quarta-feira, 8 de outubro de 2014

UM AMOR TARDIO

Devo dizer que não sou apaixonada pelos contos do Borges, mas completamente apaixonada pela sua poesia, maravilhosa, musical, bela bela bela.
Ontem li um artigo do Vargas Llosa no El País falando do amor de Borges pela Maria Kodama e as viagens alucinadas que os dois fizeram, em balão, barco, trens, andaram por desertos, mares e ar. Vargas Llosa fala dos desamores de Borges, amores nunca correspondidos e do amor correspondido pela sua linda aluna Maria Kodama. Eu desconfiava de que os unia um amor verdadeiro, pela literatura sim , mas também de um pelo outro.
Quando Borges morreu, Maria Kodama foi "desconstruída" na linguagem em voga nestes tempos de guerra  eleitoral. Foram cruéis com ela. Foi chamada de oportunista, interesseira e etc. Mas Juan, meu marido, os encontrou juntos  na Riva Degli Schiavoni, em Veneza e ele falava poemas em voz alta, ali, à noite, sem plateia. Borges cego, com oitenta e tantos anos e ela jovem e bela. Se isto não é amor, qual o nome deste maravilhoso sentimento? E a intimidade que os unia?
Há um poema que adoro e que é a prova deste amor tardio de Borges pela Maria Kodama, que ouvi na plateia do CCBB, levada pelas mãos da Suzana Vargas, se não estou enganada. Ela ficou responsável por sua obra, além de herdeira.
Eis o poema:
LA LUNA
              A Maria Kodama

Hay tanta soledad en ese oro.
La luna de las noches no es la luna
Que vio el primer Adán. Los Largos siglos
De la vigília humana la han colmado
De antiguo llanto. Mírala. Es tu espejo.

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