sábado, 12 de maio de 2012

BURANO

Ontem passamos o dia quase inteiro em Burano. É uma pequena ilha feita de rendas, cores, irrealidade.
São casinhas minúsculas, lindas, de todas as cores  vibrantes que se possa imaginar. Parece que caminhamos dentro de um quadro naif. Desde muitos séculos as rendeiras tecem maravilhosos bordados e rendas. Os canais, minúsculos como as casinhas, fazem sinuosos desenhos. Caminhamos a ilha inteira e poderíamos ficar aí por muito tempo, lendo, escrevendo. Não dá vontade de ir embora. Nos sentamos no restaurante mais antigo de Burano, há quatro gerações a mesma família cozinha. Em 1920  o restaurante se mudou para esta casa onde almoçamos e aí funciona até hoje. O azeite é fabricado também por uma família desde 1580, lemos no rótulo, mas nestas paragens o tempo se mede por séculos.
Hoje sim iremos ver uma grande exposição de Klimt, estou esperando o museu abrir. E depois andar para dentro, para longe da multidão , dos grupos imensos e dos camelôs que tanto estragam Veneza.
Por dentro há uma Veneza vazia e é por aí que hoje caminharemos, ao léu, nos perderemos.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

SINOS

Acordo em Veneza com os sinos. Debaixo da nossa janela passam gôndolas. O corpo quase explode com tanta beleza.
Ontem passamos metade do dia em Murano, uma Veneza sem o luxo dos palácios. Fomos nos adentrando e que linda é Murano em seu interior. Encontramos, no Campo San Bernardo uma Osteria cheia de venezianos, trabalhadores, gondoleiros, gente do povo e aí almoçamos comida simples e maravilhosa, uma jarra de vinho da casa e por um momento a sensação de pertencermos a este lugar.
No final da tarde fomos para os lados da Academia e vimos um belíssimo entardecer, vimos a luz desaparecer no Canal , a Giudecca se iluminar do outro lado da água.  Andamos até gastar os pés.
Hoje vamos ver duas exposições e talvez algum Palácio. Os dias estão azuis, perfeitos.  

quinta-feira, 10 de maio de 2012

MADRID-VENEZA

Tenho laços profundos com Madrid , pois em 1998 morei na Calle Arquitecto Gaudí com o Juan e era o começo de uma linda história de amor. Juan trabalhava o dia inteiro no jornal e eu ficava sozinha . Muitas e muitas vezes tomava o ônibus 52 passava horas no Café do Oriente vendo a vida passar, com o Palácio Real ao fundo.
Quando volto a Madrid sempre quero me hospedar aí, na Praça da Ópera, ao lado do Palácio Real, perto da Porta do Sol. Estivemos apenas uma tarde em Madrid e percorremos os lugares amados. Para quem chega de fora, para o turista, a crise não aparece. A primavera explodia em luz e eu me sentia, sentada no Café do Oriente, dentro de um filme.
Ontem gastamos o dia inteiro para chegar a Veneza, pois nosso voo fazia conexão em Roma e depois mais uma hora de barco até o hotel. Também precisamos trocar de barco.
O hotel fica em Giglio e o lugar é uma preciosidade. Está perto da Praça San Marco, mas afastado do burburinho. É a terceira vez que venho a Veneza e é sempre um sonho.Estou dentro de uma imensa e feérica aquarela.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

LEITORES

O maior prêmio para um poeta, um escritor, é ser lido. Maior do que qualquer prêmio é um leitor, muito tempo depois, ainda carregar o poema em sua pele.
Hoje , antes de sair para o aeroporto, recebo uma dádiva: um antropólogo que foi ao meu encontro em Bogotá, por ter ouvido a minha entrevista na Rádio Caracol, me escreveu pedindo que eu enviasse um poema do livro Desertos que fiz com o Roger Mello. Eu havia lido o poema e ele o guardou no coração:

Dezessete


Sorri a mulher por trás do véu?

Sussura palavras ou flores

desconhecidas?

O rosto que se esconde, lua oculta,

será indecifrável como a escrita

do vento nas dunas?



Na bolsa a mulher carrega

um lenço de seda azul,

um bilhete escrito em preciosa

caligrafia,

três moedas antigas

como três sonhos.





domingo, 6 de maio de 2012

MADRID E VENEZA

Amanhã vamos para Madrid e seguimos no dia seguinte para Veneza.
Juan escolheu Veneza , de quem quase foi Cônsul Honorário, para comemorar os seus oitenta anos. Juan é uma biblioteca de histórias e não me canso de ouvi-lo. Ontem veio a Globonews aqui em casa entrevistá-lo para o programa Clube de Correspondentes que irá ao ar em julho. Leila Sterenberg , divina, criou um clima fantástico durante a entrevista.  As histórias do Juan, ao longo de quase cinquenta anos de jornalismo são tão fantásticas que parecem inverossímeis. Juan trabalha umas dez horas por dia, no mínimo. Não parece verdade que ele vai parar alguns dias.
Veneza não é real. É um teatro, é um sonho. Com chuva, com sol, com bruma, suas águas nos enfeitiçam e aí ficamos, aprisionados para sempre. Como num labirinto:

" Assim, você nunca sabe, enquanto se move por esses labirintos, se está perseguindo um objetivo ou fugindo de si mesmo, se você é o caçador ou sua presa."

in Marca D'Água, Joseph Brodsky, ed. Cosacnayfi

sábado, 5 de maio de 2012

ACHADOS E PERDIDOS

Não sei vocês, mas eu vou perdendo tudo, canetas, livros, brincos, pulseiras, xales. Em Bogotá perdi um lindíssimo xale negro que a Ieda de Oliveira me emprestou. Xale comprado em Paris. Chovia muito na saída da feira e sem guarda-chuva o xale emprestado foi meu abrigo. Nem a mágica palavra Paris conseguiu grudá-lo ao meu corpo: eu o deixei no táxi. Desolada, ontem, peguei o xale que mais amo e enviei por correio para a Ieda. Na minha última visita ao meu filho em Granada perdi as únicas jóias que tinha, que eu amava,presente de casamento do Juan, que foram encontradas na casa, dentro do armário do meu neto, um ano depois. Não sei o nome disso.

A primeira vez que ouvi um poema do Carlos Pena Filho, foi em Olinda, nos anos noventa, na voz da Elisa Lucinda e no poema, ele ia pintando tudo de azul. Fiquei perplexa com tanta beleza. Vrei uma estátua azul.
Agora leio no "Guia Prático da Cidade do Recife", que acho num canto da estante:
".........................................
Nos subúrbios coloridos
em que a cidade se estende,
em seus longos arredores,
onde, a cada instante nasce
uma rosa de papel,
caminham as tecelãs.
Restos de amor nos cabelos
que ocultam por ocultar,
levam a noite no ventre
e a madrugada no olhar
e em esqueletos da sombra,
onde a luz chega filtrada,
as tecelãs vão parar."
............................................

Porque também sou tecelã de poesia, amores, amizades, vida, este fragmento me toca especialmente.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SILÊNCIO

Ontem assisti na TV 5 a um filme sobre a vida de Jorge Semprún, escritor que morreu no ano passado já com quase 90 anos. Espanhol Semprún chegou até as minhas mãos, meus olhos, meu coração, não sei como. Nunca sei como os livros aparecem magicamente na minha vida, a não ser os que busco. Ele foi prisioneiro de Buchenwald e do seu livro A Escritura ou a Vida, guardei duas passagens que me marcaram. Semprún era prisioneiro político e falava alemão. Não era judeu, era comunista. Ao entrar no Campo, ao dizer a sua profissão, declarou: estudante de filosofia. O alemão que anotava seus dados, também comunista e preso político lhe respondeu: isso não é uma profissão. Não vai servir aqui dentro. Ele insistiu. Sou estudante de filosofia e nada mais. O homem ficou em silêncio e datilografou. Trinta ou quarenta anos mais tarde, ele voltou a Buchenwald com os netos e uma equipe de televisão. A sua ficha de entrada foi resgatada. E no espaço reservado para profissão estava escrito: estucador. Uma palavra salvou a sua vida. A bondade anônima existe.
A outra passagem é belíssima. Semprún encontra seu professor de filosofia da Sorbonne no Campo, como ele preso político. Um dia seu professor contraiu tifo ou cólera, não lembro. Ele morria . Semprún estava ao seu lado. E como era ateu não podia dizer uma oração. Então recitou baixinho um poema de Baudelaire. Seu professor esboçou um sorriso e morreu. A poesia como oração.
Semprún demorou 30 anos para escrever seu livro. Um silêncio de 30 anos. Porque , diz ele, para viver precisava esquecer. Era uma escolha. Mas então , um dia, ele disse: a escrita E a vida.  

quinta-feira, 3 de maio de 2012

PREPARANDO O LANÇAMENTO

Devagarzinho vou preparando o lançamento do meu livro O DIÁRIO DA MONTANHA em Visconde de Mauá. Trocamos a data, agora definitiva: 25 DE JUNHO.
São pequenos e preciosos detalhes. O lançamento será feito no atelier de cerâmica\da minha irmã Evelyn Kligerman e Luis Mérigo. Estão sendo confeccionadas 50 lembranças em cerâmica, com o nome do livro.O atelier fica em Maringá-Minas, ao lado da loja da Edith e do Café Maringá.O atelier é deslumbrante e será o cenário perfeito para reunir amigos e desconhecidos. André, meu filho e Dani, minha nora, oferecerão um belíssimo coquetel. Estará muito frio, o lançamento será às 19hs e a lareira estará acesa. Estou buscando um violinista.
Já vi o livro , a sua "boneca" e está maravilhoso.
Mas antes do lançamento tanta coisa acontecerá. Segunda-feira, dia 7, embarco para Madrid. Em junho virá minha sobrinha Maria José, da Espanha, passar 15 dias em Saquarema. Enquanto isso, o Diário da Montanha está assando no forno, seus poemas que falam de tudo e de nada.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O FIO DA MEADA

Recebo a sexta edição do meu livro O FIO DA MEADA, da ed. Paulus. A história do livro é curiosa. Ele é muito antigo e saiu pela primeira vez pela editora Globinho que nem chegou a vender o livro porque fechou. Pinky Weiner fez belíssimas ilustrações que a editora perdeu. Mas a edição da Paulus tem lindas ilustrações da Elizabeth Teixeira. A  primeira edição saiu com uma palavra errada que estraga (para mim) a página inteira. Foi corrigido o erro na segunda edição. E agora, cinco edições depois , eis que o erro volta! Agora, novamente, terei que esperar a próxima edição para trocar a palavra.
Mas a página que vou reproduzir, a que introduz a história, está toda certinha:

"Pensamentos são rios viajantes. O tempo todo se enrolando, saindo e entrando, às vezes arrumadinhos, outras vezes sem pé nem cabeça. Como fios de um grande novelo. Tem gente que pensa poeticamente, outros só pensam de um jeito guerreiro, violento.
Pensamentos são como pássaros de todos os jeitos e cores. Saindo de uma caixa eternamente aberta. Tem pensamentos que mudam o mundo para melhor, outros estragam ainda mais este mundo" .- O fio da Meada, ed. Paulus.

Podemos melhorar a qualidade dos nossos pensamentos. É uma atividade trabalhosa e diária. Meditação ajuda, música, contemplação. Pensamentos obssessivos também são horríveis e atrapalham bastante a nossa vida, mas podemos substituir estes pensamentos por outros luminosos. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

CHUVA

Fazia tempo que não chovia tanto em Saquarema nem tinhamos um sudoeste tão imenso revirando as árvores e a casa.
O grande poeta escritor Álvaro Mutis, colombiano, me oferece a sua maravilhosa, caudalosa poesia. Tento traduzir, faço o possível:

VISITA DA CHUVA

Chega de repente a chuva, instala suas hostes, minuciosos
guerreiros de seda e sonho.
   Salta alegre pelos telhados, desce pelos canais em precipitada algaravía;
   começa a grande festa das águas numa viagem que estabelece
seu transitório domínio
   E pela mão nos leva a regiões que o tempo havia
sepultado, parece, para sempre.
   alí nos esperam
a febre da infância,
a lenta convalescença nas tardes de um outono incessante,
os amores que se prometiam sem término,
os lutos na família,
os úmidos funerais no campo,
o trem detido diante do viaduto que a cheia arrastou,
os insetos zumbindo no vagão onde nos surpreendeu
a aurora,
as histórias de piratas cobiçosos, de malaios que degolan
em silêncio, de viagens ao Polo, de tormentas devastadoras e ilhas afortunadas;
nossos pais, jovens, muito mais jovens do que estamos agora,
que a chuva resgata de sua parda cinza sem idade, do seu calado
trabalho mineral
e irrompem vestidos de riso e gestos juvenis.
Que bendição a chuva, que intacta maravilha o seu passo
cheio de surpresa e bondade
   que nos preserva do esquecimento e da rotina sem memória.
Com que gozo transparente nos instalamos em seu império
de pálios vegetais
   e com quanta construída resignação a escutamos calar pausadamente, afastar-se e regressar por um instante
   até que nos abandona no meio de um silêencio lavado,
 de um âmbito recém inaugurado
   que invade o presente com suas turvas matérias
derrotadas, seu cortejo de pálidas convicções, de costumes
onde não cabe a esperança.
   Recordemos sempre esta visitada chuva. Fechados os
olhos, tratemos de evocar seu vozerío
   e assistamos de novo a vitória de suas hostes que,
   por um instante, derrotam a morte.

Álvaro Mutis, Poesía Reunida, ed. Contemporánea  

segunda-feira, 30 de abril de 2012

NOTÍCIAS DA CHEGADA

Ontem o dia foi muito longo em Bogotá. Fomos para Uzaquen, um bairro lindo, preservado, parece uma aldeia da Andaluzia. Havia um mercado de artesanato na rua, ocupava todas as ruas. O que vendiam era de encher os olhos. Era uma verdadeira maravilha, produto de várias etnias indígenas. Havia gente cantando e grupos de música. Havia uma energia linda, uma alegria. Almoçamos num restaurante bem popular, comida colombiana e comi uma espécie de panqueca dura de banana , maravilhosa!
Voltamos para o hotel e esperamos o carro que nos buscaria para o aeroporto que é um caos. O Tom Jobim fica uma belezaa perto da loucura que é o aeroporto de Bogotá. Na sala de espera nos sentamos ao lado de uma mulher muito interessante que voltava do México e nos contava os horrores que o tráfico e a polícia fabricam aí. Mas conhecemos bem esta história.
Voltei de Bogotá com um desejo imenso de saber mais sobre a Colombia, fiquei muito impactada.
Em Saquarema faz frio, chove, sopra um sudoeste bem forte, o mar está violento, tudo do jeito que eu gosto. Os ventos vieram me receber.

domingo, 29 de abril de 2012

ÚLTIMO DIA EM BOGOTÁ

Ontem fomos para a Feira mais cedo. Eu queria comprar um livro do grande escritor colombiano Álvaro Mutis. O encontro com o público às 14hs foi muito bom. Um casal de professores , super atentos, saiu correndo antes que eu lesse o último poema e achei estranho. Quando acabou eles voltaram e vieram falar comigo. Foram procurar algum livro meu para comprar e não havia nenhum. É uma pena, pois falamos, cativamos as pessoas e elas gostariam de levar um livro autografado para casa mas nenhuma editora trouxe nenhum livro.Dei para eles o Poemas e Comidinhas e Caixinha de Música. Aliás , meu filho André me conta que o programa da TV Rio Sul para o Dia das Mães será feito em sua escola de cozinha com o Poemas e Comidinhas. Aqui o governo não compra livros para as escolas. Deduzo que as escolas não possuem bibliotecas ou Salas de Leitura. Que horror!
Os contrastes são gritantes, como no Brasil.
 À noite fomos ao restaurante mais bonito que já fui em toda a minha vida. Não está em Paris ou Madrid, mas em Bogotá. É um palácio de uma beleza impressionante e o bar, na entrada, ao contrário do resto da casa é totalmente louco e contemporâneo. Do segundo andar, onde comemos uma comida fantástica, se pode ver a cozinha lé embaixo, toda envidraçada. Se algum dia algum de vocês vier a Bogotá não pode perder. Se chama Harry Sazon e fica na Carrera 9 #75-70. Ficamos, eu Ieda de Oliveira e Pedro Bandeira, muito impactados. E o preço é um terço do que seria no Brasil.
Hoje temos que sair do hotel às 12hs e um carro vem nos buscar às 19hs para o aeroporto.
Vamos para  a rua e amanhã, Brasil.

sábado, 28 de abril de 2012

EM BOGOTÁ

Ontem pela manhã demos uma entrevista na Rádio Caracol com uma audiência de dois milhões de ouvintes. Eu e Pedro Bandeira. Foi uma escolha de Sofia, pois éramos três, na verdade a entrevista seria apenas minha mas consegui que abrissem um espaço para os meus amigos. Na última hora eles disseram que no estúdio só cabiam dois e o Pedro e a Ieda decidiram pelo Pedro. Foi espetacular, a Ieda ouviu de fora da cabine e nos disse que demos um show. À tarde, um antropólogo foi ao meu encontro por causa do programa do rádio. No espaço da Fundação a sala estava repleta e felizmente eu tinha dois livros de poemas em espanhol e houve muita empatia com a platéia, foi mágico. Saí esgotada e faminta e comprei um saco de pipocas! O Pedro se saiu muito bem depois de mim e hoje repetimos a dose, só que hoje a Ieda irá falar também.
À noite fomos a um restaurante belíssimo, numa casa senhorial, a comida espetacular com sabores para nós inusitados. Ah, antes, na hora do almoço fomos comer no restaurante da mais famosa Chef de Bogotá, o restaurante se chama Leo, cava y cena, eu acho, O da noite se chama Club Colombia e a proposta é recuperar a comida das avós, da Colombia profunda. Ou seja, como mãe de Chef (André Murray) tenho mesmo que fazer uma viagem gastronômica e como mãe de dono de uma enoteca (Guga Murray) tenho que beber um bom vinho!
Hoje vou cedo para a Feira pois quero ver a exposição da Cora Coralina no espaço do Brasil e quero comprar alguns livros .
Amanhã temos que passar o dia na rua, pois nossa conta no hotel fecha às 12hs e nosso voo é às 23hs!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

DE BOGOTÁ

Ontem passamos a manhã no Centro Histórico. Fomos ao Museu do Ouro e ao Museu Botero que está com uma exposição lindíssima, a sua e a do seu acervo particular. Vimos Chagall, Picasso, Dali, Toulouse Lautrec, Klimt e muitos muitos pintores maravilhoisos. Entramos em milk lojas de artesanato e é tudo colorido e lindo. Voltei ao aeroporto e consegui recuperar meu casacão, fiquei radiante, mas não está fazendo frio, a temperatura está amena e deliciosa. A cidade é caótica, seu trânsito horrível como o do Rio, no café da manhã vejoo noticiário na TV e leio o jornal El Tiempo:  as Farc continuam aterrorizando e há muita violência. Mas o povo é maravilhoso, doce, amável, atencioso e belo.
Vou agora dar uma entrevista na Rádio Caracoil , consegui a entrevista através de amigos e levo comigo a Ieda de Oliveira e o Pedro Bandeira, faremos um trio.
Depois do almoço vamos os três para a Feira de Livros para nossos encontros com o público.
Li no jornal que em Moscou fizeram uma homenagem maravilhosa para Gabriel Garcia Márquez: um vagão do metrê coberto com seus poemas, retratos, fragmentos dos seus livros. Por que não os imitamos e em cada vagão dos nossos metrôs homenageamos um escritor, um poeta?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

BOGOTÁ

Cheguei a Bogotá com a Ieda de Oliveira já como comnpanhia, nos encontramos no aeroporto. Em Bogotá nos esperavam Pedro Bandeira e as meninas da Fundação. Perdi meu casaco para lugares muitio frios e fiquei muito chateada. Eu o deixei no avião e não consegui recuperá-lo. Eu, Pedro e Ieda fomos jantar num lugar maravilhoso, uma casa antiga, Casa Vieja.Comemos comída típica, eu e Ieda uma sopa divina e o Pedro um prato montanhês, com chouriço, ovo, farofa, banana frita, para derrubar elefante. Mas antes vieram uns bolinhos de milho, "arepa", uma maravilha. O trânsito é caótico como no Rio, mas são todos tão amáveis.Sinto um pouco o mal estar da altitude, um pouco de dor de cabeça.
Tive uma impressão agradável da cidade, já que as montanhas a circundam. Hoje tenho o dia livre e vamos visitar o Museu do Ouro no Centro Histórico e o Museu Botero. Nós três agradecíamos a dádiva do encontro, de não estarmos sozinhos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

NO MUNDO DA LUA

Vou hoje para o Rio e amanhã cedo zarpo para Bogotá. Vou com três notícias maravilhosas na bolsa:
1 - "Enriquecimento ilícito de juiz e político deve virar crime" - O Globo
2 - " A primeira mulher presidente da Funai" - O Globo
3 - " Dilma: Brasil tem que ser sexto em QUALIDADE DE VIDA" - O Globo

A primeira notícia pode melhorar e muito a qualidade dos políticos do nosso país que roubam como se aqui fosse a Casa da Mãe Joana, a Casa da Sogra, etc. Seria o começo de algo novo. Já daria para o cidadão comum respirar.
A segunda notícia nos diz que Marta Maria do Amaral Azevedo , antropóloga, assumirá a Funai. Os índios são tratados como lixo. esperemos que mude o foco.

A terceira notícia  nos diz que a qualidade de vida deveria estar no topo das preocupações. Qualidade de vida exclui desmatamento,  corrupção, violência, agressões ao planeta e aos seus habitantes.

Portanto, eu, poeta e caixeira viajante, vou com a mala cheia de esperanças e poesia. Se puder escrevo lá de Bogotá e deixo um poema:

NO MUNDO DA LUA

Vou inventar uma rua
onde se pinte e borde,
se faça e aconteça
se cante e dance,
se plantem corações...
uma rua onde todos vivam
no mundo da lua.

in No Mundo da Lua, ed. Paulus 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

CHUVA E MALA VERMELHA

Choveu muito ontem, finalmente, pois aqui em Saquarema, no mar, chove muito pouco e eu fico imaginando , todos os moradores possuem um poço e se não chove o que poderia acontecer? Dormi com a chuva dentro do sono e tive um sonho lindo , um nascimento. Nascia uma criança e todos festejavam.
Amanhã irei para o Rio, dormirei na casa do meu irmão , pois o voo que me levará a Bogotá sai muito cedo, é impossível ir direto de Saquarema para o aeroporto.
Tenho como princípio viajar com uma mala pequena, vermelha, não importa o tempo em que estarei ausente, as coisas que levo precisam caber dentro da mala. Ela já está gasta mas me identifico com ela, também estou gasta e tento reduzir tudo ao essencial. O osso do osso. Sempre prefiro lojas pequenas onde tenha poucas opções. Odeio espaços imensos, claro que tenho que ir a Feiras de Livros e Bienais, mas não gosto, prefiro livrarias bem pequenas, silenciosas e aconchegantes. Tenho pavor de multidão, sou um bicho do mato, estaria bem na pele de um gato selvagem. Gosto de becos e ruelas, escadarias cobertas com pó de tempo. Olho minha mala vermelha aberta em cima da cama e suspiro, o que levarei?  Há que deixar um espaço reservado para alguns livros, os que comprarei...

sábado, 21 de abril de 2012

O AFERIDOR

Manoel de Barros inventou um aferidor de encantamentos que vai dando nota para todas as coisas. Hoje receberemos aqui em casa Messias e Kátia, nossos grandes amigos. Já estamos preparando a casa, o fogão de lenha e as panelas. O aferidor de encantamentos já não se aguenta de ansiedade, antes mesmo do casal chegar ele já dá nota mil!

 O AFERIDOR
 Tenho um aferidor de Encantamentos.
 A uma açucena encostada no rosto de uma criança o meu aferidor deu nota dez.
 Ao nomezinho de Deus no bico de uma sabiá o aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura o aferidor deu nota vinte.
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada sentado nas pedras de suas próprias ruínas o meu aferidor deu DESENCANTO.
 (O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.)

 Manoel de Barros, in Ensaios Fotográficos, ed. Record.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

COMEÇANDO O DIA COM NERUDA

Em 1974 hospedei duas chilenas em minha casa. Elas haviam perdido tudo. Bárbara e Tereza Vicuña, sua mãe e Tatane , a filha da Bárbara, fugiram do Chile para não morrer e por intrincados caminhos chegaram até a minha porta, numa chácara na Tijuca, no Rio de janeiro, onde eu morava. Bárbara foi quem me apresentou Pablo Neruda. Trouxe poucas coisas do Chile , mas entre suas roupas veio um exemplar dos Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada.Vale a pena estudar espanhol para ler Neruda em sua lingua:

SI TÚ ME OLVIDAS

Quiero que sepas
una cosa.

Tú sabes como es esto:
si miro la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hasta las islas tuyas que me aguardan.
....................................................

O poema continua, é grande e está em Los Versos del Capitán.Tenho uma edição muito bonita da Real Academia Espanhola. Na primeira página leio que Neruda dizia que
" En la casa de la poesía no permanece nada sino lo que fue escrito con sangre para ser escuchado por la sangre". Não há definição mais bela para a poesia.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

VOCÊ É MALUCA TAMBÉM!

Acho que foi no ano de 1990 que Dra.Bertine me convidou para fazer um lançamento de livros no Hospital do Engenho de Dentro, o mesmo onde Dra. Nise da Silveira criou o Museu do Inconsciente. Era uma festa de Natal. Fui sentada numa mesa com meus livros e uma enfermeira tomava conta de mim. Naquela época ainda eram muitos os internos.
Duas mulheres de meia idade, de braços dados, se aproximaram da minha mesa, folhearam os livros. Então uma delas leu em voz alta e leu bem:

Procura-se um equilibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do dia
que saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo dia.

(in Classificados Poéticos, ed. Moderna)

Quando terminou de ler ela pousou o livro na mesa , olhou para mim fixamente e me perguntou:
_ Fala a verdade, você é maluca também, não é ? Para escrever coisas assim tão bonitas...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SINOS NA VARANDA

A minha casa tem sinos na varanda. Os sinos se misturam com o barulho do mar e do vento. Então fiz um haicai:

SINOS NA VARANDA
O RUMOR AZUL DO MAR
MÚSICA DE VENTO

Imagino as sereias , belíssimas, no fundo mar, e quando sentem frio se cobrem com maravilhosos xales:

SEREIAS COSTURAM
COM FIOS DE HORIZONTE
SEUS XALES AZUIS

Olho minhas mãos e suas intrincadas linhas:

NAS LINHAS DA MÃO
UM BARCO SE EQUILIBRA
DESTINO A BORDO

Todos estes haicais estão no livro O XALE AZUL DA SEREIA, Ed. Larousse Júnior.

terça-feira, 17 de abril de 2012

RITUAIS

Todos os dias, pela manhã, os mesmos rituais: abro as portas da varanda, amanhece, olho o mar, faço o café, arrumo a mesa. São momentos preciosos onde parece que a vida recomeça , todos os dias. Onde parece que a vida será sempre assim, para sempre.Os rituais são gestos que parecem conter o tempo como um dique, nos dão a ilusão da eternidade. Rainer Maria Rilke me diz:
......
"Eis minha janela.
Acabo de acordar suavemente.
Parecia estar flutuando.
Até onde alcança minha vida,
e onde começa a noite?"
......

in´Senhor,é tempo. Poemas Selecionados, ed. Posigraf

segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM REI QUE MATA ELEFANTES

O Rei da Espanha, em plena crise, quando os espanhóis estão vivendo a época mais difícil de suas vidas desde o fim da era Franco, vai a África matar elefantes pagando 50.000 euros com dinheiro dos cofres públicos. O crime só se tornou público porque o rei levou um tombo com algumas fraturas e um jato particular teve que ir buscá-lo. Se o rei não tivesse caído, o povo espanhol não saberia que enquanto o país desmorona, o seu rei tem como passatempo matar elefantes na África. Os elefantes são seres maravilhosos e estão em extinção. São solidários, amigos, maternos, aliás os grupos funcionam como um matriarcado. Os elefantes são os únicos animais de que se tem notícia que possuem rituais para a morte. A mãe amamenta seu filho de 3 a 5 anos. E os elefantes possuem uma memória prodigiosa.E uma capacidade de amar também prodigiosa. Como alguém pode matar covardemente um elefante?
A monarquia não faz sentido em nossa era. Não se entende como ainda está de pé com suas fofocas, frivolidades, artimanhas e gastos vultosos com dinheiro público. Serve apenas para alimentar uma determinada imprensa que vive disso. Mas já que existe, enquanto existe, um Rei deveria ser um exemplo para o seu povo.Sou casada com um espanhol, tenho uma nora espanhola e um neto espanhol. Amo a Espanha. E me envergonho.

domingo, 15 de abril de 2012

LITERATURA VIVA

Ricardo Barros, pessoa de extrema sensibilidade, me convidou para participar novamente do Projeto Literatura Viva do SESI. Aceitei e fui. Desta vez para São Caetano, Santo André, São Bernardo e Mauá. Acho que passaram por mim umas 700 crianças nos espaços mais variados. Foram quase duas horas com cada grupo fazendo dinâmicas com os meus poemas. Foi maravilhoso. As crianças respondem de uma maneira esplêndida a qualquer estímulo poético e com certeza o nosso encontro continuará reverberando em seus corações (e no meu também).

Em Santo André recebí a visita da Mariana Esteves, minha leitora de São Paulo que já veio duas vezes a Saquarema e Thais Manfrini, que não conhecia, minha leitora de Santo André. Thais é lindíssima e adorou tudo! Levou meu livro Território de Sonhos para que fosse autografado.

Quando voltei para São Paulo, preferi dormir do que viajar durante a noite, a irmã da Mariana me ofereceu sua casa , seu quarto, numa gentileza que até me deixou constrangida. Os pais da Mariana que queriam me conhecer, me levaram para jantar numa cantina enorme, tipicamente italiana, uma comida maravilhosa, beringelas, abobrinhas, cogumelos...

Aqui estou , em casa novamente, colocando a vida em dia...

terça-feira, 10 de abril de 2012

GODOFREDO E BIBLIOTECA

Godofredo, o mais novo habitante do jardim, é lindo. Parece uma pedra.Chegamos do Rio com o God (para os íntimos) numa caixinha onde havia uma banana. Ele veio tranquilo, no banco de trás do táxi, comendo a sua bananinha. Já era noite. Acendemos as luzes do jardim e colocamos o God aos pés de uma goiabeira, com a banana e um pote d'água. Ele ficou imóvel. Fomos dormir. Hoje acordei às 4:45hs e fui direto ao jardim. Ele havia se mudado de árvore, estava aos pés da palmeira majestosa e triangular, a casca da banana comida no meio do caminho. Ele andou uns cinco metros ( a distância entre uma árvore e outra)e ainda não se encontrou com os outros jabutis. Já dá para ver o quanto é calmo e tímido, pois não saiu explorando o jardim, mas vai pouco a pouco conquistando a sua terra. Aqui é um habitat perfeito e acho que ele vai amar. Os cheiros são essência de flores e de mar.

Hoje arrumo a mala para São Paulo. Estou no projeto Literatura Viva do Sesi e farei 4cidades do interior: Santo André, São Caetano do Sul, Mauá, São Bernardo.
Farei duas cidades por dia e talvez me ausente do mundo virtual, pois sei que chegarei morta no hotel à noite. Ficarei sediada em Santo André , indo e vindo.
São Bernardo tem uma Biblioteca grande , numa Escola Pública, com o meu nome, mas sou tão desorganizada que perdi o nome da escola, é uma pena, pois seria lindo visitá-la. Tentarei descobrir quando chegar lá. É maravilhoso ser flor e biblioteca, assim, quando me canso de ser gente, assumo estes outros avatares!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

UM JABUTI DE PRESENTE

Ganhamos mais um jabuti de presente. É um macho. Vou o Rio hoje buscá-lo e vou também ao oncologista munida dos meus exames maravilhosos como cartas de alforria, como cartas marítimas que marcassem ilhas desconhecidas e esplêndidas: o futuro.

PALAVRAS ANTIGAS

Astrolábios, sextantes,
alfarrábios,
arrumo nas minhas estantes
e cartas antigas,
roídas
pelo tempo.

Arrumo luas e ventos,
todos os velhos instrumentos
para enfrentar o sol e a tempestade,
os rumos mais variados.
Parto nesse meu barco
para o país do amor.

Quantos homens, desde o in[ício do mundo,
partiram, assim como eu,
uma bússola e um desejo,
o coração em sobressalto.

Quem, ancorado no cais,
esperará por mim?

in O Mar e os Sonhos, ed. LÊ

domingo, 8 de abril de 2012

CRIATIVIDADE

Leio hoje no O Globo uma entrevista com a psicóloga Shelley Carson , autora do livro O Cérebro Criativo que chega ao Brasil pela ed. BestSeller.
O que ela nos diz é maravilhoso e já sabíamos, mas agora a neurociência fundamenta as nossas intuições: todos , absolutamente todos os seres humanos são criativos, não apenas os artistas. Mas podemos estimular isso, é como um exercício, ginástica para a mente. Com meditação, contemplação, música e ousadia. Todos nós temos direito a algumas "loucuras" , todos nós temos direito a fazer coisas diferentes . Expandir a nossa mente só nos traz alegrias, seja decorando a nossa casa ou mesmo o mínimo espaço do escritório que ocupamos com objetos que nos levem por caminhos agradáveis e inusitados, seja fazendo alguma receita com nossa própria receita, uma colcha de retalhos,um quadro, um poema, a lista é longa e interminável. Nossa mente gosta de fazer associações inesperadas . Vejo o meu inconsciente como a minha fábrica de imagens e o silêncio, a contemplação, a meditação, faz com que eu tenha acesso a estas geografias profundas, com que eu possa colher estas imagens e idéias com mais facilidade.Não há alegria que se compare com a alegria de criar. E a criatividade nos ajuda a encontrar a saída para situações que às vezes parecem tão sem saída.

sábado, 7 de abril de 2012

TRUM-LIN

Quando meu filho André era bem pequeno escreví uma história para ele. Era sobre um menino que criava um personagem imaginário para brincar, se chamava Trum-Lin, mistura de trovão com raio e gotinha d'água. Não pensei em publicá-la e ela se perdeu. Isso foi na pré história da minha existência, eu nem escrevia poesia ainda. Não sei porque, hoje, ao acordar e arrumar a mesa para o café da manhã na varanda, o céu carregado de nuvens, o nome do personagem saiu de algum esconderijo da minha mente e se sentou para tomar café. O que é isso, a memória? Então nada se perde? Quando escrevi a história acho que meu filho Gustavo nem havia nascido! Naquela época como eu poderia imaginar que um dia no futuro teria tantos leitores e que meus poemas voaram por aí como pássaros ciganos ? Escrevo um poema agora e o dedico ao meu neto Luis que faz uma salada colorida com as palavras:

TRUM-LIN

Quando parece que o céu
vira mar
e um raio atravessa a janela,
ilumina a sala de jantar,
é o Trum-lin
que bate seus tambores
em sua fábrica de água.
Só quem é criança pode vê-lo
em seu novelo de luz.

Trum-lin faz música
com redemoinhos
e tempestades
voa pelos telhados
desarruma a cidade.

Só quem é criança pode vê-lo
em seu novelo de luz.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

ASTOR KAI

Dois dias antes do nascimento de Astor, o novo netinho do Juan, filho da Maya, meu neto de estimação, minha enteada teve que ir ao hospital para os últimos exames. Era greve geral na Espanha. Maya andou, com seu barrigão, duas horas por Barcelona. Não havia táxis, ônibus nem metrô. Talvez por isso, seu parto, dia 1 de abril, tenha sido normal, fácil e rápido.

Os astrônomos anunciaram
no dia 1 de abril de 2012
o nascimento de uma nova estrela
de primeira grandeza,
de um azul nunca visto
e com a luz do seu nome,
ASTOR KAI,
corações se iluminaram,
o universo se expandiu
e do mais longínquo infinito
até as profundezas da Terra
acordes perfeitos soletraram
alegria para sempre.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ACASO

Tudo na minha vida aconteceu por puro acaso. Na década de 70 conhecemos Visconde de Mauá e decidimos acampar com as crianças um final de semana. Gostamos e voltamos algumas vezes. Ficávamos sempre no Vale do Maringá. Mas um dia decidimos mudar e entramos no Vale do Pavão para ver se havia um camping. Aí ficamos. Caminhamos um dia até o final do vale e comentamos com o homem que guardava o camping como estávamos impactados. Ele nos perguntou: _ Por que não compram uma terra?
Não tinhamos nenhuma possibilidade de comprar uma terra , mas ele insistiu em nos mostrar um lugar. Fomos ver a terra. Onde a estrada acabava subimos por uma trilha de vacas. E chegamos ao lugar mais esplêndido que eu jamais havia visto. Então voltamos ao camping, fizemos as malas e descemos a serra em busca de um empréstimo. Nunca havíamos pensado que seria possível ter um sítio. Aí criei meus filhos e encontrei minha essência, minha vida secreta, aí comecei a escrever poesia.

Um dia, não sei como, um pequeno livro do Lorca, com rosas na capa, veio parar nas minhas mãos. Às vezes acho que os livros buscam seus leitores. Até hoje eu o tenho comigo. Eu não lia espanhol, mas li e reli seus poemas umas trezentas vezes, até que eles se misturaram com a minha saliva e pude entender tudo. Amo o Divan del Tamarit.
Transcrevo duas estrofes:

"Poesia es lo imposible
hecho posible. Arpa
que tiene en vez de cuerdas
corazones y llamas.

Poesia es la vida
que cruzamos con ansia,
esperando al que lleva
sin rumbo nuestra barca."

Federico Garcia Lorca, in Divan del Tamarit

quarta-feira, 4 de abril de 2012

AQUARELAS

Cláudia Simões, aquarelista premiada, com exposições pelo mundo todo, irá fazer as aquarelas do meu livro de poemas que a Ed. Rovelle irá publicar. É uma experiência nova, faremos , ano que vem provavelmente, uma exposição com o lançamento do livro numa galeria de arte em São Paulo e ela venderá as aquarelas do livro. Os poemas são muito sensuais e estou curiosa para ver o resultado.

Dia 9 irei almoçar com as minhas editoras Bia Hetzel e Silvia Negreiros, que já me enviaram a arte final do DIÁRIO DA MONTANHA que sairá pela Manati no final de abril ou maio. O livro está belíssimo, fiquei muito impactada com seu visual. Faremos um lançamento no atelier da minha irmã Evelyn Kligerman e Luis Mérigo em Visconde de Mauá. Quem comprar o livro levará uma cerâmica de presente. Queria um violinista tocando, mas o meu violinista não vai poder, assim que se alguém puder me indicar um, eu agradeço . O Babel Restaurante fará o coquetel. Será no dia 2 de julho, ainda falta muito, mas eu já deixo o seu desenho no ar.

Em maio iremos para Veneza passando por Madrid para ver alguns amigos. Ficaremos 10 dias na bela cidade , mergulharei os olhos em tanta beleza que preciso preparar meu coração. Juan ama Veneza , é a sua cidade escolhida entre todas as cidades do mundo e ele quer comemorar aí o seu aniversário. É um menino que fará 80 anos. Uma vez, Felipe González lhe ofereceu o cargo de Cônsul Honorário de Veneza, mas infelizmente ele não aceitou por motivos de trabalho. Veneza é uma aquarela viva.

terça-feira, 3 de abril de 2012

DA MONTANHA PARA O MAR

Da montanha para o mar o caminho é longo e não se conta apenas em horas, minutos, segundos. É um longo caminho dentro de mim. Porque quando estou na minha casinha do bosque, em Visconde de Mauá, não sou apenas a mulher de 61 anos que já atravessou tantas chuvas , tanto sol e tanto vento, tantos espelhos quebrados, mas sou todas as mulheres que me habitam, o passado é palpável, vejo meus filhos pequenos, minha poesia ainda em rascunho.
Cheguei em Saquarema e são pilhas de e-mails, contratos, pedidos, fico tonta.Mas pouco a pouco vou colocando tudo no seu lugar. Em Mauá não tenho internet, o celular não funciona na minha casinha. Então quando volto, uma avalanche me espera.
Revi amigos, festejamos o aniversário do meu filho André, li muito, escrevi um conto para o meu livro de contos. Meu lagarto de estimação, o teiú, não apareceu. Os lírios com meu nome floresceram na minha ausência, quando cheguei já não havia mais nenhuma flor. Comprei uma cadeira de balanço austríaca num antiquário em Resende e aqui estou de volta, com o mar fazendo música atrás de mim, Juan escrevendo, as gatas, os jabutis. É muito bom viver.

quinta-feira, 29 de março de 2012

ESTAÇÃO RESENDE

Ontem a aula aqui em Resende na Babel Escola de Culinária do André Murray, meu filho e minha nora Dani Keiko foi linda, aula de risotos: de camarão, bacalhau e pato e bufalo wings (asas de frango assadas com molho de gorgonzola). A sobremesa era um flan de iogurte com molho de frutas vermelhas. Dani fez uma torta de chocolate com crocante de pistache e mousse de chocolate para cantar o parabéns pra você. Éramos 13 pessoas na mesa imensa da bela sala de jantar . A felicidade era geral. O grupo de alunos é variadíssimo: advogados, médicos, psicólogos,engenheiros, etc... Os alunos cozinham sob a batuta do André. O nome da oficina de gastronomia é "Cozinhando para Amigos" e é tudo muito divertido.

Hoje depois do almoço subo para Mauá. Dormirei uma noite no ateliê da minha irmã Evelyn Kligerman, em Maringá. Assim, a minha ida para Mauá é feita em etapas muito divertidas.

quarta-feira, 28 de março de 2012

SOBRE LEITORES

Ontem, quando ia para Saquarema de manhã, encontrei Gil, que é leitora do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela, perguntei se ela viria ao próximo encontro , ela abriu a bolsa e tirou de lá de dentro o livro A Trégua, do Primo Levi, o livro que iremos discutir. Fiquei radiante. Gil é contadora e seu contato com a literatura não foi grande. Mas agora é uma leitora e aproveita todo o tempo livre para ler.
Gil é a prova de que nós podemos nos tornar leitores a qualquer idade.Basta um estímulo, um empurrão.

Hoje, em nosso mundo , nós escritores temos muito contato com nossos leitores. Penso em Tolstói escrevendo Guerra e Paz , uma obra monumental, totalmente a mão, sem a internet para pesquisar e sem o retorno que hoje qualquer escritor tem diariamente com seus leitores. Meus leitores me deixam plena, alerta, o tempo todo motivada para escrever. Hoje recebi uma mensagem de uma leitora de 22 anos que leu um livro meu quando tinha 8 anos e agora, subitamente, precisa dele e não lembra o nome, mas lembrava de um poema e eu pude localizá-lo.Ter este depoimento é um tesouro. Saber que um poema que escrevi viveu durante tantos anos dentro desta pessoa que não conheço é impressionante.

Carregar um livro na bolsa, na mochila, é a garantia de que nenhuma espera será difícil. Hoje vou para Mauá com pernoite em Resende. Mas antes tenho que passar no Aeroporto do Galeão para carimbar a vacina de febre amarela , obrigatória para ir a Bogotá. Não sei quanto tempo ficarei esperando na Rodoviária, mas já antecipo a espera com um café com leite e o maravilhoso livro que estou lendo: "O cérebro que se transforma" de Norman Doidge, que aliás comprei na livraria da Rodoviária numa outra espera.

Não consigo ver alguém ao meu lado lendo um livro sem que eu averigue o título do livro. Fico indócil, ansiosa, uma leitora prestes a dar o bote e só acalmo quando descubro. Se é um autor que amo, sei que entre nós dois eu e o desconhecido ou a desconhecida, existe um elo invisível e isso me dá um grande prazer.

terça-feira, 27 de março de 2012

OS ANJOS

Acredito que cada ser humano é o anjo de alguém. Em muitas situações difíceis da minha vida, alguém apareceu, às vezes do nada, e como um anjo esteve ali, ao meu lado. As figuras dos anjos, entre o humano e o divino, mensageiros de estrelas, são pura poesia:

OS ANJOS

Os anjos,
criaturas de encantamento,
habitam meus pensamentos.
O que podem os anjos,
de mãos azuis,
fazer por nós,
simples humanos?

O que podem,
com seu hálito de estrelas,
o céu nos olhos,
e uma enorme compreensão
para com nossos corações fatigados?

Que um anjo durma
sempre ao meu lado
e faça com seu silêncio
o tecido dos meus sonhos.


in Caminhos da Magia , ed. DCL

segunda-feira, 26 de março de 2012

QUATRO JABUTIS

Tenho quatro jabutis. Eles guardam o jardim. Sou apaixonada por todos(a). Escrevi um belo poema sobre eles e o livro sairá pela Ed.Lê com ilustrações da Regina Rennó.
Fiz sobre eles um haicai :

Belo jabuti
caminha sobre o jardim
não deixa pegadas


Minha irmã Evelyn Kligerman, ceramista, fez 3 placas verticais de barro e uma horizontal com o poema. Faz parte da sua série "Haicais de Barro".

Também sou apaixonada por corujas. Em Mauá tenho muitas. À noite elas guardam a minha casa:

No meio da noite
a coruja canta as horas
acordes de estrelas


E para os gatos:

Nos olhos do gato
mistérios andam de barco
equilibrados no azul


Todos os haicais estão no livro Arabescos no Vento, ed. Prumo.

domingo, 25 de março de 2012

A MÚSICA DAS BALEIAS

Ontem vi um documentário na TV francesa, "Thalassa" , sobre a Oceania. Uma das partes era sobre as baleias jubartes e sua música. Um músico americano toca com as baleias. Um amplificador mergulhado no mar leva para as baleias a sua música e outro amplificador no barco traz a resposta das baleias. Ele improvisa com seu clarinete, elas respondem improvisando também. É tão emocionante, tão impressionante que meu corpo não cabia dentro de mim! Elas não saem de perto do barco, ficam radiantes com a comunicação.
Outro grupo medita junto com as baleias , um grupo composto de filósofos , astrofísicos, artistas, etc, e todos dizem que ao meditar com as baleias (elas estão em volta do barco) , recebem imagens impressionantes e também pensamentos.
Um neurocientista nos mostra um cérebro de baleia e é muito similar ao nosso. Elas estão tão próximas de nós quanto os macacos.
Como subestimamos a inteligência de todos os seres vivos que nos cercam. E quanta arrogância teríamos que engolir junto com nossa saliva. Sobretudo quanto perdemos com esta falta de comunicação entre homem-baleia-homem-elefante-homem-todos-os animais-do-planeta.

sábado, 24 de março de 2012

MAESTRO MOISÉS

A primeira vez que ouvi o coral ESCOLA QUE CANTA fiquei muito impactada. Como em tão pouco tempo um homem sozinho conseguira transformar meninas que nunca cantaram numa orquestra de vozes angelicais? Que milagre era este?
O milagre se chama Moisés, Maestro Moisés, que com sua firmeza e alegria, disciplina e alegria, trouxe à tona vozes maravilhosas, com um repertório lindíssimo e contemporâneo. Como um Moisés bíblico que soube juntar todo um povo rumo à liberdade, o Maestro Moisés, com sua batuta, juntou vidas e sonhos e transformou tudo isso em música verdadeira.
E a verdadeira escola é a que transforma seres humanos, que lhes dá a chance de criar, ousar, voar. Todos sabemos o quanto a música acalma, transforma desesperança em beleza. O Coral ESCOLA QUE CANTA sob a regência do Maestro Moisés trouxe para Saquarema um vendaval novo, e por onde passa não deixa ninguém indiferente.
Que o seu trabalho possa atingir outras escolas e que Saquarema se faça conhecida não só por suas belezas naturais , o surf, o vôlei, mas também por seus corais regidos pelo Maestro Moisés e que seus acordes mágicos se espraiem em todas as direções.

sexta-feira, 23 de março de 2012

FUI E VOLTEI

Fui ao Rio fazer exames e voltei , mas o moinho da vida não pára enquanto o ônibus vai devorando a paisagem e me deposita numa Rodoviária cheia de gente, humanos em sua colméia, gente que parte, gente que chega. Eu e Mariana, minha leitora que veio de São Paulo para passar uns dias aqui, nos sentamos num café depois que ela compra a sua passagem. Ela me entrega uma carta. Uma carta linda onde me diz o quanto estava precisando deste silêncio de Saquarema, da música do mar, desta casa tão calma. Mariana sofreu uma grande desilusão e veio se recuperar. Ela me entregou sua carta belíssima e partimos, cada uma para o seu lado.
Fui visitar minha Tia Cecília, que já não se lembra de nada com seus 92 anos , já não sai da cama, mas todo o tempo em que estive com ela, sorriu para mim. Ela sempre cuidou de mim e fui me despedir, pois ela tem uma doença terminal.
Depois dos exames fui dormir na casa de uma grande amiga da minha juventude. E o bom dos amigos verdadeiros é que sempre parece de que nos vimos ontem, embora às vezes anos tenham se passado.
Enquanto isso meu novo livro de poesia para criança encontra o seu editor. Acho que é um dos meus melhores trabalhos.
Na Rodoviária, enquanto esperava o horário de partir comprei o livro "O Cérebro que se transforma" de Norman Doidge, psiquiatra, psicanalista e pesquisador em renomados Centros de Pesquisa de Neurociência. É um tema que me alucina. Leio muito sobre o assunto.A plasticidade da nossa mente é uma descoberta muito recente e abre infinitas portas. Podemos mudar a nossa mente com simples pensamentos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

UM PROGRAMA ESPECIAL

A TV Novo Tempo veio aqui em casa semana passada para gravar algumas cenas para um programa sobre poesia que foi ao ar ontem. Logo depois de uma discussão sobre se os anjos tiveram relações sexuais com os humanos, já que a TV é evangélica e seus programas são , imagino, quase todos sobre a Bíblia, o programa entrou no ar. estive ao lado do Ferreira Gullar ( que honra!!!) e Eucanaã Ferraz e de outros maravilhosos poetas. O programa ficou belíssimo, me surpreendeu muito, parecia que havia sido tudo combinado, uma fala de um poeta completava a do outro. E cenas da natureza exuberante de Saquarema .O programa será reprisado hoje ao meio dia. É uma bela discussão sobre o que é poesia.

Silvane, da E.M. Hermann Mïller me pede um texto para ser lido na festa que a escola fará , sábado, eu acho. Escrever para a E.M.Hermann Müller, a escola dos meus sonhos, é fácil!

E hoje vou ao Rio complementar meus exames. mas como sigo a minha cartilha de transformar qualquer coisa difícil e chata em algo prazeiroso, vou dormir na casa de uma grande amiga da minha juventude, assim colocamos alguns anos em algumas palavras, em dia.

terça-feira, 20 de março de 2012

UMA ESCOLA JUDAICA

Na Segunda Guerra a França entregou os seus judeus sob o regime colaboracionista de Vichy. A França pediu perdão. Mas ontem o passado , como uma onda gigantesca de horror, envolveu a França, pois numa escola judaica de Toulouse um homem entrou atirando no que foi interpretado como um ato neonazista e antissemita. Crianças morreram. O que preocupa e muito é a ideologia neonazista, a ideologia de extrema direita que está varrendo a Europa e que leva um homem a entrar numa escola para matar crianças judias. O ódio aos imigrantes, a falta de tolerância, o nacionalismo, estes velhos conhecidos estão de volta. Nestes últimos 60 anos a Europa conheceu seu mais longo período de paz e uma paz relativa, pois tivemos a guerra dos Balcãs. Gostaria de pensar que o horror de Toulouse foi um ato insano de um homem só. Mas depois da chacina na Noruega onde seu autor escreveu um manifesto terrível de extrema direita é difícil acreditar que não exista uma forte ideologia por trás.
O que somos nós, seres humanos? O que é isso?

segunda-feira, 19 de março de 2012

MEMÓRIA

De toda a obra do Drummond sou apaixonada pelo BOITEMPO. Leio e releio os poemas e é como se entrasse numa casa que me acolhe, pois sou apaixonada por vestígios do passado, pela memória que já existe em todas as coisas enquanto elas vão acontecendo.

CANTO DE SOMBRA

O canto de sombra e umidade no quintal.
Do muro de pedra escorre o fio d'água,
manso,no verde limoso, eternamente.
Uma gota e outra gota, no silêncio
onde só as formigas trabalham
e dorme um gato e dorme o futuro das coisas
que doerão em mim, desprevenido.
Crescem rasteiras, plantas sem pretensão
de utilidade ou beleza.
Tudo simples. Anônimo.
O sol é um ouro breve. A paz existe
na lata abandonada de conserva
e no mundo.

Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo III, ed. José Olympio.


Também os livros que lemos quando jovens guardam a memória do tempo em que os lemos.
Releio o livro "História de Pobres Amantes" de Vasco Pratolini e me encontro não só com os personagens que dormiram intactos dentro de mim por todo este tempo, digamos 30 anos, mas me reencontro com a jovem que fui, por alguns momentos sou ela outra vez.

domingo, 18 de março de 2012

FELICIDADE

Hoje Martha Medeiros escreve um artigo no O Globo sobre a felicidade. Somos um dos povos mais felizes do mundo e ela nos diz que mais valeria sermos menos felizes e reagirmos mais.
Penso que a felicidade não depende de nenhum fator externo. É uma água limpa que nasce dentro de nosso ser mais profundo. E posso estar feliz apenas por estar viva. Apenas porque este dia me pertence, este domingo, porque posso ver o céu e os pássaros, posso ler um belíssimo poema do Borges:

LA LUNA
Hay tanta soledad en ese oro.
La luna de las noches no es la luna
que vio el primer Adán. Los largos siglos
de la vigilia humana la han colmado
de antiguo llanto. Mírala. Es tu espejo.

Estou feliz embora sinta todas as dores do mundo, as mortes injustas, os assassinatos , a devastação das florestas , a violência da sociedade de consumo, apesar da minha impotência frente ao horror de todas estas questões, a felicidade por estar viva e amar me percorre, inunda meu sangue.

sábado, 17 de março de 2012

NOTÍCIAS DE UMA ESCOLA DOS SONHOS

Recebo uma carta linda da Silvane, diretora da E.M Hermann Müller, escola rural de Joinville, a escola dos sonhos de qualquer artista e educador. Ela ganhou uma extensão para que pudesse continuar até a nona série. Era uma escola pertinho da Hermann Müller, mas bastante abandonada e com poucos alunos. Silvane e a comunidade estão em pleno trabalho de transformação e hoje é o grande dia!

"Linda Roseana!
Amanhã será o primeiro Sábado Feliz na Hermann Müller-Extensão!

Pais, alunos, professores, amigos da escola e voluntários da Embraco
estarão se encontrando para fazer acontecer o sonho de uma escola
melhor!

E os preparativos já me encantam...durante todo o dia, chegaram vasos,
terra, materiais de construção; grama e os mais lindos
hemerocállis-doação do Sr Dário que trouxe tudo pessoalmete de
caminhão (conversamos muito e nos emocionamos lembrando do encontro
que tivemos contigo em novembro!).
Amanhã passamos o dia todo por lá, no almoço, Célia, nossa merendeira
querida, fará um delicioso aipim com frango!
A escola está ficando incrivelmente linda, colorida..."com outros ares"...
Os pais das crianças da Hermann-séries iniciais. também se farão
presentes...estarão preparando a escola onde seus filhos irão estudar
daqui há três,quatro anos...
Abriremos a manhã com um alongamento...todos juntos e então declamo "A
Escola" de Paulo Freire, que te envio em anexo...pois assim estaremos
conectadas pela mesma emoção, pois sei que quando se fala ESCOLA,
somos nutridas do mesmo sentimento.
Beijos com muita saudade!"

Silvane e toda comunidade escolar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

GRANADA - RESENDE

Meu filho Guga Murray, músico, vive desde 2004 em Granada, na Espanha. Agora a situação na Europa está bastante difícil e Guga volta para o Brasil com a família. Vai abrir uma Escola de Música em Resende, no casarão onde funciona a Escola de Culinária Babel, do meu filho André Murray e Dani Keiko. Patrícia , minha nora, vai montar espetáculos em espanhol com alunos de espanhol, ela sempre fez teatro, é atriz e poeta.Então, no casarão haverá gastronomia, música e teatro.Quando compramos o casarão de 400m, a minha primeira idéia era esta, uma mistura de várias artes no mesmo espaço. A casa é lindíssima, e por incrível que pareça, tem um pátio andaluz na sala!!!Como se um pedaço de Granada tivesse sido transplantado .Com fonte e tudo! Resende se tornou uma cidade bem interessante, é meio rural, todos se conhecem, tem um ar de antigamente...E tem uma vista imperdível das montanhas, das Agulhas Negras e está muito perto de Mauá, agora que a estrada está asfaltada.
Ter o meu neto tão perto me enche de uma alegria selvagem, é quase um grito. Agora ele , com seus dois anos e meio ande ocupadíssimo, é o que ele me diz pelo skype, quando o Guga pergunta:
- Luis, quer falar com a vovó?
- Não, estou ocupadísimo!!!
_

quinta-feira, 15 de março de 2012

HUMANOS

Leio que na China foram encontrados fósseis de um outro tipo de humano. Mais um. Eles viveram há 11.500 anos atrás. Logo, podem ter convivido com a nossa raça. Como os neanderthais. Por que todos eles desapareceram, todas as outras espécies? O que aconteceu? E só nós ficamos para contar a história... Seriam eles muito menos violentos e predadores e portanto foram exterminados ? Estaríamos frente a uma espécie mais gentil, mais delicada? Como seria a mente dos "outros" humanos?

quarta-feira, 14 de março de 2012

MARIANA

Mariana é minha leitora. Ela veio ao Clube de Leitura ano passado , foi o presente que ela pediu aos pais: me conhecer. Agora voltou para passar uma semana. Ela tem 23 anos e é dançarina. É minha leitora desde os 7 anos e é apaixonada por todos os meus livros. Sei pouquíssimo dela. É alegre, solidária, disponível, silenciosa. Eu perguntei: _ Mariana, qual a graça de estar numa casa tão silenciosa, onde nada acontece, apenas o mar, o jardim, as gatas e duas pessoas escrevendo e lendo o tempo todo? Ela respondeu: _ Eu gosto!

Hoje cedinho na varanda, no meu café da manhã, mergulhei profundamente nas plantas. É uma experiência maravilhosa. Sinto meu corpo se desmanchando. Na frente da mesa grande da varanda havia um muro bem problemático, não sabíamos o que fazer com ele. Nenhuma trepadeira dava certo. Então eu tive uma das minhas melhores idéias: Pintamos o muro de cerâmica, quase cor de terra e fizemos um jardim andaluz. Cobrimos o muro de vasinhos e há uma alegria que jorra do muro. Abaixo uma pequena horta de temperos.

Uma gaivota acaba de cruzar a minha janela com seu magnífico voo.

terça-feira, 13 de março de 2012

CHUVA

Ontem choveu em Saquarema, depois de quase 40 dias sem chuva. Foi uma grande emoção.
Viemos morar em Saquarema por acaso, já que as melhores coisas acontecem por acaso. Desde 2002 vivemos aqui, quase dentro do mar e nossa vida adquiriu o movimento das águas. Em Saquarema tenho a chave do tempo, às vezes paro tudo e desembarco do mundo, ouço apenas o barulho do mar, o relógio da sala, o sangue que corre junto com a poesia em minhas veias.

CORPO-MAR

Todos os rios, fios de água,
pingos, chuvarada, poços,
mananciais, nascentes,
cachoeiras, deságuam
em meu corpo miúdo,
meu corpo-mar.
Eu, tão terrestre e,
no entanto, navegante
das ondas mais altas.
Do cimo das espumas
grito palavras
embrulhadas em água:
palavras úmidas,
abafadas, quase um eco.


in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva

segunda-feira, 12 de março de 2012

MARIA-FUMAÇA CHEIA DE GRAÇA

Recebi a terceira edição do pequeno livro Maria-Fumaça da ed. Larousse. As ilustrações do Demóstenes com recortes de pano são maravilhosas e escrevi o poema a pedido dele. Foi uma encomenda. Como sou apaixonada por trens simplesmente fechei os olhos e mergulhei.

" Gente do passado e gente do futuro,
venham todos que o trem vai partir
correndo, bem devagar, e logo, logo
a gente vai chegar na lua lilás
de todos os sonhos, onde moram
dançarinas e palhaços,
onde só se chega de trem...
onde só se chega de Maria-Fumaça."


in Maria-Fumaça Cheia de Graça, ed. Larousse Júnior

Terminei de reler A TRÉGUA do Primo Levi para o próximo encontro do nosso Clube de Leitura dia 26 de maio e foram muitas viagens de trem ,terríveis e loucas. O livro é imperdível. A gente chora e ri e se assombra a cada página do trem.

domingo, 11 de março de 2012

GRAVAÇÃO E BOGOTÁ

Hoje veio uma jornalista fazer uma entrevista para a TV Novo Tempo. O tema era poesia. Por uma feliz coincidência, Mariana, minha leitora de São Paulo estava aqui. É a segunda vez que vem me visitar e participou do programa, deu um depoimento belíssimo. Juan, meu marido , contou o nosso encontro e de como se apaixonou pela minha poesia antes de se apaixonar por mim.

A F.N.L.I.J me convidou para a Feira de Livro de Bogotá e aceitei. Juan me diz que se tudo der certo e eu for mesmo, não posso deixar de conhecer Cartagena.

Hoje faz frio, o dia está como gosto neste final de tarde. Há uma certa melancolia no ar.