o Brasil, se naturalizou brasileiro e vive para contar. Ao contrário do que se poderia imaginar, é um homem alegre, cheio de vida, emotivo, sorridente e nos conquistou a todos, além do seu humor judaico. Em várias ocasiões ele desmentiu o Primo Levi, pois A Trégua é um livro filtrado, literatura e realmente não nos importa o que ali é verdade ou não, nos importa como o livro está escrito.
O Sr. Aleksander nos contou. Respondeu a muitas, muitas perguntas. Nos falou da fome, imensa, indescritível, algo com que ninguém que não tenha sido prisioneiro de Campo, vivido a guerra pode imaginar. O Sr. Aleksander nos contou. E foi muito impactante ouvir. estávamos todos na beira do abismo da emoção, quase todos com um nó na garganta.  Hector, novo membro do Clube, trouxe um artigo sobre o antissemitismo hoje no mundo, previu uma nova Hecatombe, um futuro Holocausto e nos falou da sua descrença em tudo. Mas a epígrafe do livro (já comecei a ler, estou na metade e é muito forte e muito bem escrito)  do livro O Sobrevivente nos fala da bondade e não da maldade. No livro A Trégua , encontramos dentro das relações humanas, que é a base do livro, a bondade espalhada como fina poeira luminosa dentro do horror. No livro A Escritura e a Vida, Jorge Semprún nos fala da bondade quando um homem, prisioneiro alemão comunista , troca a sua profissão de estudante de filosofia pela de estucador: provavelmente ali sua vida foi salva. Não acredito em nenhuma repetição do passado. Acredito que um dia o mundo descobrirá a paz e a bondade será a partitura do mundo. A presença luminosa do Sr. Aleksander que depois de ter passado cinco anos comendo 200 calorias por dia, ficou vivo para contar, para que o passado não se repita, nos deixou a todos completamente emocionados. E esperançosos.
Francisco leu um poema que escreveu a partir da Trégua. Felipe estava felicíssimo de namorada nova, apaixonado e nos leu, maravilhosamente Pasárgada, do Bandeira, para que cada um construa a sua Pasárgada possível. Maria Clara também leu um novo poema. Juan perguntou ao Sr. Aleksander sobre a história do Padre Kolbe, que morreu em Auschwitz no lugar de um homem e o Sr. Aleksander disse que isso seria totalmente impossível, que ele não acreditava.
Durante o almoço Angela tocou violão e todos cantamos a música "Para não dizer que não falei de flores" , do Vandré, todos cantamos juntos. O Sr. Aleksander se apaixonou pelo meu pão e só queria comer o pão! Tomou proseco, riu, se divertiu, nos seduziu. Minhas duas pastas, a de beringela e de gorgonzola fizeram sucesso.
Messias, nosso médico e amigo-irmão, foi nosso grande ausente, pois às nove horas da manhã me telefonou dizendo que não poderia vir, estava com febre . Eu havia feito um bolo de aniversário para ele, mas cantamos parabéns e ele ouviu pelo telefone.
Fernando e Hélio , emocionadíssimos, nos disseram da oportunidade única de conhecer um sobrevivente de um Campo de Concentração. Dentro de muito pouco tempo , já não haverá mais nenhum sobrevivente vivo para contar com a sua própria voz.
Póximo encontro dia 21 de julho. Livros: O Amante, Marguerite Duras e o conto Os Mortos, do James Joyce. Um poema do Drummond, cada um escolha o seu.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gente do céu, Roseana.
    Vou usar a sua maneira de falar: Que MARAVILHA esse seu escrito super fiel, carinhoso e, sobretudo internalizado.
    Você tem toda a razão. Foi muito diferente o dia de ontem, mas esse CLUBE, eu acho, foi criado para isso. Onde tem pessoas reunidas com o mesmo objetivo, a criatividade começa a fluir. O seu poema diz isso.
    Bem, quanto a mim foi uma honra ter proporcionado aquele momento. Você sabe da minha admiração pelo povo judeu.
    Eu conheci o SR. ALEKSANDER, numa visita com a Secretária de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro a um projeto BAIRRO EDUCADOR o qual fazem parte as ESCOLAS DO AMANHÃ. A Escola que eu dirigia fazia parte do projeto. A escola da visita fica em Jacarepaguá e era uma bela manhã de sol e a praça em frente a praça estava repleta inclusive com uma parte da orquestra comandada pelo, então maestro Isaac Karabtchevsky. Realmente foi um dia inesquecível.
    No meio da festa estava um Sr. sendo abordado por muita gente. Fui ao seu encontro, pois soube que ele era um judeu sobrevivente dos campos de concentração. Falei para ele da minha emoção e do meu carinho pelo seu povo. Foram apenas 10 minutos de conversa. Ele me deu um cartão dele, que guardei com todo o carinho. Isso aconteceu em 2009. Nunca mais o vi.
    Quando você indicou o livro A TRÉGUA, me veio a lembrança dele. Fui procurar na estante o seu cartão e enviei-lhe um e-mail, sem muita esperança de que ele respondesse, mas para a minha alegria ele aceitou, e deu no que deu. Nada do que os seus parceiros proporcionem de bom vai chegar a altura do que você nos dá em cultura, carinho, aconchego e o “PÃO E VINHO”, que para mim é sempre muito impactante. Embora eu não possa beber vinho, aquele ritual é sempre emocionante para mim.
    Ontem você fez pela primeira vez um brinde com uma saudação em hebraico, eu acho. Você poderia deixá-la no seu BLOG?
    Em tempo ele comentou na viagem de volta sobre a comida e nos falou sobre o pão que para ele foi maravilhoso. Ele nem conseguiu comer o restante da comida por causa do pão maravilhoso.
    Obrigada Roseana por tudo.

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  3. Angela, você enviaria meu blog para ele? Diga tb que falei com meu irmão que lhe mandou muitos abraços e disse que se lembra muito da sua doçura. faça isso por favor e mais uma vez obrigada por tudo, que voc~e não fique escondida dentro de casa com esta sua sensibilidade imensa.

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  4. Angela, entre no meu facebook. Gostaria de publicar a sua mensagem no meu mural. Posso?

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  5. Mas claro que sim. Vai ser uma honra para mim. Chorar é muito pouco para a emoção que estou sentindo.
    Obrigada.
    Em tempo, eu só não enviei o nome do site e respectivamente o BLOG, pois não tinha a sua permissão. Agora, sim.
    Acabei de enviá-lo.

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