sexta-feira, 23 de maio de 2014

LABIRINTO

Veneza é um labirinto, um novelo de ruas, canais e ruelas que vão se abrindo, se estreitando, ruazinhas sem saídas, becos, um novelo feito de tempo e história, seus fios sobem pelas paredes, pelas escadas e vão nos "desguiando", pois basta um nada para que já não se saiba mais onde se está, já não se encontre o que se queria encontrar. Esta é a maior beleza daqui, sempre há algo novo para ver, mesmo que se viva aqui para sempre.
Ontem saímos para Fondamenta Nuove outra vez e sem querer nos perdemos totalmente e fomos passando por lugares lindíssimos que não conhecíamos. Paramos no Campoi S.Apostoli , perto da Ferrovia para descansar um pouco.Antes passamos por uma padaria tão fantástica que não resistimos e compramos um pão preto. A padaria se chama Colussi e funciona na mesma família desde 1840.
Na praça convivem todos os tipos de comércio, a Osteria Dal Riccio Peoco ao lado de uma loja de artigos fúnebres, morte e vida se entrelaçando. Não é preciso dizer que em cada praça há uma Igreja lindíssima.
Na Calle Dei Proverbi demos de cara com um Hotel saído das 1001 noites: Hotel Giorgione, entramos para ver e seu fausto é inimaginável. Data do final do século XVIII e sempre com a mesma família.
Já em Fondamenta Nuove, no Campiello Stella, damos com uma banca de peixe. Os peixes são arrumados como jóias, intercalados com frutas e flores e cestos cheios de concha e estralas do mar, como decoração.
Conseguimos encontrar o Restaurante Bocca D'Oro e era meio dia em ponto. Uma profusão de sinos. O restaurante é muito simples Na pracinha Campiello Widmann , antigamente se chamava Biri. Mas para nós tem um encanto especial. Por aí quase não passam turistas. Faço uma brincadeira comigo mesmo, que meu neto faz, se chama vejo-vejo. O que vejo? Casas desgastadas e um prédio lindíssimo, todo restaurado, de cinco andares. Vejo uma turma de estudantes pequenos com suas professoras, vejo um pedreiro com telhas nos ombros, uma criança de patinete e sua mãe vai puxando o patinete com uma cordinha, que ideia ótima!
Sentados, esperávamos o dono do restaurante,ele chega, abre os braços e nos acolhe com alegria depois de ter se esquecido de nossa reserva no sábado passado. Ele nos aconselha "un vino strepitoso!" O adjetivo estrepitoso me deixou encantada.
Aí sentados, tentamos adivinhar o enredo das coisas. Chega um casal com três garrafas de vinho , uma aberta, o casal senta com as garrafas sobre a mesa e pensamos: Que estranho, vão tomar todo este vinho?
Serão produtores de vinho? Ela fala com o proprietário e tento entender. Sim, é isso, ela fala da sua paixão pela terra e tenta vender o vinho, o proprietário prova, chama a sua mulher que prova e o Juan fala com eles dizendo que temos um filho Chef e então colocam novas taças na nossa mesa e provamos também , sua vinícola é da Toscana e logo ela se interessa em vender o vinho para o meu filho e diz que vende para o Brasil , visita o Brasil uma vez por ano. Anoto para ela o site do restaurante do meu filho. Ficamos todos amigos.
Voltando passamos pelo Campo N.S.Dei Miracoli e agradeço o milagre de estar conseguindo andar tanto .É tudo muito autêntico, a léguas de distância dos pontos turísticos. É uma Veneza real, com seus velhinhos, estudantes, gente que vive aqui e não é fácil viver aqui, imagino Veneza no inverno...
Hoje fomos bem cedinho a S.Marcos. Seis horas da manhã e ninguém, ninguém, apenas os varredores com suas vassouras grandes de bruxa, as gôndolas ainda cobertas e uma modelo no meio da praça , toda de negro, com uma fotógrafa. Elas falavam russo.   

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