Quando morei em Madrid, recolhi textos do Lorca menos conhecidos para meu amigo José Mauro Brant, apaixonado pelo poeta. Por acaso fui ver um Concerto com um ator-cantor , espetáculo montado em cima das conferências que Lorca fez e que chamou de "Como Canta uma Cidade de Novembro a Novembro". Trouxe o CD para o Zé Mauro .
José Mauro costurou todo o material que tinha com uma maestria impressionante. E me pediu para traduzir. Primeiro disse que não, como traduzir Lorca? Como traduzir um poeta que escreve com vento, sangue e fogo? Mas o meu amigo insistiu e acabei aceitando o imenso desafio. Digamos que fiz a tradução num estado alterado de poesia, com todo o meu corpo e não só a mente, de olhos semi cerrados, busquei às vezes, para poder ir ao encontro da sua escrita maravilhosa, uma penumbra dentro de mim.
Ontem , porque queria enviar alguns trechos para um amigo que mora longe, já que conversamos horas sobre poesia, reli o pequeno livro que foi publicado pela Imprensa Oficial de São Paulo em 2009 e que não está disponível, infelizmente. Eu que empresto, dou, perco tantos livros, juro que este nunca perderei.
O livro é magnífico porque os textos são arrebatadores . E a peça montada foi uma das maiores emoções da minha vida. José Mauro Brant era o Lorca no palco. Lorca estava ali, a cada noite a plateia sentia o milagre, Lorca vivo, de corpo e alma.
"A poesia é algo que anda pelas ruas. Que se move, que passa ao nosso lado. Todas as coisas têm o seu mistério e a poesia é o mistério que contém todas as coisas. Se passamos junto de um homem, se olhamos uma mulher, se adivinhamos a marcha oblíqua de um cão, em cada um desses objetos humanos está a poesia"
Federico García Lorca
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
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