quinta-feira, 22 de maio de 2014

FÁBRICA DE GÔNDOLAS

Ontem saímos ao Deus Dará por dentro da Accademia. Ao passar pela Porte S.Trovaso, como por um passe de mágica ou milagre, os turistas desaparecem.  Juan entra numa linda loja de doces e compra uma preciosa caixinha de balas. Espero na porta e ele sai maravilhado, com cara de menino travesso.
De repente, ao começarmos a atravessar uma ponte, a surpresa: do outro lado funciona a fábrica de gôndola. Em 1980 Juan fez uma grande reportagem aí para seu jornal e me conta: para construir uma gôndola são necessárias 8 espécies de madeira, as madeiras com mais ou menos 14 metros e a menor 8 cm. Dependendo do lugar da gôndola variam a espessura e a dureza da madeira. Elas são trabalhadas com fogo. Nesta fábrica também se reformam as gôndolas velhas.No momento em que chegamos puxavam uma gôndola da água para dentro do galpão, seis homens faziam força.
Chegamos no calçadão Zattere Al ponte Longo, maravilhoso, de onde se avista na outra margem a Giudecca. Seus palácios são soberbos e flores e flores e flores: é primavera e uma primavera calorenta e seca. Trouxemos casacos em vão. Dormimos com a janela aberta! Ontem deve ter feito uns 30 graus.
Chegamos ao Campazzo S.Sebastian. Ninguém. Sem lojas. Numa casa há uma placa. Leio:
LIVIO PODACATHARO , nobre de Chipre, Bispo humanista , viveu e morreu nesta casa em 1556.
No Campo de L'Anzolo Rafael há um restaurante mínimo. Paramos para um vinho. A mulher que nos atende é muito antipática, mas eu pergunto se anzolo é anjo e ela me diz que sim, em veneziano. Realmente, no Campo ao lado , em seu poço, há um alto relevo com um anjo belíssimo. Numa ruela, em um muro, uma pichação: "turistas fora do nosso quarteirão".
Incrível, numa casa ouvem rádio e está tocando uma música do Jorge Ben. Este bairro se chama Dorsoduro e há algumas placas que dizem " Dentro Venezia". Mas não adianta, os turistas ficam mesmo em S.Marcos, Rialto, Accademia. Para nossa sorte.
Chegamos ao Campo S.Margaritta, lindíssimo, com suas barracas de legumes, verduras e frutas e a Igreja com uma exposição dos artefatos do Leonardo Da Vinci que vimos da última vez que viemos aqui. Seus restaurantes são lindos. Na volta vi um cabeleireiro e num impulso decidi cortar bem curto o cabelo. Perguntei o preço e era viável, não era mais caro que no Brasil. Está tão curto que nem me reconheço, mas é ótimo, não dá trabalho nenhum.
Almoçamos na nossa taberna preferida, a S.Maurizio, os restaurantes fecham às 15hs e só reabrem às 18hs. Os garçons já são nossos amigos e ontem conversamos muito com um deles. É albanês. Mora em Mestre. Trabalha 12 horas. Saiu muito jovem de uma Albânia destruída pelo comunismo. Quando volta, de férias, para estar com a família, já se sente estrangeiro. E na Itália também se sente estrangeiro. Ele diz, mas se aprende a viver assim, sempre deslocado. Como uma pasta maravilhosa (já marquei uma nutricionista para a minha volta, pois pareço a personagem do livro Comer, Rezar e Amar, só fica faltando o quesito rezar, mas conjugo o verbo comer com uma verdadeira sem cerimônia). Juan pede um tiramisú para minha desgraça, pois não resisto de jeito nenhum e se ele não for rápido, como o tiramisú inteiro.
Hoje voltaremos a Fondamenta Nove, mas passearemos do outro lado. Vamos em busca do nosso almoço frustrado do outro dia. Amanhã conto tudo.

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