Imaginem um quadro primitivo, com suas casinhas coloridas, pequenas, cheias de flores, um canal no meio, pontes pequeninas, de sonho, assim é Burano. Pegamos um traghetto em S.Marcos, e do alto da escadaria, antes da Ponte dos Suspiros , se via uma avalanche de gente chegando, nunca vi nada igual, centenas ou milhares de pessoas, uma massa que se movia sob a batuta de um maestro imaginário, sempre em frente, sempre em frente. Não sei como Veneza pode suportar tanta gente, é um crime. São grupos imensos que vão passando, passando, sem ver nada.
Em Fondamenta Nove trocamos de barco e descemos em Murano. Como da última vez passamos um dia inteiro em Murano, desta vez demos apenas uma volta. Entramos em algumas lojas que são como galerias de arte, com coleções de um único artista, bem autorais. Numa delas, tudo era em preto e branco, espetacular. Havia um elefante tão maravilhoso, de vidro fosco, nem parecia vidro, parecia isso sim, vivo. Eu queria o elefante com todo o meu coração, mas talvez custasse menos um elefante de verdade: 8.000 euros! Quem pode comprar? Juan me diz, ora, os políticos brasileiros, os da máfia russa e etc, etc. Não seres mortais comuns, como nós e meus leitores.
Fomos então para Burano, nosso destino. Burano é uma ilha tão pequena que cabe na palma da mão. Suas casinhas nos convidam: fiquem aqui!!! Numa porta estava escrito: "Albergue.Aqui sobra amor e paciência. Os netos não pagam e são mimados de graça". Tocamos a campainha entusiasmados, pois em Burano não há hotéis e descobrimos um albergue. Uma senhora veio atender e perguntamos: _Aqui é um Albergue? E
ela respondeu, não, não, isso é uma brincadeira! Mas soubemos que alugam casas, entramos numa lojinha que vendia casinhas de Burano de madeira e Juan queria uma para pendurar no nosso estúdio. O próprio artista atendia e ele alugava o segundo andar da casa. Desnecessário dizer que já fazíamos planos de passar uma temporada aí, nossos planos são muito econômicos , pois depois de algumas horas já mudamos de ideia.
Almoçamos num restaurante maravilhoso, Riva Rosa, o próprio dono nos atendia e conversamos muito. Ele nos diz que em Burano nada acontece , não há violência nem problemas, então eles inventam problemas, já que o homem, para ser humano, tem que estar insatisfeito. Dividimos de entrada uma pasta com lula em sua tinta e uma "fritada veneziana" que são vários frutos do mar empanados, inclusive ostra! Biscoitos típicos com café. Uma garrafa inteira de um vinho fantástico e no caminho para o barco compramos frutas frescas para a noite. Na Europa não se pode tocar nas frutas, isso é horrível, pois temos uma ligação sensual com as frutas, nós brasileiros. Precisamos tocar, apalpar, cheirar, antes de comer. Compramos pêssegos, cerejas e morangos. Foi nosso jantar no quarto do hotel, depois que chegamos, exaustos, já não dava mais vontade de sair.
Burano, a cidade das rendas, acho que já não fabrica rendas. As que vemos , já não são fabricadas pelas senhoras que vimos em suas casas trabalhando com a porta aberta , há apenas dois anos atrás. Talvez venham da China, ou são fabricadas em algum lugar por mulheres do terceiro mundo, exploradas. As lojas agora vendem de tudo e não só rendas. Até as máscaras de carnaval. Vimos muitas muitas casas à venda.
A nossa lucidez vê o sonho e o que está atrás do sonho, debaixo da cama, o que não nos impede de viver o sonho. Burano é linda de morrer e já queríamos comprar uma casa e nos mudarmos para lá!
quarta-feira, 21 de maio de 2014
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