quinta-feira, 23 de outubro de 2014

QUANDO CAI A NOITE

Quando cai a noite meus lobos se aproximam. Meu corpo dói muito , não tenho mais posição em nenhum lugar. E é como se uma dor levasse à outra num varal de roupa suja pingando lama. Mas então, de repente consigo alguma posição e adormeço.
Acordo muito cedo e tomo meu primeiro café no banco da varanda , já que ainda não posso descer ao jardim. Respiro o perfume entrelaçado das flores e do mar e hoje, alguns passarinhos entraram voando pela varanda, como se viessem me cumprimentar .
O dia está lindíssimo e assim cedinho o ar é frio e fino. Ainda dependo de muita ajuda para fazer as coisas. Não posso cozinhar, mas posso escolher o que a Vanda , minha caseira, cozinhará por mim. Este é o exercício de felicidade que aprendi: uma coisa pela outra.
Estou terminando de ler o livro do Sebastião Salgado: Da minha terra à Terra. Além das suas fotos maravilhosas que todos conhecemos, a sua figura humana me espanta por sua grandeza, pela empatia que tem com todos os seres. Aprendi muito com ele.
Desde muito cedo me emociono com o outro, quem não sou eu. Quando era pequena tinha uma amiga na escola onde fazia o primário, E.P.Francisco Manuel, no Grajaú,R.J. Seu nome era Olga. Ela tinha as mãos vermelhas e com um forte cheiro de água sanitária pois tinha que ajudar a mãe que era lavadeira, a lavar roupa. Meu coração se partia, eu era criança e não tinha que trabalhar, eu nem lavava a minha própria roupa! Acho que foi o primeiro lampejo de consciência social que tive, aos sete anos. 

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