Vivemos para contar histórias, vivemos para viver histórias e nossa vida é uma história que vamos construindo, junto com o destino, o acaso e nossas escolhas. Lá no final, ao olhar para trás temos que ter uma bela história da nossa vida para relembrar e deixar como herança para filhos e netos e eles também, por sua vez...Era uma vez.
Ontem, na coluna Conte Algo Que Não Sei, do jornal O Globo, fala o contador de histórias Mohamed M.Hammú.
Ele nasceu no Marrocos em 1966 e é narrador profissional.Já antes disso ele se dedicava a recuperar as histórias da tradição berbere. Ele diz: "Nas noites de lua cheia, as mulheres deixavam tudo ordenado em casa para ter tempo de narrar contos passados por outras mulheres no mesmo lugar de sempre, os pátios das casas".
Faço uma pausa e entrelaço a história do livro Amrik de Ana Miranda, quando a avó ensina para a neta as danças rituais em cima do telhado, provavelmente em noites de lua cheia. A memória sendo passada como algo muito precioso.
Há um rito para começar. Ele diz: "Quando se inicia o rito, todos se calam sentados sobre preciosos tapetes com almofadas e começam histórias sobre o deserto e seus enigmas, o surrealismo que há nos seres. Escutar e ler histórias berberes é um presente: poucas foram escritas, mas sobrevivem na memória das narradoras.".
Ele conta as histórias que lhe foram narradas pelas mulheres berberes.Ele diz que contar e ouvir histórias era coisa de mulheres. Mas ele amava e ouviu e guardou e agora narra as histórias que estão dentro do seu baú da memória. Ele diz que as histórias são mensagens que duram milênios.
Ele nos diz que para os berberes não há fronteiras. Eles são nômades.
Ouvi poucas histórias dos meus pais. Mas a minha babá Eunice me contava histórias do folclore. E minha avó Faiga me contava histórias da Bíblia. Caminhei muito pelo deserto junto com aquele povo que andava para lá e para cá. Por isso pude escrever os poemas do livro Desertos que fiz para os desenhos do Roger Mello. Não conheço o deserto, mas conheço o deserto. Caminhei muito por ali nas histórias da minha avó, ela lia as histórias da Bíblia para mim. Conheço a Bagdá das Mil e Uma Noites. Amo os camelos e povos nômades do deserto. Amo as caravanas.
Qualquer pessoa conta histórias. Desnecessário fazer cursos, os cursos podem dar alguma técnica, mas há que encontrar o seu próprio caminho. Por onde começar a puxar o fio. Como prender os ouvintes?
Que nossa vida seja a mais bela história do nosso repertório.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário