Ao lado das Igrejas onde há mais fluxo de gente, as mendigas sentam-se no chão, com suas saias imensas, com o corpo torcido, com o torso quase encostado no chão, um copinho ao lado para as moedas e uma voz enjoada pedindo esmola.
Ontem depois de muitas escadas e pontes e vistas estonteantes pela Veneza de dentro, nos sentamos na praça S.Margarita , linda de morrer, com seus restaurantes e barraquinhas de frutas. Ao meu lado havia um senhor lendo um jornal e fumando cachimbo, mas no banco ainda cabia uma pessoa. Então veio a mendiga, andando firmemente, sem problema nenhum, sentou-se para fumar um cigarro e tirou um celular moderníssimo, do bolso? da saia? não vi, e ficou olhando as mensagens. Depois saiu dali toda faceira e voltou provavelmente para o seu "trabalho". Não sei sua nacionalidade.
Na praça que fica perto da Universidade Fosca, há um desfile de italianas, italianos, jovens e velhos, tão bem vestidos todos que poderiam estar numa passarela. Ontem de manhã o tempo estava nublado e algumas mulheres levavam guarda-chuvas, mas não qualquer um. Se a bolsa era verde o guarda-chuva era verde. Se o sapato era azul , o guarda-chuva era azul. Um senhor vinha andando com um paletó marrom com um friso verde na manga (no punho) e um lenço verde no bolso, como se usava antigamente. Os italianos e italianas, de qualquer idade, saem vestidos como para um encontro amoroso com a rua.
Finalmente consegui conversar com um africano sem ter que comprar uma bolsa. Perguntei a ele de onde era, de Dakar, respondeu , então eu disse, você se sente triste em Veneza, longe do Senegal? E ele me respondeu: -Muito triste, é muito duro viver aqui. Perguntei se todos os africanos tinham um único distribuidor de bolsas e ele não quis responder. Contei a ele que conheço Dakar e ele me disse: _Então Madame, leve uma bolsa! Mas as bolsas, para o meu gosto são horrorosas! Saí andando com seu olhar triste dentro de mim.
Voltamos ao nosso restaurante preferido, a taberna bem simples S.Maurizio, onde os garçons Lorenzo , albanês e Paolo, italiano, ficaram nossos amigos e fazem a maior festa quando chegamos. A comida é simples e simplesmente maravilhosa e o vinho da casa também, se eu ficasse aqui mais 15 dias poderia entrar num quadro do Botero e ninguém ia reparar a diferença.
Eles trabalham duro. Paolo prometeu ao Juan uma ricota fresca feita por seu cunhado. Nós os convidamos para passar férias em Saquarema. A seleção musical é ótima, jazz principalmente, mas Lorenzo disse que detesta.
E lá vamos nós outra vez para a rua.
terça-feira, 27 de maio de 2014
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