segunda-feira, 19 de maio de 2014

LUVAS

O caminho para a nossa infância pode passar por um som, um cheiro, um rosto levemente familiar na multidão ou por uma loja de luvas. Explico: Quando era criança minha mãe, modista, fazia vestidos de festa, maravilhosos como os da Pele de Asno. Bordados com pedrarias, eu a acompanhava à casa da bordadeira, Dona Lili. Depois de prontos ela escolhia para cada vestido um par de luvas macias , delicadas ao toque como seda. Ontem, ao nos dirigirmos para Fondamenta Nove, tínhamos que passar por Rialto, pelo meio da multidão. Uma loja colada na outra, colada na outra... Num dos Campos, na frente de uma Igreja, um coral de homens e mulheres vestidos de negro, com um Maestro entusiasmado, cantava canções italianas. Paramos para ouvir. Do Rialto , segue-se sempre em frente. Mas antes de sairmos dali, uma loja só de luvas, inteira, com centenas delas cobrindo a vitrine, me fez parar, e trouxe aqueles dias de volta, dos vestidos de festa que minha mãe preparava para suas freguesas. Vestidos de princesa ou rainha, eu pensava.
De repente, em dois minutos, ao chegar no território de Fondamenta Nova, a multidão desapareceu num piscar de olhos e só havia silêncio, as pontes, um casal aqui e ali e chegamos no Campo Santa Maria Nova, uma praça linda cheia de bancos vermelhos e com venezianos de verdade! com suas crianças, velhinhas, cachorros. Alguns restaurantes bem típicos, pessoas conversando sem pressa, lojas sem nenhuma pretensão, lojas de fantasias para o carnaval.
Chegamos no Campiello Widmann, nossa meta era encontrar um restaurante onde comemos uma comida totalmente inesquecível, em nossa última estadia em Veneza dois anos atrás. Pois demos de cara com o restaurante Ostaria Boccadori. O dono era o mesmo, claro, aqui poucas coisas mudam e queríamos comer tarde , mas ele disse que fechava às 14h e teríamos que chegar às 13.30h. Então fomos caminhar por este bairro simples e lindo, suas pontes , uma gôndola deu um susto num barco e o gondoleiro gritou OI... que é o grito deles. Nunca andei de gôndola  e esta é a quarta vez que venho aqui, elas são insuportavelmente caras.
Encontramos um ateliê lindíssimo de pinturas em espelho. E além de vender os espelhos de todos os tamanhos , dá vontade de levar algum para casa, você pode fazer o seu desenho e imprimir ali na hora. O ateliê se chama Fallani Venezia e o artista estava presente.
Passamos por um convento de Jesuítas que virou Fundação Cultural.O que adoro: os prédios que se debruçam na água com um varal de roupas coloridas.
Voltamos ao restaurante na hora marcada. Não havia lugar, apesar da nossa reserva, ele havia se esquecido da gente! Ficamos de voltar outro dia, ele fez uma cara triste e voltamos para procurar um restaurante onde também havíamos comido antes, o Al Conte Pescaor, um restaurante antiquíssimo, perto de São Marcos. Bem simples. Não fui nada criativa e escolhi outra vez um spaghetti al pomodoro. E já que estou todo o tempo exercitando  o pecado da gula, comi uma trufa afogada no café.
Hoje vamos ao Gugenheim.

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