A passagem do poeta Ferreira Gullar por Saquarema transformará a cidade. Ontem vivemos um tsunami de poesia. Gullar falou duas horas seguidas e no final foi aplaudido de pé por um público apaixonado. A plateia estava lotada.
O poeta contou a sua vida inteira, desde menino quando com os amigos roubava copos para vender. Era assim: entravam num bar, pediam três copos d'água, roubavam um. E no final da semana tinham muitos copos que vendiam para ter um dinheirinho para o sábado e o domingo. Gullar fez toda a sua trajetória poética, suas histórias eram trágicas, engraçadas, se desdobravam na nossa frente como um filme, um livro. O Poema Sujo todos sabem foi um cataclismo na poesia brasileira. Existe um antes e depois. Quando li o Poema Sujo , em 1976, eu enlouqueci . Andava pela casa lendo o livro em voz alta, uma vez, duas, dez. O Poema Sujo me deixou ser poeta. Gullar falou sobre o acaso, o jornalismo, sobre a sua paixão pelas artes plásticas e fez um panorama imenso da política no Brasil. Poderíamos todos ficar ali mais duas horas sentados de boca aberta ouvindo, ouvindo... sem nenhum artifício, numa voz mansa, ele ia nos enfeitiçando com a sua vida, a sua poesia. Ferreira Gullar é o maior poeta vivo do Brasil hoje. Já deveria ter o Nobel .
Saquarema não será a mesma depois da passagem de Gullar e do Festival das Artes, porque agora os políticos sabem que a cidade está pronta e ávida desde muito tempo, para receber de braços abertos pensadores, poetas, grandes artistas, que possuem o maior tesouro que existe: a palavra. Falada, cantada, embalada por toda esta beleza da água que se esparrama pela cidade, mar, lagoa , montanha, matas, aqui a poesia flui, está no ar que se respira.
Nunca se viu em Saquarema tanto profissionalismo. Que venham outros eventos deste porte. Pensamento e cidadania. Todos precisam. Para nos ajudar a mudar o mundo. Se cada um mudar o seu pedacinho de mundo, se cada um envolver seu semelhante numa teia de amor, todos seremos melhores.
Agradeço ao poeta Ferreira Gullar ter me tatuado ontem com tantas palavras mágicas. Nelson Freitas e Julio Diniz, continuem voltando, não se esqueçam da gente.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
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